Na edição de 2024, o vestibular da Unicamp confirmou que a universidade não busca apenas os alunos que mais decoram fórmulas ou treinam redação. Ela também quer candidatos com pensamento crítico e criatividade. O GUIA DO ESTUDANTE ouviu professores do Curso Anglo, do Oficina do Estudante e da Plataforma SAS que foram unânimes ao avaliar a segunda fase da Unicamp 2024 como uma prova bem escrita, fiel à tradição da banca e surpreendentemente criativa, sobretudo no primeiro dia. O último, ficou mais marcado pelo grau de dificuldade das questões.
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Uma única questão da prova é capaz de sintetizar todas essas características – e não é à toa que foi destacada por todos os cursinhos. Parte do caderno do primeiro dia, a questão de número cinco trazia um desafio proposto nas redes sociais denominado “Festival Miojo Literário”. Ele propunha que internautas criassem releituras de poetas famosos, mas que a temática central fosse o ato de comer um miojo.
O desafio já é bastante inventivo por si só, concorda? A Unicamp foi além. No item B da questão, pedia que os candidatos embarcassem no desafio e criassem um diálogo no universo de Alice no País das Maravilhas, tendo como personagens o Chapeleiro Maluco e o Coelho Branco.
“Não é só ler e interpretar a obra, mas é sentir e viver a obra a ponto de recriá-la de uma outra ótica”, avalia o coordenador de Ensino e Inovação da Plataforma SAS, Vinicius Beltrão.
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Para além das questões de Literatura, a prova foi vista pelos professores como muito bem contextualizada e dialógica – as disciplinas, os gêneros textuais e até os diferentes pontos de vista sobre as temáticas dialogavam entre si. Para Sérgio Paganim, diretor do Curso Anglo, as propostas de redação deste ano também foram um destaque positivo, uma vez que não exigiam do candidato um grande conhecimento prévio. “Prova ofereceu subsídio para que o tema fosse pensado e escrito na hora”, afirma.
Confira abaixo a análise detalhada de cada um dos dias de prova:
Primeiro dia
Todas as disciplinas do primeiro dia da Unicamp 2024 seguiram um percurso comum para a banca: usar temas sociais em voga para aplicar assuntos do Ensino Médio. As questões de Língua Portuguesa foram um bom exemplo disso. A primeira delas tinha como temática a linguagem neutra, assunto alvo de disputa nos últimos anos. Foram apresentados dois textos aos candidatos debatendo o assunto, e as questões exigiam, além de uma capacidade de interpretação, conhecimento das marcas linguísticas.
A segunda questão, que tinha como pano de fundo os povos indígenas, também exigia conhecimentos de marcas gramaticais e tipos de discurso.
Já a prova de Literatura, como mencionado, chamou a atenção pela criatividade e inovação ao cobrar as obras obrigatórias. Além da questão sobre Alice no País das Maravilhas, um outro destaque é a pergunta que trazia um trecho de entrevista com a autora Paulina Chiziane, que integra a lista de obras obrigatórias com o livro “Niketche, uma história da Poligamia”.
A prova de Inglês ficou marcada pela interdisciplinariedade. Uma das questões relacionava-se com Sociologia, ao trazer um texto do pensador Byung-Chul Han, e outra estabelecia contato com Química, ao problematizar o uso do ChatGPT no ensino da disciplina.
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As disciplinas de Ciências da Natureza também apareceram de forma interdisciplinar em outras questões: uma pedia que o candidato unisse conceitos da Física e Biologia para explicar os danos dos microplásticos, e outra tinha como contexto o uso de um relógio capaz de monitorar batimentos cardíacos. O estudante deveria fazer a leitura de um gráfico e demonstrar conhecimento da fisiologia humana.
Segundo dia
De maneira geral, o último dia da segunda fase não foi fácil para os candidatos de nenhuma área. Professores avaliaram a maioria das disciplinas como exigente, de nível médio para difícil, por pedirem conhecimentos prévios dos conteúdos, além de uma rigorosa interpretação,
Em História, as questões foram trabalhosas e requeriam uma reflexão antes de serem respondidas. Apesar do vínculo com temas atuais e de certa forma previsíveis, como racismo, povos indígenas e direitos das mulheres, o candidato precisava ter uma bagagem prévia de conteúdos programáticos.
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A prova de Geografia também foi exigente, além de surpreender pela abrangência. Foram cobrados temas de atualidades e da geopolítica, como o conflito no Sudão e a expansão do BRICS. Em Geografia Física, assuntos como climatologia, relevo e fluxo demográfico.
Para encerrar as disciplinas de humanidades, as provas de Sociologia e Filosofia foram mais brandas, sendo que a primeira apareceu sobretudo de maneira interdisciplinar com outras matérias e a segunda contou apenas com uma questão de ordem mais interpretativa.
A prova de Biologia surpreendeu pelo grau de dificuldade. As questões exigiam a análise de gráfico e outras informações e mobilizavam conhecimentos de bioquímica, biologia molecular e biotecnologia. De acordo com professores, foi uma prova que exigia a memorização prévia de conteúdos.
Em Física, os candidatos encontraram questões que abordavam contextos muito concretos, uma marca da Unicamp. Mas nem por isso a prova pode ser considerada fácil – exigia, como nas outras disciplinas, repertório acumulado nos estudos. Entre os temas cobrados estão física moderna, cálculo de capacitância, trabalho, lei Hooke e dinâmica impulsiva.
Matemática foi a disciplina com mais contraste entre as provas de cada área do conhecimento. A voltada aos estudantes de exatas era evidentemente a mais difícil, com a cobrança de temas como teoria dos conjuntos e análise de inequações. As questões para os cursos de biológicas eram as mais contextualizadas, mas ainda assim cobravam uma grande variedade de conteúdos da matemática como estatística, função inversa, geometria espacial e plana. Para encerrar, a prova de Matemática para os cursos de humanas foi a mais tranquila, e exigia a aplicação das fórmulas básicas da disciplina.
Por fim, Química revelou-se a prova mais moderna deste segundo dia, com uma riqueza de textos, gráficos e imagens que não eram meramente ilustrativos. Uma prova conectada aos grandes temas atuais cujo grande fio condutor foram os problemas ambientais.
Colaboraram
Curso Anglo: Sérgio Paganim, diretor
SAS Plataforma de Educação: Vinicius Beltrão, Coordenador de Ensino e Inovação; Ademar Celedônio, Diretor de Ensino e Inovação.
Oficina do Estudante: Danieli Ferreira, professora de Redação; André Barbosa, professor de Literatura; Liliane Negrão, professora de Gramática e Interpretação de Texto; Silvio Sawaya, professor de Humanidades; Silvio Sawaya, professor de Humanidades; Daniel Simões, professor de Geografia; Felipe Melo, professor de História; Márcio Pantoja, professor de Inglês; Pietro Escobar, professor de Química; Fabricio Bisetto, professor de Química; Marcelo Bredariol, professor de Física; Rodrigo Serra, professor de Matemática; Giuliano Perina, professor de Física; Fábio Vilar, professor de Biologia; André Bourg, professor de Biologia; Wander Azanha, diretor pedagógico.
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