Atualidades no Enem: a importância de ler textos jornalísticos
Acompanhar os assuntos de atualidades em sites noticiosos, jornais e revistas é um hábito importante para quem se prepara para o Enem e os vestibulares
Se você costuma se preparar para o Enem resolvendo provas antigas – o que recomendamos fortemente, por sinal –, com certeza já se deparou, nos créditos dos enunciados, com nomes de veículos jornalísticos como BBC, O Globo, Folha de S. Paulo e outros. Essa é a maior evidência de que, para se dar bem no exame, é essencial que o estudante cultive o hábito de ler textos jornalísticos.
Dessa forma, quando uma questão da prova apresentar o trecho de uma reportagem, o candidato já estará familiarizado com a linguagem e, com sorte, já pode até ter esbarrado com aquele assunto antes – o que vai lhe render alguma vantagem em termos de repertório.
Pensando na importância de estar em dia com as atualidades, o GUIA DO ESTUDANTE selecionou quatro questões do Enem 2023 que tiveram como contexto textos jornalísticos. Confira a questão, um trecho de outra reportagem sobre o assunto e a resolução que leva à alternativa correta.
Ciências Humanas
Tensão política entre as duas Coreias
A Península Coreana está imersa há mais de 70 anos em um conflito que desafia o passar do tempo e a evolução das relações internacionais. O que começou como uma divisão no contexto da Guerra Fria acabou se perpetuando em um estado de guerra, com frequentes escaladas de tensão.
A Coreia do Norte, comunista, e a Coreia do Sul, capitalista, foram uma única nação por séculos, com a mesma história, cultura, etnia e idioma. Mas, hoje, elas são separadas por uma das fronteiras mais impenetráveis do mundo: a zona desmilitarizada do paralelo 38. (…)
Desde o início do século 20 e ao longo da Segunda Guerra Mundial, a Coreia permaneceu sob o domínio colonial do Japão.
Após a derrota japonesa em 1945, a União Soviética ocupou a metade da península coreana ao norte do paralelo 38, enquanto os Estados Unidos ficaram com a metade sul.
A ideia era que o povo coreano decidisse seu próprio futuro nos anos seguintes, mas nunca se chegou a um acordo para designar o sistema político e um governo unificado para toda a península.
Pelo contrário, as diferenças políticas e ideológicas aprofundaram-se entre o Norte – que criou reformas comunistas em grande escala – e o Sul – que conservou o sistema capitalista, com um governo aliado aos Estados Unidos. O resultado foi a criação de dois Estados independentes. (…)
Atahualpa Amerise, BBC News Mundo, 27/7/2023
Análise e resposta da questão
O conflito permanente na península da Coreia há mais de sete décadas é um dos temas de destaque na compreensão do cenário internacional, assunto presente no Ensino Médio. A origem histórica do atual cenário foi a divisão do país acertada na Conferência de Potsdam (em julho de 1945) entre as potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial (ainda não encerrada naquele momento), determinando que a parte ao norte do paralelo 38 (Coreia do Norte) ficaria sob a influência da União Soviética (hoje Rússia, que faz fronteira com o país), enquanto na porção sul seria constituído um estado sob influência dos Estados Unidos (que ainda estavam, naquele momento, em guerra com o Japão).
A Guerra da Coreia (1950-53) notabilizou-se por ser um dos conflitos mais mortíferos do período pós-guerra. Desde então, os dois estados vivem em conflito surdo. A Coreia do Norte desenvolve um programa atômico. A Coreia do Sul tornou-se um dos países da Ásia exportadores de produtos tecnológicos. O estudante que tivesse lido a matéria acima, da BBC (site jornalístico), ou outra semelhante estaria em boas condições para responder à questão.
Analisando-se as alternativas, descartamos inicialmente as opções d e e, pois, no conflito entre os dois governos, não há atuação relevante de empresas privadas ou problemas ambientais. Podem causar mais dúvidas, mas as opções a e b também estão erradas, pois não há disputas “identitárias” nem “étnico-raciais” no conflito, visto que os coreanos conformam uma única população homogênea do ponto de vista histórico e étnico. A alternativa correta é a c, que aponta as diferenças ideológicas e políticas entre “agentes estatais” (ou seja, instituições de estado, governos).
+ BTS no exército: o que explica a rigidez do serviço militar sul-coreano
Brasileiras têm cada vez menos filhos
As mulheres são maioria entre os estudantes com ensino superior completo, no entanto são minoria em relação a posições de poder e seguem ganhando menos que os homens, mesmo ocupando os mesmos cargos. A divisão desigual do trabalho em casa é só uma entre as inúmeras barreiras enfrentadas por elas no mercado de trabalho, que têm adiado a maternidade em busca do empoderamento econômico. (…)
A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho foi de 53,3% enquanto a dos homens foi de 73,2%. A maior dedicação ao trabalho de cuidado doméstico impacta na inserção no mercado de trabalho. Em 2022, as mulheres dedicaram quase o dobro de horas nesses afazeres em relação aos homens. Enquanto elas passaram cerca de 21,3 horas semanais nos afazeres domésticos ou cuidado de pessoas, eles gastaram 11,7 horas. (…)
Segundo a economista Isabela Duarte, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), ao longo dos anos, a maternidade tem sido colocada como uma barreira na entrada do mercado de trabalho. “Essa característica faz com que hoje a mulher acabe postergando a hora de ter filhos, para ficar mais tempo no mercado e tentar não sair. Sabemos que a volta, após a maternidade, é bastante difícil, muitas mulheres têm um salário menor nesse retorno. Por isso, hoje, elas postergam a maternidade, para terem maior estabilidade”, apontou. (…)
Rafaela Gonçalves, Correio Brasilienze, 9 de março de 2024
Análise e resposta da questão
O papel da mulher na sociedade contemporânea, apresentado em diferentes facetas, esteve presente na redação e em várias questões do Enem 2023. No Brasil, há mais mulheres no total da população do que homens – cuja longevidade é menor, com taxa de mortalidade notavelmente alta nos jovens adultos. Nas últimas décadas, as mulheres passaram na frente em grau de escolaridade no país. Mesmo assim, permanece a desigualdade expressa nos salários menores às mulheres e a violência de gênero.
