Discutir sobre política é algo que pode despertar os ânimos e gerar debates calorosos. Na busca por um inexistente “certo e errado”, muitas pessoas acabam entrando em discussões complexas, apelam para argumentos rasos e até ficam mais agressivas.
E quando essa discordância ocorre com um amigo? Será que vale a pena levar a discussão adiante ou mesmo terminar uma amizade por isso?
Para ajudar a pensar nessas questões, conversamos com Edvaldo Lopes, coordenador pedagógico do Colégio Oficina do Estudante, de Campinas (SP), e com Cláudio Falcão, diretor do Sistema de Ensino pH.
Em primeiro lugar, tenha em mente que é muito importante valorizar o debate. Acima das paixões, há a necessidade de discutir as ideias para que possa haver uma evolução do senso crítico e da percepção social. Então a dica aqui é saber falar, ouvir e rebater sempre no campo das ideias, evitando ao máximo uma passionalidade nociva.
“É preciso usar a empatia e buscar entender as motivações que levam o amigo a pensar diferente”, diz Falcão. Devemos nos perguntar: a visão do outro é fruto do seu histórico de vida? É fruto de interesses corporativos ou de classe? De concepções religiosas? E o mesmo vale para as suas próprias convicções: “por que penso assim?”.
Sempre questione a si mesmo. Questione as suas próprias motivações.
Também é importante buscar referências teóricas. Tente se basear em fatos, em dados, não em achismos.
Vale a pena terminar uma amizade por isso?
Ser amigo é um exercício de tolerância e empatia. As divergências políticas são naturais em um ambiente democrático. Além disso, faz parte do processo de amadurecimento lidar com as diferenças. “As certezas de ambos os lados podem conter falhas. Saber ceder é sinal de maturidade e de acolhimento. E, muitas vezes, ter posicionamentos diferentes em relação a política, a religião e a outros temas nos trazem mais repertório de vida”, diz Lopes.
Com isso em mente, também devemos considerar que existem certos posicionamentos que são muito difíceis de lidar. Afinal, alguns limites precisam ser respeitados. Em situações de opressão, por exemplo, opinar a favor do opressor é algo inadmissível. “Conviver com o racismo, com a homofobia, com a intolerância e com fascismo nos faz coniventes”, diz Falcão. Isso pode, sim, segundo ele, ser um motivo razoável para um afastamento. A sua opinião acaba onde começa o respeito e os direitos de outra pessoa. Os exemplos levantados pelo diretor vão além de uma questão de achismos ou posicionamentos, mas de caráter e respeito ao próximo.
Insistir na discussão ou deixar de lado?
Lopes destaca a diferença entre embate e debate. Enquanto no primeiro ninguém cede e coloca as próprias convicções antes da amizade, o debate requer condições básicas, como ouvir, apropriar-se da fala do outro de forma honesta e respeitosa, posicionar-se de forma assertiva e sem ofensas pessoais ou depreciativas. “Se ambos estiverem debatendo, saberão o momento de pausar. No embate há mágoas e ressentimentos que encerram qualquer possibilidade da manutenção da amizade”, diz.
Fuja de opiniões que não estejam baseadas em fatos científicos ou que não são frutos de informações de fontes confiáveis. Tenha embasamento e tente construir uma argumentação consistente. Além disso, evite usar um tom agressivo, partir para algum aspecto pessoal ou ser desrespeitoso com o próximo. “Sempre que a conversa sair do ambiente amigável e produtivo de troca de ideias, ela deve ser encerrada”, afirma Falcão.
Mais dicas
Vá com calma
Apresente suas ideias de uma maneira tranquila. O excesso de impulsividade na hora da conversa pode gerar desentendimentos e as chances dos argumentos plausíveis ficarem de lado são grandes.
Não há vencedores
Todos aprendem com um debate saudável e ético. O convencimento é um processo e não precisa necessariamente acontecer, já que é possível conviver com pessoas que divergem no campo político. Pensando assim, fica mais fácil enfrentar um debate.
Ouça e saiba ter um olhar crítico sobre você
Aprender a ouvir sem preconceitos e julgamentos é uma condição primordial para construir diálogos. Escute o outro com atenção às ideias apresentadas e saiba reconhecer se o argumento dele é convincente a ponto de mudar a sua própria opinião. Não é fácil reconhecer que estava equivocado. Isso requer maturidade e flexibilidade, mas é necessário.
Tudo tem limites
Não se esqueça que as discussões devem ocorrer respeitando certos pontos, como a democracia, o lugar de fala do outro e a tolerância.
Não existe verdade absoluta
É possível que você e seu amigo terminem a discussão concordando em alguns pontos e ainda discordando em outros. E está tudo bem. Temos muito mais perguntas que respostas. O importante é sempre estar aberto ao diálogo.
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