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Haiti: uma história de insurreições e desastres

País do oeste caribenho tem história marcada por levantes políticos e cerceamentos nacionais e internacionais  

Por Danilo Thomaz
Atualizado em 22 ago 2021, 13h08 - Publicado em 19 ago 2021, 13h46

Em agosto, em um curto espaço de quatro dias, duas novas tragédias abateram o Haiti: um terremoto de 7,2 graus seguido por um ciclone. O saldo é a destruição de cidades inteiras em um país de poucos recursos. Até o momento da publicação deste texto eram cerca de 2 de mil mortes, mais de 6 mil feridos e um incontável número de desabrigados.

++ VEJA: Haiti clama por ajuda após terremoto deixar um rastro de mortos

O Haiti é o país mais pobre das Américas e do Caribe. A sua renda per capita é pouco maior de US$ 1 mil, menos de 10% da brasileira. Além de ser o país mais pobre da região, o Haiti é também o mais desigual: os 20% mais ricos detém 64% da renda nacional enquanto os 20% mais pobres apenas 2%. O país viveu uma recessão de 1,9%, em 2019. Já em 2020, a recessão foi de 3,8% em decorrência da pandemia de Covid-19, segundo dados do Banco Mundial. 

Hispaniola Political Map with Haiti and Dominican Republic, located in the Caribbean island group, the Greater Antilles. With capitals, national borders, important cities, rivers and lakes. English labeling and scaling. Illustration.
O Haiti é um país caribenho situado na América Central. (Pinterest/Divulgação)

Apesar de ser lembrado por seus conflitos políticos, tragédias ambientais, epidemias como a de cólera e problemas sociais, o Haiti tem uma das mais emblemáticas histórias da América Latina. A seguir, veja os principais pontos marcantes da trajetória do país.

Saint-domingue (São Domingos) do açúcar  

Inicialmente uma próspera colônia francesa, chamada de São Domingos, o Haiti fornecia açúcar de forma mais competitiva do que Cuba e o nordeste brasileiro. O produto era valiosíssimo no comércio internacional no século 18.

Segundo o historiador da USP, Fabio Luís Barbosa dos Santos, no século 19 cerca de dois terços da população de São Domingos era constituída de escravos de origem africana. A taxa de mortalidade era alta em decorrência da falta de cuidados médicos, alimentação, abrigo adequado e pelo excesso de trabalho. Foi então que a população negra começou a ser influenciada pela revolução que estava acontecendo na metrópole francesa.

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A Revolução Francesa (1789 – 1799)  foi um movimento social e político que retirou o absolutismo na França e disseminou ideais liberais em várias partes do mundo. Em 1789, os franceses publicaram a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que declarava que todos os homens eram livres e iguais.

No entanto, as novas leis francesas ainda não eram válidas para a colônia de São Domingos.

++ ENEM PLAY: estude a Idade Contemporânea: Revolução francesa

Revolução Haitiana (17911804)

A Revolução Haitiana foi um período de conflitos na colônia de São Domingos por independência e o fim da escravidão. A revolta foi motivada pela exploração e violência do sistema colonial escravista francês.

O líder militar da revolução foi François Toussaint Breda, neto de um chefe africano. Mais tarde, ele adotou o nome de Toussaint L’Ouverture. Apoiados por tropas espanholas e britânicas, os escravos de São Domingos se converteram em soldados. Em 22 de agosto de 1791, teve início uma guerra civil.

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Em 1793 é proclamado o fim da escravidão. Sem condições de vencer a guerra, a França decide abolir formalmente a escravidão na colônia em 1794. Em 1801, a França chega a mandar uma expedição sob o comando de Napoleão Bonaparte para tentar reverter a situação.

Em 1° de janeiro de 1804, o líder Jean-Jacques Dessalines declara São Domingos independente. Pouco depois, em 14 de agosto de 1804,  Saint-Domingue muda o seu nome para Haiti. O país tornou-se a primeira república governada por pessoas de ascendência africana.

O país, que já havia sido o primeiro nas Américas a abolir a escravidão, tornou-se, assim, o primeiro a tornar-se independente na América Latina e Caribe. O levante da pequena república assustou governantes nos Estados Unidos e no Brasil, países cujas economias, em diferentes graus, dependiam da escravidão. 

