Você já deve ter ouvido falar aqui e ali do 5G, cujo primeiro leilão no Brasil aconteceu recentemente. Mas deve ter ainda uma breve noção – não só você, todos nós – da revolução que está para acontecer em diferentes áreas do Brasil e do mundo. Nas comunicações, na logística, nos transportes e na mobilidade urbana. Sim, o assunto que fez o país parar em Junho de 2013 pode viver uma revolução a partir de 2022.
O professor de urbanismo da Escola da Cidade, Pedro Vada, estuda há oito anos as relações entre tecnologias digitais e urbanismo. Segundo o especialista, a tecnologia 5G, dada sua velocidade na troca de dados, pressupõe um aumento da eficiência dos meios de transporte. “Isso é o que está previsto, o que pode acontecer, o que vai acontecer. As grandes montadoras já estão desenvolvendo seus carros sem motoristas. Mas isso para a mobilidade não é tão interessante quanto as montadoras dizem que é”, explica.
Os ganhos, segundo Vada, poderiam se dar na interrelação entre as linhas de transporte. “É possível pensar que o 5G melhoraria a interrelação entre os modais. A questão é que existe uma falta de planejamento, uma falta de vontade política de resolver esse problema de maneira mais organizada.” Em resumo: a exclusão do erro humano trazido pela tecnologia 5G acaba “compensada” pela falha humana da política e da gestão pública das cidades brasileiras.
Outro risco a ser observado, segundo o professor da Escola da Cidade, é que os ganhos trazidos pela nova tecnologia não sejam democratizados. “A tendência é que ela [a tecnologia 5G] venha beneficiar quem já é beneficiado [pela evolução tecnológica]”, disse.
O arquiteto, curador independente e pesquisador Alexandre Benoit, doutor pela FAU-USP, também afirma que a tecnologia abre caminhos, mas, sozinha, não consegue trazer soluções.
“A tecnologia nunca vai ser redentora de nada. Ainda mais num país e numa cidade tão desiguais. Ela pode tender até a uma certa elitização. Vai haver bairros que vão se privilegiar, que vão ter a infraestrutura toda digital, enquanto você tem uma massa excluída. Ele [o 5G] organiza, funciona nos bairros que têm uma infraestrutura já consolidada. A periferia passa ao largo disso. Numa cidade do século 21 você tem que ter o estado pensando na socialização disso. É o desafio das cidades brasileiras. A questão é que isso está em disputa”, afirma Benoit.
Segundo Benoit, as associações de bairros, sobretudo em regiões periféricas, e a população jovem, tem um papel fundamental em fazer com que a evolução proporcionada pelo 5G seja democratizada e cidades como São Paulo possam ter um sistema de transporte público urbano de fato integrado. “Os jovens não querem ficar numa região que não tenha infraestrutura nenhuma.”
Nisso, para o pesquisador, as universidades e sua integração com a sociedade civil e a gestão pública local têm um papel fundamental. “As universidades poderiam ser vetores de pesquisa. Essa questão do 5G vai vir muito como forma de necessidade de consumo. As universidades podem ser um espaço de laboratório, apontar caminhos. Isso é essencial.”
Como o 5G pode modificar a mobilidade urbana:
– controle de velocidade;
– semáforos inteligentes;
– economia de energia;
– redução de congestionamentos;
– veículos autônomos;
– controle do tempo de espera por transporte público;
– acesso à internet em transporte público.