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China e a Nova Ordem Mundial: tudo que você precisa saber

Entenda quais as ambições do país e que lugar ele ocupa na política e economia global

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 18 Maio 2022, 11h29 - Publicado em 2 Maio 2022, 15h39
Ordem Mundial se refere à maneira como os países organizam-se e competem na economia e política globais. Estados Unidos e China ocupam um lugar central nesse debate atualmente
Estados Unidos e China ocupam um lugar central nos debates sobre a Nova Ordem Mundial (zhangshuang/Getty Images)
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A China tem se consolidado como uma das grandes potências do mundo atual. Há décadas, ela cresce em um ritmo mais acelerado quando comparada com nações que já exerciam uma influência global. A percepção de especialistas é que um cenário futuro, não tão distante assim, a hegemonia de países como os Estados Unidos poderá ser superada em diversos campos, inclusive o econômico, e que a China deve se tornar um dos protagonistas da Nova Ordem Mundial.

Mas qual é a atual situação política da China e suas ambições? O que é a Nova Ordem Mundial e como ela afeta os países? A Guerra entre Rússia e Ucrânia tem algum impacto nesse contexto? 

Para explicar todo esse cenário e no que consiste essa nova configuração global, o GUIA conversou com Murilo da Cruz, coordenador e professor de Geografia e Atualidades do Poliedro Colégio São José dos Campos, Faber Paganoto, autor do material de Geografia do Sistema de Ensino pH, e Omar Bumirgh, coordenador de Geografia do Curso Etapa. 

Afinal, o que é uma Ordem Mundial?

O conceito de ordem mundial é usado para se referir à forma como o poder está organizado entre diferentes países em um determinado momento da história. “É um sistema formado por Estados-Nações soberanos que se encontram em uma situação de equilíbrio de poder entre si, ou seja, cada Estado mantém, até certo ponto, um relativo respeito pelo poder dos outros, mas há também uma disputa de poder, na qual cada potência procura expandir territorialmente suas áreas de influência ou consolidar as já conquistadas”, explica Murilo da Cruz. 

Cada ordem mundial costuma ser caracterizada com base em dois elementos: as potências que disputam poder e a forma pela qual essa disputa ocorre. Um exemplo é a ordem mundial bipolar, ou da Guerra Fria, na qual as duas potências eram os Estados Unidos e a União Soviética e a briga pelo poder se dava por meio da corrida armamentista e da disputa ideológica, entre outros elementos.

Segundo Omar Bumirgh, uma ordem mundial também pode ser unipolar (como a atual, sob a liderança dos Estados Unidos) ou multipolar (como a que tenta se consolidar no século XXI envolvendo vários polos: Estados Unidos, China, Rússia, entre outros).

Para ajudar a entender o conceito, Faber Paganoto usa uma metáfora com um tabuleiro de xadrez. “A cada momento, a distribuição das peças do tabuleiro está de um jeito e isso influencia as próximas jogadas, define quem tem mais chances de ganhar e de perder. Imagine que esse tabuleiro é o mundo, que as peças do tabuleiro são os países, que os jogadores que movimentam essas peças são as grandes potências e que o jogo que está sendo jogado é a política e a economia global.”

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A Nova Ordem Mundial

A discussão sobre uma nova ordem mundial teve início com o fim da Guerra Fria, que pode ser demarcado pela queda do muro de Berlim (1989) e pelo fim da URSS (1991). Afinal, se a ordem bipolar estava terminando, teria que surgir uma nova. 

Sobre essa nova ordem, inicialmente, havia duas hipóteses: a da ordem multipolar, cujas potências seriam Estados Unidos, União Europeia e Japão (com a possibilidade da ascensão de outros atores hegemônicos) e a monopolar, controlada por uma única superpotência – os Estados Unidos. 

Segundo Murilo da Cruz, coordenador do Poliedro, ambas visões eram influenciadas por outra tese que fez sucesso nos anos 1990 denominada o “fim da história”, lançada pelo intelectual estadunidense Francis Fukuyama. De acordo com essa tese, não haveria mais disputas em relação ao modelo social a ser adotado, já que a democracia liberal capitalista (adotada nos Estados Unidos e na Europa Ocidental) teria mostrado sua superioridade histórica e seria apenas questão de tempo para que ela se tornasse o modelo adotado em todo o mundo.

“Mas essas visões se mostraram apressadas e otimistas, principalmente após o atentado às Torres Gêmeas e ao Pentágono em 11 de setembro de 2001. A partir dali teve início uma nova fase da Ordem Mundial, marcada pela chamada Guerra ao Terror. Com isso, ficou claro que o mundo não estava entrando em uma fase pacífica, com queda de investimentos no setor militar, livre mercado e crescimento econômico.”