A independência teve seu preço, que está na raiz dos problemas haitianos. A França, em troca da independência, cobrou uma indenização equivalente ao seu orçamento anual. Os Estados Unidos e o Vaticano apoiaram sanções ao país – algo semelhante ao que se faz com Cuba hoje (sem o apoio do Vaticano e da maior parte dos países-membros da ONU). 

Ocupação dos EUA

No século 20, entre 1915 e 1934, o Haiti foi ocupado pelos Estados Unidos – que exercia influência ainda maior nos países caribenhos. Foram os americanos que instituíram o francês como idioma oficial no lugar da língua dos negros, o criollo – e governaram apoiados em uma minoria mulata, colocando os cidadãos negros em segundo plano. O país também interviu em diversos setores, como a polícia, fortalecendo a repressão. Estima-se que 15 mil haitianos tenham sido mortos em ações policiais no período. É bom lembrar que os Estados Unidos e a França foram aliados na perseguição ao país no século 19 e o idioma francês, assim, foi o meio de separar os cidadãos e reprimir a cultura de matriz africana.

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++ ENEM PLAY – Idade Contemporânea: Guerra Fria

Ditadura 

Em 1957, tem início uma nova fase do país com a eleição do médico François Duvalier, o Papa Doc. O governo logo converteu-se em um regime ditatorial de caráter totalitário, que se valeu do orgulho negro para legitimar seu poder, fortalecido pelo apoio dos Estados Unidos, receoso da influência cubana na região após a Revolução de 1959. 

Com a morte de Papa Doc, em 1971, ascende seu filho de 19 anos, Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc. Seu governo, que deu continuidade à ditadura, abriu espaço para as chamadas “maquiladoras”, ou seja, indústrias montadoras. Derrubado em 1986, exilou-se na França, num levante democrático e popular. 

Após um período de transição, o ex-padre Jean-Bertrand Aristide, figura popular do campo da esquerda, é eleito em 1990 e derrubado meses depois. Volta ao poder em 1994, com apoio internacional, e fez seu sucessor, René Preval. Voltaria ao poder em 2000, mas renunciaria em 2004, ante os conflitos populares. 

Missão da ONU

A renúncia colocou o país à beira da guerra civil e levou a ONU a criar a chamada Minustha, uma missão de intervenção humanitária, cuja liderança foi assumida pelo Brasil. À época comandado por Luiz Inácio Lula da Silva, o governo brasileiro buscava maior inserção e influência no mundo. 

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 A intervenção contou com mais de 36 mil militares, entre eles o ex-secretário de Governo de Bolsonaro, o general Santos Cruz, e o atual ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno.

A missão deveria durar meses, mas estendeu-se até 2017. Em 2020, a capital Porto Príncipe foi palco do “Tribunal Popular Contra os Crimes da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah)”, que denunciou crimes como a repressão militar, instituições de milícias, o tráfico de mulheres para fins sexuais e outros crimes sexuais. A missão para boa parte da população haitiana aumentou a instabilidade política do país, que segue muito influenciado pelos Estados Unidos.  

++ Entenda o fim da missão de paz da ONU no Haiti

 

Instabilidade

Jovenal Moïses, eleito presidente em 2016 e referendado em 2017, foi torturado e morto em 7 de julho de 2021 em sua casa em Porto Príncipe. Seu governo foi marcado por crise econômica, protestos por sua renúncia e pelo endurecimento do regime, com a dissolução do Parlamento e a concentração do poder em suas mãos.

As investigações apontam para um crime que envolve cidadãos de vários países, como os Estados Unidos, o Equador, a Colômbia e a Venezuela. O país é governado desde 20 de julho por Ariel Henry, escolhido indiretamente como primeiro-ministro. O novo governante disse que o momento era de “união e estabilidade”, frente o acirramento dos conflitos civis. 

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Fontes 

Pulso Latino: Série Caminhos Latinos, Haiti (episódio 12) 

Brasil, uma biografia (Companhia das Letras), Lilia Schwarcz e Heloisa Starling 

 

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