O que significa o alarmante novo relatório da ONU sobre o clima?
Documento destaca o aquecimento do planeta e as mudanças irreversíveis causadas pelo homem. Veja os principais tópicos de estudo para o vestibular
O novo relatório publicado nesta segunda-feira (9) pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) aponta que é um fato: as mudanças climáticas causadas pelos seres humanos são irrefutáveis, irreversíveis e causaram um aumento expressivo na temperatura do planeta.
Segundo o estudo, o impacto da ação humana já está perto do limite da temperatura global estabelecido no Acordo de Paris, em 2015. Na época, 196 países, incluindo o Brasil, se comprometeram com algumas metas para conseguir reduzir as mudanças do planeta, como manter o aumento das temperaturas globais bem abaixo de 2°C neste século e buscar esforços para mantê-lo abaixo de 1,5 °C. Mas, nos cenários considerados pelos cientistas, ambas as metas serão descumpridas a menos que grandes reduções de emissões de carbono ocorram.
É a primeira vez que o IPCC, um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), consegue quantificar a influência das ações humanas nas mudanças climáticas da Terra. Produzido por 234 autores de 66 países, o documento é um “alerta vermelho” para a humanidade, segundo o secretário geral da ONU, António Guterres.
O aquecimento global “já está causando extremos climáticos em todas as regiões do globo” e alguns exemplos recentes são as ondas de calor, como as vistas na Grécia e no oeste da América do Norte, e inundações, como as da Alemanha e da China.
“Muitas das mudanças observadas no clima não têm precedentes em centenas de milhares de anos. Algumas das mudanças – como o aumento contínuo do nível do mar – são irreversíveis”, aponta o relatório.
Entre as constatações do estudo, também destacam-se:
- O papel da influência humana no aquecimento da atmosfera, dos oceanos e do solo é inequívoco;
- A temperatura da superfície global foi 1,09ºC mais alta na década entre 2011-2020 do que entre 1850-1900;
- Cada uma das últimas quatro décadas foi sucessivamente mais quente do que qualquer outra década que a precedeu desde 1850;
- A temperatura da superfície terrestre subiu mais rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos nos últimos 2 mil anos;
- O nível médio do mar aumentou mais rápido desde 1900 do que em qualquer século em pelo menos 3 mil anos;
- A influência humana é “muito provavelmente” (90%) o principal impulsionador do derretimento global das geleiras desde a década de 1990 e da diminuição do gelo marinho do Ártico;
- É “praticamente certo” que eventos como ondas de calor, chuvas fortes, secas e ciclones tropicais tornaram-se mais frequentes e mais intensos desde a década de 1950, enquanto os eventos frios se tornaram menos frequentes e menos graves;
- Em 2019, a concentração de CO² na atmosfera era maior do que em qualquer outro momento nos últimos 2 milhões de anos e a concentração de metano e óxido nitroso era a maior em 800 mil anos.
Consequências a longo prazo
O professor de Geografia do Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante, Dario Francisco Feltrin, faz uma breve análise sobre as consequências do IPCC: “Os autores acreditam que um aumento de 1,5ºC será alcançado até 2040 em todos os cenários. Se as emissões não forem reduzidas nos próximos anos, isso acontecerá ainda mais cedo. Esse aumento de 1,5ºC poderá afetar a cadeia alimentar no mundo, a destruição da fauna e da flora em várias partes do planeta”, analisa.
Confira alguns dos principais impactos e projeções apontados pelos pesquisadores:
- Temperatura vai continuar a subir até meados deste século em todos os cenários projetados para as emissões de gases de efeito estufa;
- Aquecimento de 1,5°C a 2°C será ultrapassado ainda neste século se não houver forte e profunda redução nas emissões de CO² e outros gases de efeito estufa;
- Alguns eventos extremos “sem precedentes no registro histórico” acontecerão com mais frequência com o aquecimento de 1,5° C;
- É provável que o Ártico esteja praticamente sem gelo em algum mês de setembro, logo após o verão, antes mesmo de 2050;
- Eventos extremos relacionados ao nível do mar que ocorreram uma vez por século no passado recente devem ocorrer pelo menos anualmente em mais da metade dos locais onde há medição de marés, até 2100.
Apesar do relatório destacar os problemas causados pela ação do homem, os cientistas também afirmam que há muito a ser feito para minimizar e impedir certos cenários.
Segundo o levantamento, se as emissões globais de gases do efeito estufa forem cortadas pela metade até 2030 e as emissões líquidas forem zeradas em meados deste século, será possível interromper e possivelmente reverter o aumento de temperaturas.
Zerar as emissões líquidas consiste em reduzir as emissões de gases de efeito estufa usando tecnologia limpa e enterrar quaisquer liberações restantes usando a captura e armazenamento de carbono, ou absorvendo-as com o plantio de árvores.
Já o professor de Geografia do Colégio Anglo Chácara Santo Antônio (SP), Israel Castro, destaca que os estudantes precisam olhar o IPCC como parte dos estudos de Atualidades para o vestibular: “O IPCC organiza os eventos de controle do clima no mundo. Por isso, ele pode aparecer nos vestibulares. Chama a atenção o que o relatório fala sobre os dados atualizados sobre as secas no nordeste brasileiro”, afirma.
COP-26
O relatório do IPCC deve ser o último divulgado antes da 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP-26, o que aumenta ainda mais a sua importância.
António Guterres, da ONU, pede aos líderes que irão se reunir na Conferência, prevista para novembro em Glasgow, na Escócia, que sejam bem-sucedidos na redução das emissões de gases de efeito estufa.
“Se unirmos forças agora, podemos evitar a catástrofe climática. Mas, como o relatório deixa claro, não há tempo para delongas e nem espaço para desculpas. Conto com os líderes do governo e de todas as partes interessadas para garantir que a COP-26 seja um sucesso.”
Importância do IPCC
Criado em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial, o IPCC foi criado para avaliar as mudanças climáticas e divulgar dados avançados sobre o tema.
A ideia é que os governos também explorem essas informações para desenvolver políticas mais eficazes e estratégicas para combater o aquecimento global.
O primeiro relatório do IPCC foi divulgado em 1992. O novo documento é uma parte da sexta edição. As duas próximas publicações, que devem sair depois da COP-26, abordarão como lidar com o aquecimento e quais as estratégias para evitar um aumento ainda maior da temperatura.