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O que é preciso entender sobre os protestos em Cuba

Manifestações sintetizam impasses políticos e econômicos que vive a Ilha

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 26 out 2021, 16h23 - Publicado em 13 jul 2021, 16h14

Na última semana, Cuba começou a viver uma onda de protestos em decorrência da escassez de alimentos, medicamentos e do agravamento da pandemia de Covid-19. Segundo a Universidade Johns Hopkins, em Cuba há mais de 244 mil casos e 1579 mortes, num país com 11, 3 milhões de habitantes. 

Presidente Miguel Díaz-Canel falou em ‘asfixia econômica para provocar revoltas sociais’; Joe Biden rebateu as acusações afirmando que a população cubana clama por ‘liberdade e alívio’
Sobre os protestos de julho de 2021: o presidente de Cuba Miguel Díaz-Canel falou em ‘pronunciamento na TV sobre asfixia econômica para provocar revoltas sociais’; O presidente dos EUA, Joe Biden, rebateu as acusações afirmando que a população cubana clama por ‘liberdade e alívio’. (Pinterest/Divulgação)

Poucos assuntos dividem mais as pessoas do que os rumos da pequena ilha no Caribe, que já foi objeto de disputa entre a Espanha e os Estados Unidos e que vive desde 1959 sob regime comunista – um dos últimos países do mundo a ainda adotar esse sistema. 

 Os críticos do regime cubano atribuem as manifestações ao cenário de escassez e ao desejo de liberdade. Já os defensores do Partido Comunista Cubano e da Revolução de 1959 acreditam tratar-se de uma onda de desestabilização com influência americana. Não se espante, mas… nenhum dos dois lados está errado. 

 Vamos entender. 

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Efeito internet

A chegada da internet à Ilha, a partir de 2015, e da internet móvel, em 2018, ajudou a mudar as manifestações anti-regime, segundo o antropólogo David Nemer, da Universidade da Virgínia. Hoje, 60% dos cubanos têm acesso à rede móvel. Para realizar os protestos de rua, opositores começaram a se organizar pelas redes sociais e pelo WhatsApp.

Nova Constituição

Em 2019, Cuba outorgou uma nova Constituição, que reconhece a propriedade privada de imóveis e determinados estabelecimentos – na esteira do que já vinha sendo implementado. Além disso, a nova Constituição excluiu a palavra comunismo do texto e permitiu manifestações de opositores. No entanto, o Partido Comunista Cubano continua sendo o mandante do governo e o presidente segue sendo eleito pelo parlamento.

Para o antropólogo, as ações organizadas na internet e as nova s liberdades garantidas pela nova Constituição são principais fatores que levaram aos protestos atuais, os maiores desde 1994.   

Breve histórico antes dos atuais protestos

Cuba pós revolução

Ernesto Rafael Guevara de la Serna, mais conhecido como Che Guevara, foi um revolucionário marxista, médico, autor, guerrilheiro, diplomata e teórico militar argentino
Ernesto Rafael Guevara de la Serna, mais conhecido como Che Guevara, foi um revolucionário marxista, médico, autor, guerrilheiro, diplomata e teórico militar argentino. Ele foi um dos idealizadores da revolução cubana (Pinterest/Divulgação)

A Revolução de 1959, que depôs o ditador Fulgêncio Batista, aliado dos Estados Unidos, promoveu, de fato, uma profunda transformação na ilha, com a socialização de direitos básicos e de bens privados. Nenhum cubano poderia, por exemplo, ter mais de um imóvel. Aqueles que tinham, foram indenizados, enquanto o aluguel pago mensalmente por seus locatários fora convertido em prestações de hipotecas. Frente às pressões econômicas dos Estados Unidos, o país então comandado por Fidel Castro promoveu uma intensa estatização e socialização das empresas do país. Deve-se destacar a estatização do setor açucareiro, principal fonte de divisas externas da ilha. A história do país você ouve no podcast “Pulso Latino”. 

 Influência soviética

Guerra Fria
Guerra Fria foi um período de tensão geopolítica entre a União Soviética e os Estados Unidos e seus respectivos aliados, o Bloco Oriental e o Bloco Ocidental, após a Segunda Guerra Mundial. Considera-se geralmente que o período abrange a Doutrina Truman de 1947 até a dissolução da União Soviética em 1991 (Getty Images/Lucas S. Paiva/Guia do Estudante)

Até o início dos anos 1990, o regime contou com o apoio da antiga URSS, que lhe deu não apenas apoio econômico, mas ajudou a organizar burocraticamente o regime – o que é visto, mesmo entre alguns setores da esquerda, como um problema, dado o autoritarismo e o dogmatismo do regime soviético. 