Ao mesmo tempo, a estagnação do Japão, a rápida ascensão da China (que não adota o modelo de democracia liberal capitalista), a crise de 2008 nos Estados Unidos e seu reflexo na zona do Euro em 2011 e, ainda, a recuperação econômica e militar da Rússia, mostraram que não estava se formando uma ordem monopolar liderada pelos americanos.

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Com isso, é possível dizer que o quadro geral da Nova Ordem Mundial ainda está em formação, não havendo a consolidação de um modelo de equilíbrio de poder e de forma de disputa, como se deu por décadas durante a Guerra Fria.

Segundo Omar Bumirgh, coordenador do Etapa, desde o momento em que a China assumiu a segunda posição na economia mundial, ela vem questionando a ordem liderada pelos Estados Unidos e pela cultura ocidental, pressionando por um novo ordenamento mundial em que ela e outros polos emergentes sejam protagonistas e que os valores orientais ganhem espaço dentro de uma ordem multipolar.

Conflitos geopolíticos recentes, como a guerra da Rússia e da Ucrânia, reacendem esse debate sobre o equilíbrio de força no mundo contemporâneo.

Situação política da China

O governo chinês é caracterizado pela existência de um único partido e pelo planejamento e intervenção estatal na economia. No entanto, embora o país se reivindique socialista, existe também uma imensa presença do capital privado, e as desigualdades socioeconômicas características do modelo capitalista estão presentes em diversos setores da economia chinesa, sobretudo nas chamadas zonas econômicas exclusivas.

Esse modelo econômico e político praticado pelos chineses ficou conhecido como “socialismo de mercado”, e o país não parece disposto a fazer uma transição para o modelo da democracia capitalista liberal, propagandeado por Estados Unidos e União Europeia. Nos últimos anos, enquanto a Rússia disputava poder no Leste Europeu e no Oriente Médio (Síria) com os Estados Unidos, a China mudava sua política externa, aumentando os investimentos em armamentos. 

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Ao mesmo tempo, internamente, o governo chinês mostrou que deve manter um controle muito mais estrito sobre a economia, questionando a posição liberal do ocidente. Essa tendência de controle pode ser percebida nas ações contra oligopólios do setor de tecnologia e comunicações, que tiveram de se submeter às regras do governo, ou mesmo nas ações mais radicais de controle de deslocamento de pessoas e de atividades em geral como forma de combater a dispersão do coronavírus. 

As ambições chinesas

Além do tamanho da economia do país e de ser o grande centro da produção industrial do mundo, a China expande seus braços sobre a economia mundial de outras maneiras. O país tem se tornado um dos maiores compradores de matérias-primas e um dos maiores investidores em mineração, geração de energia e projeto de infraestrutura de transporte em diversas regiões do mundo, com destaque para a África e América Latina, mas também em áreas centrais como o continente europeu.

Com o aumento dos investimentos em armamentos, o desenvolvimento de um programa espacial e a construção de porta-aviões e bases marítimas artificiais no mar do Sul da China – área que o país pretende controlar de forma quase exclusiva –, o governo do país demonstra pretensão em ser mais do que uma grande economia. O plano é ter uma política externa forte e aumentar a presença como centro de poder político, ocupando uma posição mais ampla na nova ordem mundial.

Além disso, no programa político de Xi Jinping (governante do país desde 2013) fica evidente a intenção chinesa de recuperar e consolidar sua influência sobre áreas tidas como rebeldes. Entre estas regiões está o Xinjiang (no Oeste do país), Hong Kong e Taiwan. O país pretende ainda expandir tal influência por novas áreas que incluem Oriente Médio, Ásia Central e África, por meio da chamada nova rota da seda.

“Resumindo, parece cada vez mais claro que a nova ordem mundial será marcada pela ascensão e consolidação da China como um dos principais polos de poder político e econômico, além dos aspectos tecnológico e cultural, que também vêm sendo impulsionados pelo governo do país”, finaliza Murilo da Cruz.

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Para saber mais 

A pedido do GUIA DO ESTUDANTE, o professor Faber Paganoto, do Sistema de Ensino pH, e o professor Murilo da Cruz, do Poliedro, indicaram três livros para quem quer se aprofundar nos debates sobre Nova Ordem Mundial e ascensão da China.

A China Venceu?, de Kishore Mahbubani

China e a Nova Ordem Mundial: tudo que você precisa saber

 

O mundo pós-ocidental: Potências emergentes e a nova ordem global, de Oliver Stuenkel 

China e a Nova Ordem Mundial: tudo que você precisa saber

China contemporânea: Seis interpretações, org. Ricardo Musse

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