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Ela pesquisava tratamento para leishmaniose. Desistiu por falta de bolsa

Letícia fez um desabafo nas redes sociais após ter que abandonar de seu doutorado, que já havia sido aprovado

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 10 Maio 2019, 17h44 - Publicado em 10 Maio 2019, 17h43

No início dessa semana, o relato de Letícia Masako Takahashi viralizou nas redes sociais. No post, compartilhado mais de 62 mil vezes, Letícia pediu a atenção para contar um pouco de sua trajetória acadêmica, interrompida na última segunda-feira (6) quando se desligou do doutorado que estava prestes a desenvolver. O motivo foi o mesmo que atingiu pesquisadores de todas as universidades brasileiras recentemente: o corte de bolsas para pesquisas de mestrado e doutorado.

A devolutiva da universidade à sociedade permeou toda a trajetória de Letícia. Para começar, foi por meio de um cursinho popular oferecido por alunos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) que ela, aluna de escola pública, conseguiu cobrir a defasagem do seu Ensino Médio e ser aprovada em primeiro lugar no curso de Química na mesma universidade. No relato, ela conta que “a primeira ação de transformação da universidade pública na minha vida foi a oferta do cursinho como projeto de extensão universitária”.

Durante seus anos como aluna da UFTM, as idas e vindas com a pesquisa foram muitas, sempre pelo mesmo motivo: a dificuldade de se manter financeiramente enquanto pesquisava. Durante a graduação precisou desistir da iniciação científica por conta do valor insuficiente da bolsa e da impossibilidade de trabalhar ao mesmo tempo. No mestrado, esteve em vias de sequer conseguir uma bolsa e precisou por um tempo conciliar sua pesquisa com um outro emprego.

Enfim, no começo de 2019 e depois de dois anos exaustivos de pesquisa, Letícia defendeu seu mestrado com resultados muito promissores e descobertas que poderiam ajudar na criação de um novo medicamento para tratamento da leishmaniose. A ideia, no doutorado, era finalmente desenvolver o remédio. Em entrevista ao Buzzfeed News, Letícia falou da importância das pesquisas acerca da doença: “É uma das que mais matam no mundo e o Brasil é um dos países com mais mortes por leishmaniose. As indústrias farmacêuticas têm pouco ou nenhum interesse. Se a pesquisa de doenças negligenciadas não acontece na universidade pública, ela não acontece em lugar nenhum”.

A área de Ciências Biológicas, assim como as outras, foi afetada tanto pelo corte de gastos das universidades públicas quanto pelos cortes destinados à pesquisa, anunciados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) nesta semana. No total, foram cortadas 3.474 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado que seriam destinados a pesquisadores que ainda começariam suas pesquisas. Ao jornal O Globo, o atual presidente do Capes Anderson Ribeiro Correia declarou que não descarta a possibilidade de que outras bolsas que agora estão ocupadas sejam cortadas quando ficarem “ociosas”.

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