Logo nos primeiros dias, ficou evidente que a temática da edição de número 21 do Big Brother Brasil seria a “cultura do cancelamento”. Em apenas uma semana, o programa já pautou debates intensos sobre a prática de crítica massiva e boicote de alguém que cometeu um ato considerado errado. E nas redes sociais, onde o termo foi criado, é que os cancelamentos dentro do programa e suas consequências têm ganhado repercussão.
Cultura do cancelamento
Desde a primeira conversa entre o grupo, os participantes relataram o medo de falar demais e de desagradar o público – e, consequentemente, serem cancelados. Alguns participantes também manifestaram sua contrariedade à prática do cancelamento nas redes. Mas, dentro do reality, acabaram assumindo o papel de “cancelador”. É o caso da cantora Karol Conká, que excluiu Lucas Penteado do convívio da casa após ele ter causado brigas que incomodaram a maioria. Além das críticas ininterruptas a Lucas, a cantora tem foi acusada de preconceito contra a advogada paraibana Juliette. Conká, que é de Curitiba, diz que recebeu uma boa educação onde foi criada.
A postura da cantora é o assunto do momento na internet brasileira e coloca em questão até que ponto a intolerância não acaba igualando canceladores e cancelados. Será que o linchamento virtual ou a exclusão do convívio real não estão só reproduzindo a lógica de superioridade/inferioridade que se pretende criticar?
Em uma reportagem do GUIA, abordamos o papel das mídias sociais em discussões do tipo e explicamos como nasceu, como se modificou e como opera a cultura do cancelamento. Além de saber mais sobre o assunto, o texto ajuda o estudante a saber como tratar a temática em uma possível redação. Confira aqui.
Transfobia
Outro tema importante que apareceu em poucos dias de jogo foi a transfobia. Após serem maquiados pelas mulheres, alguns dos participantes homens desfilaram e fizeram poses efeminadas. Lumena, então, criticou a “brincadeira”, explicando que, para pessoas trans, poderia representar violência. Nas redes, mulheres trans falaram sobre suas experiências e como a atitude do grupo acabou sendo ofensiva, como mostrou uma reportagem do site Universa.
Ao aprender sobre a história e as experiências do cotidiano das pessoas trans, é possível reconhecer as dificuldades dessa camada da população – e só a partir da visibilidade é que a sociedade começa a se curar do preconceito. Obras de ficção podem também ser uma maneira de conhecer mais essa realidade. O GUIA separou 7 séries com tramas relacionadas à luta trans, acesse a lista aqui.
Além desses temas que foram gritantes na primeira semana do programa, os reality shows dão margem a mais aspectos sociais que podem ser discutidos a partir da dinâmica do programa. A coordenadora de Redação do Curso Poliedro de São Paulo, Gabrielle Zanardi, elencou alguns pontos interessantes a serem pensados – e até serem citados em redações dos vestibulares.
Sociedade de aparências
Os reality shows acabam trazendo uma ideia de exibicionismo. O participante que entra no programa sabe que está sujeito a julgamentos do público e quer agradar. Dessa forma, é comum tentar construir o seu personagem da melhor forma possível. “Tudo que ele tiver de bom para mostrar, vai elevar à milésima potência. Quem tem um corpo muito bonito vai tentar ficar exibindo esse corpo buscando ter uma recompensa por isso”, explica Gabrielle.
Por outro lado, o confinamento acaba causando uma pressão que faz com que sentimentos e comportamentos dos participantes comecem a aflorar sem nenhum filtro, explorando, muitas vezes, até o que eles têm de mais íntimo. Segundo Gabrielle, por isso, conforme o tempo vai passando, muitos participantes vão se descaracterizando ou se transformando. “Justamente porque vivemos em uma sociedade de aparências, o programa é um retrato muito fiel disso: as aparências não se mantêm a longo prazo”.
Relações superficiais e idealizadas
Relacionada também às aparências, outro ponto que pode observar são as relações superficiais que são construídas durante o jogo. Gabrielle alerta que essa ideia acaba sendo perigosa: “Cria-se o monstro e o príncipe encantado. E todos esses estereótipos passam a se relacionar de um jeito superficial”. Aliás, atribuir um papel único, imutável a alguém – especialmente o de vilão – só aumenta as chances de acontecer a cultura do cancelamento. Assumir que todos têm erros, aspectos bons e ruins dificulta um julgamento sumário.
Ensimesmamento
Gabrielle fala que o ensimesmamento, a ideia do indivíduo pensando em si em detrimento do coletivo, é um conceito bacana de abordar em diversas propostas de redação. No reality show, esse individualismo fica bem evidente, uma vez que os participantes são forçados a buscar sua própria sobrevivência. “É um bom exemplo da sociedade em geral: no mundo real, quando a gente é colocado à prova, em uma situação de emergência, existe uma tendência de buscar primeiro o próprio bem-estar e depois, se der, o do coletivo”, explica a especialista.
Controle
O “Grande Irmão”, do livro 1984, de George Orwell, que inspirou o nome do reality transmitido pela Globo, é o líder máximo que exerce o controle. No programa, a produção faz o controle 24 horas por dia por meio de câmeras, além disso os participantes seguem várias regras e não têm contato com o mundo externo.