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“Oppenheimer”: grande vencedor do Oscar é essencial para o estudante

Produção traz um rico cenário de acontecimentos importantes do século 20, essencial para estudantes e quem mais quiser conhecer um pouco de história

Por Paulo Zocchi
Atualizado em 11 mar 2024, 10h51 - Publicado em 10 mar 2024, 10h00
Robert Oppenheimer e sua criação: a bomba atômica
Robert Oppenheimer e sua criação: a bomba atômica (Universal Pictures/Divulgação)
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Um dos grandes filmes de 2023, indicado a 13 categorias do Oscar 2024, “Oppenheimer” é uma realização espetacular, muito indicada para quem se prepara para o vestibular. Seu nome é o do cientista norte-americano Robert Oppenheimer, coordenador do ultrassecreto Projeto Manhattan, que construiu a bomba atômica, cuja explosão marcou o ato final da Segunda Guerra Mundial.

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Para qualquer espectador, antes de tudo, “Oppenheimer” é cinema da melhor qualidade, realizado pelo premiado diretor Christopher Nolan. Não que sua narrativa seja fácil, pois a ação se desenvolve em ordem não-cronológica. Os acontecimentos do pós-guerra misturam-se aos da vida do físico desde a juventude – e, mais do que isso, dão a cadência da narrativa. Mas os estudantes, em particular, têm muito a ganhar com a riqueza de temas e situações trazidos pelo filme, que acrescenta conhecimento, estimula pesquisas e faz pensar sobre a realidade em que vivemos.

O ponto alto de tensão é a explosão da primeira bomba atômica, em uma área de testes, nos Estados Unidos (EUA), em julho de 1945. Podemos dizer que foi um dos momentos de configuração do mundo atual, pois continuamos em plena era atômica (como o presidente russo Vladimir Putin acaba de nos lembrar, ao ameaçar usar o seu arsenal na guerra da Ucrânia), e a ONU, nascida no imediato pós-guerra, mesmo em crise, ainda se mantém como o grande fórum internacional.

Oppenheimer (Cillian Murphy) e a mulher, Kitty (Emily Blunt); relação difícil em meio a uma vida conturbada pela guerra e pela política
Oppenheimer (Cillian Murphy) e a mulher, Kitty (Emily Blunt); relação difícil em meio a uma vida conturbada pela guerra e pela política (Universal Pictures/Divulgação)

Oppenheimer, estudante exemplar

Robert Oppenheimer nasceu em Nova York em 1904, de família judia, e demonstrou grande interesse pelos estudos desde a infância – e por assuntos tão variados quanto literatura, línguas, artes plásticas, história e ciências. Graduou-se em Harvard, mais importante universidade dos Estados Unidos, com 21 anos.

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Em suas três horas de duração, “Oppenheimer” acompanha a vida adulta do protagonista. Após sair da faculdade, tornou-se, em alguns anos, um dos nomes de destaque na física teórica. Sua personalidade oscilava momentos de depressão e isolamento com outros de concentração e grande capacidade de trabalho em equipe. No filme, é vivido por Cillian Murphy, em excelente interpretação.

No pré-guerra, ele se destaca como cientista e professor, com ideias humanistas e de esquerda – como o apoio aos republicanos na guerra civil espanhola (1936-1939) –, com sua simpatia pelo sindicato local e admiração pela arte moderna, apreciando quadros de Pablo Picasso.

Vale lembrar que, nos anos 1920 e 1930, o universo da física teórica estava em expansão, com as possibilidades abertas a partir dos estudos de Albert Einstein, e em particular da Teoria da Relatividade Geral, publicada em 1915. Em certo momento do filme, um Oppenheimer ainda jovem discorre sobre a possível existência do que hoje chamamos de buracos negros – região do espaço em que a força gravitacional é tão forte que nada escapa, nem a luz. Um de seus mais importantes artigos teóricos, sobre esse tema, é publicado justamente em 1º de setembro de 1939, a data em que a Alemanha nazista invade a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial.

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Oppenheimer e o Projeto Manhattan

Pouco antes de os Estados Unidos entrarem no conflito (o que ocorreu após o ataque japonês ao porto de Pearl Harbor, em dezembro de 1941), o governo norte-americano decide reunir cientistas para desenvolver a bomba atômica. A fissão do átomo, base para a liberação de energia nuclear, havia sido descoberta em 1938 por cientistas na Alemanha (no filme, um dos cientistas se refere ao urânio 235 [U-235], isótopo raro na natureza, mas instável e sujeito à fissão). Oppenheimer é então recrutado para liderar o projeto, para o qual é construída do zero uma pequena cidade no deserto do Novo México, na qual viveram por mais de três anos cientistas, técnicos e militares e suas famílias, cercados por uma pesada cortina de segredo.

