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Israel e Irã, quatro décadas de tensão permanente

Aliados antes da Revolução Islâmica, em 1979, países romperam as relações diplomáticas há mais de 40 anos

Por Paulo Zocchi
26 abr 2024, 15h00
Manifestação em Teerã, em 19 de abril, contra o ataque de Israel ao país, na qual se veem bandeiras do Irã e da Palestina e cartazes com o rosto do aiatolá Khomeini
Manifestação em Teerã, em 19 de abril, contra o ataque de Israel ao país, na qual se veem bandeiras do Irã e da Palestina e cartazes com o rosto do aiatolá Khomeini (Fatemeh Bahrami/Anadolu/Getty Images)
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Um bombardeio surpresa destruiu o prédio anexo à embaixada do Irã na Síria, em 1º de abril de 2024, matando ao menos 13 pessoas. O ataque foi realizado pelas forças armadas de Israel, que, no entanto, não está em guerra formalmente com o Irã. Em retaliação, o governo iraniano lançou um ataque de drones e mísseis contra Israel, em 13 de abril, que causou danos a imóveis e deixou uma pessoa ferida.

Num cenário mundial já sob impacto dos dois anos de guerra na Ucrânia e do ataque em larga escala de Israel contra os palestinos na Faixa de Gaza – iniciado após um ataque do grupo fundamentalista islâmico Hamas, em 7 de outubro de 2023 –, que já deixou mais de 34 mil civis palestinos mortos, cresce a preocupação com a possibilidade de expansão da guerra no Oriente Médio.

Para analistas, o ataque contra a representação diplomática do Irã se explica, sobretudo, por uma tentativa do governo israelense, liderado por Benjamin Netanyahu, de romper seu isolamento externo e debelar a crise interna que enfrenta expandindo o conflito armado para outros países. Se Israel está sem apoio mundial para prosseguir atacando a Faixa de Gaza, isso pode mudar caso o país esteja em guerra com o Irã, país que mantém relações tensas com os Estados Unidos (EUA) e as potências ocidentais.

Israel e Irã antes de 1979

As relações entre Israel e Irã nem sempre foram conflituosas. Nas primeiras décadas de existência de Israel, fundado em 1948, o Irã era um aliado estratégico na região, frente à hostilidade dos países árabes vizinhos dos israelenses, como a Jordânia, Egito e Síria.

O Irã viveu, de 1921 a 1979, sob a ditadura dos xás Reza Pahlevi pai e filho, com uma pequena interrupção entre 1951 e 1953. O regime do segundo Reza Pahlevi, no período do pós-guerra, era diretamente apoiado por norte-americanos e britânicos. O país tornou-se um importante fornecedor de petróleo para as nações ocidentais, inclusive com a ajuda logística de Israel. Ao mesmo tempo, o xá abriu o país à influência ocidental nos costumes, hábitos cotidianos e de consumo.

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Israel via o Irã como potencial aliado regional por não ser um país árabe, embora sua população seja adepta do islamismo. Os iranianos formam uma etnia própria, originária dos persas (o país é a antiga Pérsia), e falam persa (idioma também conhecido como farsi), mas usam o alfabeto arábico.

Revolução Islâmica

A Revolução Islâmica no Irã, em 1979, derrubou a ditadura do xá e transformou profundamente o país e sua posição no cenário mundial e regional. No começo, o movimento contra o xá era amplo política e socialmente, mas em pouco tempo o Irã tornou-se uma República Islâmica, comandado por um governo teocrático – ou seja, regido por normas da religião islâmica. O chefe de estado passa a ser um aiatolá, o líder religioso supremo.

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Militantes islâmicos invadem a embaixada dos EUA em Teerã, capital do país, em novembro de 1979, tomando 66 norte-americanos como reféns, em crise que se estendeu até 1981. Desde então, o Irã não tem mais relações diplomáticas com os EUA, nem com Israel, declarado pelo governo como “inimigo do Irã”, por causa de sua ligação estreita com os EUA.

Nessas quatro décadas, houve momentos de forte tensão, pois o Irã apoia o governo da Síria – em conflito permanente com Israel –, o grupo fundamentalismo islâmico Hezbollah, do Líbano – que atua na fronteira com Israel, com o qual já teve enfrentamentos militares –, e o próprio Hamas, grupo palestino que recebe parte de suas armas e treinamento do Irã.

O mais preocupante é a questão nuclear. Israel é considerado como um país que, provavelmente, possui armas nucleares, embora não reconheça isso publicamente. Já o Irã domina o enriquecimento de urânio, principal matéria para a fabricação da bomba atômica, embora não haja indícios de que tenha de fato chegado à fabricação da arma.

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Assim, a rivalidade entre os dois países, na gravíssima situação de momento no Oriente Médio, é um dos focos de preocupação mundial. Diversos países passaram a atuar como bombeiros após o ataque à embaixada na Síria, buscando convencer os dois países a moderarem suas reações, evitando a escalada do conflito. Ainda assim, em 19 de abril, Israel fez um lançamento de bombas contra o território do Irã. A situação parece a um passo da guerra. Mas, até o momento, esse passo não foi dado.

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