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Relação com os Estados Unidos

Tentativa de derrubar Fidel Castro
A CIA tentou matar Fidel Castro 638 vezes (Creative Commons/Divulgação)

 

Desde o início, o país sofre com pressões dos Estados Unidos. A CIA tentou matar Fidel Castro 638 vezes. O objetivo estadunidense era sufocar a experiência socialista da ilha, da mesma forma que sufocou a experiência boliviana de 1952 e o governo Allende (Chile) – ainda que este governasse dentro da institucionalidade, era um autodeclarado marxista. 

 Vulnerabilidade

Rua de Havana em Cuba
Havana, capital de Cuba, exibe em seu centro histórico a arquitetura colonial espanhola do século 16 (Pinterest/Divulgação)

 

Com o fim da URSS, Cuba entra em uma profunda crise, sobre a qual já falamos aqui. Mas há outra questão: ao contrário da URSS, da China e mesmo da Coreia do Norte, Cuba não logrou um processo de industrialização de sua economia, mantendo-se dependente de commodities, do turismo e do setor de saúde, o mais avançado em termos internacionais. Assim, sua economia acabou se tornando muito vulnerável. Isso, somado ao embargo dos Estados Unidos, gera o cenário de escassez. 

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Economia

Nas ruas de Cuba se encontram carros antigos e imagens de Fidel Castro e Che Guevara
Nas ruas de Cuba se encontram carros antigos e imagens de Fidel Castro e Che Guevara (Twitter Wdson Magalhães/Divulgação)

Atualmente, a Ilha vive um momento delicado. Neste ano, fora revertida a política de duas moedas: o peso cubano valendo 0,04 dólar, e o peso conversível (CUC), em paridade com o dólar (1 CUC = 1 dólar). Agora, há apenas o peso cubano, valendo 24 dólares. O risco com a unificação monetária – que vem acompanhada de outras medidas – é o de inflação, dada a escassez de produtos e o mercado paralelo de compras, onde os preços obedecem à velha lei da oferta e da procura. 

Covid-19

Além disso, Cuba sentiu como poucos países o impacto econômico da pandemia de Covid-19, em razão das restrições ao turismo, fundamental para sua economia. O PIB do país caiu 11% em 2020, quase três vezes a queda verificada no Brasil. 

Política

O líder cubano, Raúl Castro, e o então presidente dos EUA, Barack Obama, se cumprimentam em evento na ONU, em Nova York, em setembro de 2015
O líder cubano, Raúl Castro, e o então presidente dos EUA, Barack Obama, se cumprimentam em evento na ONU, em Nova York, em setembro de 2015 (Anthony Behar/Getty Images)

Do ponto de vista político e geopolítico, Cuba enfrenta uma série de problemas. A reaproximação com o governo dos Estados Unidos, verificada no segundo governo Obama, converteu-se em sanções mais duras com a ascensão de Trump. O atual presidente, Joe Biden, prometeu rever algumas dessas sanções – mas disse que isto não é prioridade de sua gestão. 

Embora haja mudanças nas políticas do país desde a década de 1990 e, com maior intensidade, desde 2008, com a ascensão de Raúl Castro, irmão de Fidel, há pouca liberdade política em Cuba. Os sindicatos são atrelados ao governo e têm pouca margem de ação independente. O Partido Comunista Cubano é ainda muito fechado para a diversidade e às demandas do povo cubano hoje – embora assuntos da ordem do dia, como o casamento igualitário, estejam em discussão em Cuba. Há, ainda, perseguições e prisões de artistas e dissidentes, além de violência policial e de infiltrados do governo nos protestos. Embora nomes de prestígio da cultura cubana, como o escritor Leonardo Padura, optem por viver na ilha. 

Censura

Para conter as manifestações, o governo de Míguel Díaz Cañel, o primeiro líder político não pertencente à família Castro a residir o Partido Comunista da Ilha, cortou o acesso à internet. A interrupção do serviço de internet, todavia, não foi capaz de arrefecê-los. Ao criticar os embargos americanos, o presidente obteve apoio de outros governantes da América Latina, como o presidente Alberto Fernandéz, da Argentina. O México deve levar ajuda humanitária ao país. 

Fato é que, pelos motivos elencados, Cuba vive um momento singular de sua história, para o qual não há soluções e respostas simples. Mesmo com todas as contradições da Revolução de 1959 e do regime, é preciso também compreender que em Cuba – a última colônia da Espanha e país de forte interesse geopolítico dos Estados Unidos – a questão da soberania é um valor da sociedade – tanto é que o país foi fundamental, por exemplo, na libertação de Angola. 

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Escute um podcast sobre o tema.

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