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Ele foi aprovado em 1º lugar no vestibular mais difícil do país

Apesar de encabeçar a lista de aprovados do ITA, tradicional vestibular de exatas, o que o estudante realmente recomenda é treinar interpretação

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 11 jan 2024, 18h16 - Publicado em 9 jan 2024, 17h09
Estudante Eduardo Camargo
 (Arquivo Pessoal/Reprodução)
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Na manhã do dia 19 de dezembro de 2023, Eduardo Henrique Camargo de Toledo acordou com seu celular tocando. Quando atendeu a ligação em vídeo, ainda meio zonzo, viu Anderson Ribeiro Correia, reitor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), do outro lado da tela. “Só no meio da ligação fui acordando e foi caindo a ficha”, relembra. Eduardo soube pelo reitor do instituto que havia passado em primeiro lugar geral no vestibular, considerado o mais difícil do país.

Passado o choque, o estudante de 19 anos pôde finalmente comemorar a aprovação que buscava há tanto tempo – e que no ano anterior havia escapado, por muito pouco, entre seus dedos. Agora ele aguarda para começar as aulas na melhor instituição de Engenharia do país em março.

Ao GUIA DO ESTUDANTE, Eduardo de Toledo contou como foram seus anos de preparação, e falou do impacto da leitura e escrita na sua trajetória – ainda que tenha prestado o mais tradicional de todos os vestibulares de exatas.

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Vida de medalhista

Essa não é a primeira vez que o jovem de Valinhos, interior de São Paulo, vira notícia. Em 2020, o GUIA DO ESTUDANTE já havia conversado com Eduardo por uma outra conquista. Aos 16 anos, ele recebeu a medalha de ouro na Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica, a OLAA.

“Observar o universo é uma forma de observarmos a nós mesmos”, ele disse na época. De lá para cá, a paixão pelo universo e pela astronomia se manteve, mas nem toda herança da fase de medalhista olímpico foi uma vantagem na hora de perseguir o próximo sonho: ingressar no ITA.

A preparação para a competição, é claro, serviu de base para os estudos – afinal, tinha como foco as disciplinas que também são cobradas no processo seletivo do  ITA, como Matemática e Física. Além disso, as olimpíadas do conhecimento incitam nos competidores um “pensamento científico”, como descreve o estudante, que também foi útil quando se preparou para o vestibular. Mas as coincidências provavelmente param por aí.

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Eduardo em frente à sua mesa, com o computador aberto, estudando para uma das etapas da OLAA.
Eduardo teve uma rotina intensa de preparação para as Olimpíadas (Eduardo Toledo/Reprodução)

“Um desafio muito grande foi entender que não era só por ter ganhado a olimpíada que eu seria aprovado no ITA”, contou Eduardo ao GUIA, agora em 2024. No início, ele pensava que por ter anos de estudos em exatas acumulados, a aprovação seria quase uma consequência. Mas não foi. “A verdade é que se eu não tivesse uma preparação muito mais focada no vestibular do ITA em si, realmente não passaria tão cedo. Como não passei”.

Ao todo, Eduardo estudou por dois anos no cursinho Poliedro após a conclusão do Ensino Médio até finalmente ter seu nome na lista de aprovados – com o “bônus”, é claro, de encabeçar a lista. Ainda assim, é categórico ao aconselhar estudantes que querem passar no vestibular, conhecido pelo foco quase exclusivo nas disciplinas de exatas e alto grau de dificuldade das questões. “Primeiro de tudo, saiba que você quer prestar especificamente o vestibular do ITA e se prepare para isso”.

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Na trave

No final de 2022, Eduardo passou muito perto de ver seu nome na lista de aprovados do ITA. Até porque ele tinha tudo para estar lá: pela soma da pontuação nas provas, havia alcançado a 17ª colocação entre os 150 candidatos aprovados. Mas um detalhe o deixou de fora.

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Segundo o edital do vestibular, além de alcançar uma nota total que garanta a classificação, todos os candidatos precisam, necessariamente, ter uma pontuação mínima por disciplina para serem aprovados. Ou seja, de nada adianta alcançar notas altíssimas em Matemática e Física, se não cumprir a pontuação mínima em redação. Foi exatamente isso que aconteceu com o estudante do interior de São Paulo.

Naquela edição, Eduardo acabou tangenciando o tema da redação, que pedia uma reflexão sobre inteligência artificial abordando os tópicos “tecnofilia” e “riscos”. Com isso, lá se ia mais um ano de cursinho.

