Diferente dos outros principais vestibulares, a Comvest, responsável pela prova da Unicamp, não tem como padrão o texto dissertativo convencional. Tradicionalmente, são cobrados tipos de texto em que o candidato consiga relacionar de uma forma mais próxima seu cotidiano. Este ano não foi diferente. Uma das propostas de redação da edição de 2022 pedia que o estudante escrevesse um post de redes sociais, o famoso “textão”, como se fosse um influenciador digital. A outra opção era um manifesto sobre o corte de verbas na ciência e tecnologia.
Menores e a exposição digital
Na primeira proposta, o candidato deveria abordar sobre a superexposição de crianças e adolescentes na internet. Camilla Germano, 19 anos, candidata do curso de Análise de Sistemas, optou por escrever um post de redes sociais. “Eu já estava esperando algo no estilo manifesto, mas me surpreendeu o estilo do post. É bem atual da parte da Unicamp, que tem esse diferencial na redação”, observou a estudante.
A Unicamp pedia que o candidato se colocasse no lugar de um(a) jovem de 15 anos que possui redes sociais desde muito cedo. Mas que, há pouco tempo, seu número de seguidores explodiu e acabou se tornando um influenciador digital. A banca, então, propunha que o estudante escrevesse um post nas redes sociais, contando essa trajetória e problematizando o trabalho de crianças e adolescentes na internet.
A coletânea tratou sobre o cyberbullying, que é o bullying realizado por meio das tecnologias digitais. Um outro texto discutia do papel dos pais e escolas diante da exposição digital das crianças e adolescentes. Também foi apresentada um trecho de uma matéria do site Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil sobre os youtubers mirins.
A coletânea ainda falou da adolescente A. C, Celebridade brasileira do YouTube que ficou conhecida por seu canal “Vida de Amy”, onde posta desafios, vídeos de brinquedos e vlogs. A jovem ganhou mais de 550.000 inscritos e ainda foi reconhecida como a primeira youtuber surda oralizada do Brasil.
Corte de verbas na ciência
Na segunda proposta, a segunda proposta, o candidato precisava se colocar no lugar de um estudante da própria Unicamp, que teve seu projeto de iniciação científica aprovado, mas não conseguiu o financiamento necessário, em razão do corte de verbas no orçamento destinado à ciência e à pesquisa no Brasil em 2021.
A banca, então, pedia que o candidato escrevesse um manifesto para ser lido na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Segundo as instruções, o texto deveria apontar o corte de verbas destinadas à ciência e à pesquisa no Brasil, denunciar os consequentes prejuízos desses cortes e convocar a comunidade científica para o repúdio a essa política de sucateamento da ciência e da pesquisa em curso no Brasil atual.
Na coletânea, o estudante encontrava um texto sobre a trajetória da bióloga Thabata Cavalcanti dos Santos, 27 anos, que faz mestrado na Universidade Federal do Ceará (UFC) e discutia a fuga de cérebro para trabalhos precarizados. Um outro falava sobre os repetidos cortes orçamentários na pesquisa e como isso ameaça projetos científicos e tecnológicos que estão em andamento.
Análise dos professores
Segundo Sérgio Paganim, diretor pedagógico do Curso Anglo, as duas propostas de redação da Unicamp deste ano estão de acordo com a banca vem cobrando nos últimos anos. São temas polêmicos, atuais e que fazem parte do universo de referências do jovem brasileiro. A proposta do “textão”, por exemplo, era bem familiar para os estudantes, que estão inseridos nas redes sociais. O especialista elogia a coletânea que, segundo ele, é interessante e dá uma boa base para o desenvolvimento do texto.
“Na proposta do post, o candidato precisava narrar a trajetória e as experiências de um influenciador digital, mas, fundamentalmente, ele tinha que se posicionar diante do tema da exposição de um jovem na internet e da transformação dessa exposição em trabalho e da relação com a família”, diz Paganim.
O segundo tema, segundo o especialista, também é polêmico, mas tem um aspecto diferente. “No manifesto era preciso ser explicado o contexto do corte de verbas, os efeitos dele e fazer um repúdio claro ao sucateamento. Ou seja, essa proposta tem um direcionamento mais específico”, diz.
Em resumo, Paganim explica que a Unicamp, mais um ano, trouxe uma prova de redação que dá a opção de um tema mais opinativo, que é o caso do textão, e um outra proposta que está mais ligada à organização de informações que são apresentadas pela banca e que o aluno tem um caminho mais concreto para o texto.
* Esta reportagem está em atualização!
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