Um pilar do filme são os conflitos morais e éticos que atormentam os cientistas, sobretudo Oppenheimer. Afinal, a dedicação de uma vida à ciência significava para cada um deles um triunfo para a humanidade, e era aterradora a ideia de que tudo isso desembocasse numa arma de destruição em massa, que poderia causar (e causou) a morte de dezenas de milhares de pessoas.

Os militares designados para a cúpula do projeto tinham um forte argumento a seu favor: a corrida para que os EUA obtivessem a bomba atômica antes dos nazistas. Isso serviu para atrair e garantir a lealdade de importantes cientistas. Com a derrocada da Alemanha e o fim da guerra na Europa, em maio de 1945, esse espantalho, porém, desaparece. Mas o conflito ainda se mantinha com o Japão.

Os testes da bomba são programados para a véspera da histórica Conferência de Potsdam, na Alemanha, liderada pelos três principais países vencedores da Segunda Guerra Mundial (ainda não terminada naquele momento): EUA, Reino Unido e União Soviética. O teste permite aos EUA anunciarem aos soviéticos a nova arma, que mostrará seu poder destruidor três semanas depois sobre o Japão. Na questão nuclear, o que havia começado como uma disputa com o nazismo, vai se tornando uma arma potencial contra os soviéticos.

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Oppenheimer fala à Comissão de Energia Atômica dos EUA: o
Oppenheimer fala à Comissão de Energia Atômica dos EUA: o “pai da bomba” era voz influente no período pós-guerra (Universal Pictures/Divulgação)

Oppenheimer na Guerra Fria

Com o final do conflito, começa o período da Guerra Fria (1945-1990), com intensa disputa entre EUA e a União Soviética, as chamadas “superpotências” que dominavam o cenário mundial. Nos Estados Unidos, inicia-se uma fase de intensa atividade anticomunista, chamada de macarthismo (por causa de seu principal líder, o senador Joseph McCarthy), caracterizada por uma perseguição política a todos os que fossem suspeitos de “esquerdismo” ou de simpatia pelo comunismo e a URSS.

É nesse contexto que Oppenheimer passa a ser perseguido. O passado de simpatia pela esquerda vira uma arma contra ele, bem como o fato de sua mulher, Katherine (Kitty), vivida no filme por Emily Blunt, ter sido filiada na juventude ao Partido Comunista dos EUA. Sua vida pessoal é vasculhada, exposta e, nas palavras de Kitty, “despedaçada”. O objetivo é calar a voz do “pai da bomba atômica”, que tinha grande prestígio nacional e se opunha à corrida armamentista. Ele sofre um processo brutal de acusações numa comissão de inquérito sigilosa na Comissão de Energia Atômica dos EUA (AEC, na sigla em inglês). Oppenheimer, nesta fase de sua vida, mantém atividades como palestrante e cientista, e defende soluções negociadas em nível internacional para conter o perigo do uso de armas nucleares, o que não coincide com a política belicista do governo norte-americano.

Além da excelente atuação de um elenco que inclui Robert Downey Jr., Matt Damon e Florence Pugh, entre outros, há cenas marcantes e diálogos incríveis. Num deles, às vésperas do bombardeio atômico sobre o Japão, faz-se uma reunião para decidir sobre os alvos. O secretário da Guerra, Henry Stimson (James Remar), afirma que a lista inclui 12 cidades japonesas. Mas se corrige: “Na verdade, 11. Tirei Kyoto, por seu valor cultural para o povo japonês. Passei a minha lua-de-mel lá.” Escolheram-se Hiroshima e Nagasaki. Como se sabe, na explosão das bombas atômicas em 6 e 9 de agosto de 1945, 150 mil pessoas perderam a vida.

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Satisfeito pela confirmação dos avanços teóricos no campo nuclear, Oppenheimer se vê dilacerado, porém, pelas consequências práticas desses mesmos avanços. Não deixa de ser o paradoxo vivido por nossa época, na qual grandes avanços tecnológicos operam num mundo em que continuam a persistir a desigualdade entre homens e nações.

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