O ano da aprovação

Apesar da imprevisibilidade do vestibular, no início de 2023 o estudante sabia que tinha boas chances de aprovação no final daquele ano com o conhecimento acumulado em exatas. Então, era hora de focar em seu calcanhar de Aquiles.

Eduardo começou a se dedicar com afinco à escrita e, especialmente, à leitura e estratégia textual. Percebeu que essas habilidades, inclusive, eram úteis não apenas para evitar que tangenciasse o tema da redação, mas também para resolver as questões nas provas de exatas.

“Depois de três anos de cursinho já não tem mais conteúdo novo, é um ou outro detalhe que você não entendeu”, reflete. “Se você não souber o detalhe de uma questão, você perdeu uma questão, não o vestibular inteiro”. Já se o candidato não souber interpretar o que pedem os enunciados, completa, a prova toda está em risco.

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Eduardo conta que desenvolveu uma estratégia interpretativa que consistia, basicamente, em ler atentamente tudo até compreender o que estava sendo solicitado. Lia e relia cada questão quantas vezes fosse necessário, eventualmente grifando e fazendo até uma análise sintática para entender quem era o objeto direto ou sujeito da frase, por exemplo. Em alguns casos, fazia um pequeno resumo linha a linha.

Também passou a escrever mais redações, sempre refazendo os próprios textos para melhorar os pontos fracos. Tudo isso, aliado às revisões e listas de exercícios dos conteúdos que já havia estudado, foram a receita do sucesso.

Quando finalmente chegou o vestibular, Eduardo estava preparado.

O maior fã de Byung-Chul Han

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Filósofo sul-coreano Byung-Chul Han (Editora Vozes/Divulgação)

“Um autor que fala bem sobre qualquer tema”. É assim que Eduardo resume Byung-Chul Han, filósofo famoso pelo livro “Sociedade do Cansaço”, em que trata do trabalho e desempenho na sociedade contemporânea. Mas o pensador sul-coreano vai muito além de seu livro mais popular.

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“Ele analisa o burnout, trabalho moderno, a visão de empreendedor de si mesmo, mas também analisa internet, Big Data, como as redes sociais afetam nossa política e forma de convivência”, resume o estudante, que tomou o pensador como seu guru durante a preparação para os vestibulares.

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Além da versatilidade por tratar de tantos assuntos, um outro ponto positivo da obra de Chul Han para os vestibulandos é a linguagem objetiva e acessível – além dos livros curtos, que são sempre uma boa pedida em anos cheios de outros conteúdos. É por tudo isso que Eduardo classifica Byung-Chul Han como um “repertório coringa” para os vestibulares – ou seja, um escritor que pode ser citado em qualquer tema de redação para embasar o argumento do candidato.

É claro que assim como o filósofo caiu nas graças do aprovado do ITA, também é citado por um mar de outros vestibulandos. O segredo para se diferenciar, nestes casos, é citar com propriedade –  lendo os livros do pensador ou um bom resumo sobre ele, de forma que consiga verdadeiramente compreender suas ideias.

“Se você coloca uma citação bem feita do autor, com um bom encadeamento, pesa muito no texto. Se diferencia do candidato que vai fazer uma citação superficial e mostrar que não tem muito conhecimento”, conclui.

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Seja seu próprio corretor

Existe um clássico exercício de escrita recomendado por professores de redação. O estudante deve redigir seu texto pensando no corretor que vai lê-lo – ou seja, precisa atender exatamente ao que foi solicitado, contextualizar bem as ideias e o raciocínio. Pensar como um corretor de redação pensaria.

É o mesmo que Eduardo recomenda para a prova toda do vestibular, mesmo tratando-se de questões de exatas. Durante seus anos de estudo, o jovem desenvolveu o hábito de elaborar ele mesmo algumas questões e pensar em caminhos de resolução, de forma que pudesse compreender melhor o que um corretor – ou a banca do vestibular – espera de um candidato.

O exercício ficou mais real quando ele virou voluntário na organização da OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia), e passou a contribuir com o processo seletivo. Agora, ele estava realmente do outro lado da mesa e conseguia compreender qual raciocínio as questões buscavam extrair dos candidatos.

“Saber como o corretor cria uma questão, como ele imagina que você vai resolver, não é um conhecimento a ser descartado”, recomenda. 

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