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A estudante de Medicina que tirou mil na redação do Enem – e foi a 1ª da família a entrar na universidade

Isabelle é da Zona Oeste do Rio de Janeiro e estudou por três anos em um cursinho para entrar no curso de Medicina

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 14 out 2024, 19h07 - Publicado em 14 out 2024, 17h54
Isabelle estudante nota mil
 (Arquivo Pessoal/Reprodução)
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Isabelle Vitória Cardoso Lopes tem 22 anos, mas, desde que tinha 16, os vizinhos de seu bairro, o populoso Campo Grande, no Rio de Janeiro, se acostumaram a vê-la sair às 5h da manhã e chegar tarde da noite em casa. “Eu só tinha uma mochila gigantesca, uma marmita e um sonho”, conta a jovem em tom divertido. Desde o início do ano passado, esses mesmos vizinhos passaram a cumprimentá-la de forma diferente. “Hoje em dia quando eu chego do trabalho todo mundo fala ‘e aí, doutora?'”. Isabelle vive um sonho coletivo: foi aprovada em Medicina, tornou-se a primeira estudante do seu bairro a tirar mil na redação do Enem e a primeira de sua família a entrar na universidade.

O pai sequer terminou o Ensino Fundamental e a mãe concluiu o Médio com muito custo. A jovem também vive com a avó, semianalfabeta. “Mesmo que eles nunca tenham tido acesso à educação, eles sempre souberam o quanto tinha valor, e me ajudaram muito a não desistir”.

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Bolsista durante a escola e o cursinho, a jovem finalmente começou o curso de Medicina em 2023, mas o caminho até a universidade não foi fácil. Primeiro, havia a pressão que ela mesma colocava sobre seus ombros, de honrar o esforço da família e passar no vestibular. Depois, a comparação com outros colegas, a rotina extenuante de horas no transporte público e a frustração das reprovações. Isabelle desenvolveu problemas de saúde mental que precisa lidar ainda hoje.

Em entrevista ao GUIA DO ESTUDANTE, a aluna de Medicina relembrou os anos de cursinho e compartilhou a rotina atual, dividida entre a faculdade e o trabalho. “Nunca tive dúvidas que valeria a pena, mas quando você consegue essa confirmação finalmente suspira de alívio”.

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A surpresa do mil

Isabelle já era estudante de Medicina quando tirou mil na redação do Enem. Depois de três anos no cursinho tentando a aprovação em uma universidade pública ou pelo Prouni, ela se sentou à mesa com os pais, colocou os gastos na ponta do lápis e decidiu que começaria o curso pelo Fies. Com a graduação já em andamento, resolveu fazer a prova despretensiosamente no ano passado. E o mil na redação, aguardado nas seis edições do Enem que já havia feito, finalmente chegou de surpresa.

A estudante relembra que, no dia da prova, deixou a sala de aplicação com a convicção de que não havia feito um bom texto, e dificilmente chegaria aos 900 pontos. Em um primeiro momento, conta, teve dificuldade de entender o tema. Depois de respirar fundo e aplicar a técnica de interpretação que sempre usava, mudou de rota e fez a dissertação seguindo à risca o modelo cobrado no Enem.

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“Meus professores sempre falavam que minhas redações não tinham cara de Enem, tinham cara de Isabelle. Então foi a primeira vez que eu sentei e falei ‘não, vamos fazer uma redação bem com cara de Enem’.”

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Em 16 de janeiro deste ano, a estudante estava na praia com os amigos da época do cursinho quando soube que os resultados do exame haviam saído. Quando viu a nota mil no seu boletim, não pôde acreditar. Foi uma festa: comemorou com os amigos, ligou para os pais e também para os professores, que sempre diziam que ela seria o primeiro mil da Zona Oeste do Rio de Janeiro.

“Para mim não é só uma nota. Pepresenta muito mais para onde eu venho, para as pessoas que sempre estiveram ao meu redor. Mostra que é possível sair muita coisa dali. Foi muito, muito legal”, recorda.

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“Essa menina precisa ter o final feliz dela”

O Enem 2023 também foi especial para Isabelle por outra razão: aquela foi a primeira vez em que ela fez a prova sem se desesperar e até chorar enquanto escrevia o texto. Ela lembra que sempre brincava com os professores, dizendo que os corretores não conseguiriam ler a redação com o papel borrado e furado por causa das lágrimas. Apesar do tom bem humorado, o assunto é bem sério.

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A partir de 2021, Isabelle sentiu o peso do vestibular para Medicina pesar sobre sua saúde mental. As crises de ansiedade, que haviam sido pontuais até ali, tornaram-se frequentes, e Isabelle emagreceu cinco quilos. Ia para o hospital com frequência. Levantar da cama de madrugada, enfrentar horas de transporte público e uma rotina puxada no cursinho tornou-se mais difícil.

“Eu lembro que todo dia eu pegava meu celular de manhã e ficava vendo fotos da minha família, minhas fotos de criança, e pensava ‘essa menina precisa ter o final feliz dela, não dá para deixar a adversidade ou a dificuldade financeira me ganhar. Eu preciso achar meu lugar no mundo’.”

Em 2022, a estudante percebeu que precisava cuidar da saúde mental se quisesse ser aprovada no vestibular. Buscou a ajuda de um psiquiatra e passou a fazer terapia para lidar com a ansiedade e a depressão, que trata ainda hoje.

“Eu entendi que eu precisava consertar o meu mental para conseguir consertar todo o resto, e minha vida mudou de fato”, reflete.

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Legado 

Isabelle cursa o quarto período de Medicina enquanto trabalha para ajudar em casa e arcar com gastos como transporte. Seu atual emprego, inclusive, foi fruto de sua nota mil na redação do Enem. A coordenação do cursinho em que a jovem estudava a convidou para ser monitora nas disciplinas de Linguagens e redação. Hoje, é ela quem ensina e dá suporte para estudantes que prestam vestibular.

“É muito legal você passar todo esse conhecimento que conseguiu ao longo dos anos, não só os acadêmicos mas também a experiência”, relata. “Às vezes eles estão chateados, desanimados. Eu acho que vão vir para a mentoria com 300 dúvidas de gramática, de crase, de vírgula, e eles só querem conversar”.

Se pudesse dar um conselho para os que atravessam essa fase, Isabelle diria para não comparar sua jornada com a de outras pessoas. “Às vezes o seu amigo que conseguiu ir muito melhor nesse simulado que você, não precisa se preocupar em acordar 2 horas mais cedo para poder pegar o ônibus, entende? Às vezes esse amigo não tem que chegar e arrumar a casa, fazer comida. Então você tem que se comparar só com você mesmo”.

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