+ Por que mulheres ganham menos que homens – e como superar o problema
Uma dessas questões é a que está acima. Ela parte de um gráfico de barras, cuja legenda à esquerda informa que o número expresso é o de “filhos por mulher”. O gráfico mostra que, em 1960, as mulheres brasileiras tinham, em média, 6,3 filhos (o que significa que, se parte delas tinha 2 ou 3 filhos, ou nenhum, outras tinham 8, 9 ou mais). Essa média veio caindo ao longo do tempo, até atingir 1,5 filho por mulher em 2020.
Um comentário: o número está abaixo da taxa de reposição da população, que é ao menos de dois filhos por mulher (um “repõe” a mãe, o outro, o pai). Isso significa que, caso essa realidade se mantenha, em algum momento do futuro a população brasileira passará a diminuir.
Pergunta-se na questão que fator é o principal responsável pelo cenário mostrado no gráfico entre as alternativas listadas. Analisando-se as respostas propostas, afasta-se a letra a, pois não houve “flexibilização” da prática do aborto. A opção b também está errada, pois o “envelhecimento” da população é resultante, entre outros pontos, da queda na taxa de fecundidade, e não causador do fenômeno. O aumento da “gravidez precoce”, como dito na alternativa c, atua para elevar o número de filhos por mulher, e não o contrário, o que afasta essa resposta.
Mesmo que houvesse redução nos benefícios da licença-maternidade (o que é discutível), como propõe a letra e, não haveria necessariamente redução no número de filhos com mulher. A correta é a alternativa d: a participação cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho no país nas últimas décadas (relacionado ao aumento da urbanização) reduz o número de filhos. O conflito entre a atuação profissional e a criação dos filhos está bem expresso na matéria acima, do Correio Braziliense, que pode ser lida no site do jornal.
O Afeganistão sob o governo teológico do Talibã
Malala Yousafzai, ativista paquistanesa e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, se pronunciou nas redes sociais e lamentou o novo fechamento das escolas para meninas no Afeganistão. “Eu tinha uma esperança para hoje: que as meninas afegãs não fossem mandadas de volta para casa. Mas o Talibã não cumpriu sua promessa”, escreveu no Twitter na quarta-feira. (…)
Para Malala, que já sofreu com a repressão do Talibã e tornou-se um símbolo na luta pelo direito à educação, o grupo continuará “encontrando desculpas para impedir que as meninas aprendam, porque tem medo de meninas educadas e mulheres empoderadas.”
A chefe da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), Audrey Azoulay, também criticou os talibãs: “Hoje a promessa de um retorno à escola para milhões de alunas de ensino médio foi quebrada no Afeganistão. É um retrocesso enorme. O acesso à educação é um direito fundamental.”
Em agosto de 2021, o Talibã tomou a capital do Afeganistão, Cabul, e voltou ao poder após quase 20 anos. A reascensão do grupo aconteceu em paralelo à retirada das tropas americanas do país. O presidente, Ashraf Ghani, apoiado pelos Estados Unidos, fugiu e não ofereceu resistência.
A volta do Talibã colocou entidades defensoras dos Direitos Humanos em alerta, já que histórico do grupo no país (e em outros) aponta para graves violações. Entre 1996 e 2001, quando o os talibãs controlavam o Afeganistão, foram estipuladas medidas rigorosas especialmente para as mulheres, que perderam o direito à educação e a liberdade de ir e vir sem estarem acompanhadas de um homem. (…)
Karolina Monte, Guia do Estudante, 25 de março de 2022
Análise e resposta da questão
O Afeganistão, país da Ásia Central, com população adepta da religião islâmica, está no centro de conflitos com envolvimento internacional nas últimas quatro décadas. Nos anos 1980, sofreu uma ocupação militar soviética, na luta contra a qual formaram-se milícias islâmicas (mujahedins). Em 1989, os soviéticos se retiraram. Em 1995, chega ao poder o Talibã, impondo um regime teocrático islâmico (ou seja, no qual os preceitos do Corão, livro sagrado para o islamismo, tornam-se a base para as leis de estado). Em 2001, os Estados Unidos atacam militarmente o Afeganistão, após o atentado às torres gêmeas, em Nova York, pois o Talibã dava guarida ao terrorista Osama Bin Laden, mentor do atentado. A ocupação militar durou 20 anos, como explica a matéria acima, do site do GUIA DO ESTUDANTE.
A questão do Enem 2023 traz um texto do portal noticioso g1 que noticia a perseguição a juízas após a volta ao poder do Talibã. Pede então que o estudante dê um qualificativo sobre o cenário apresentado.
Com base na leitura da matéria jornalística, dá para ter segurança na resposta. Pode-se afastar a alternativa a, pois o governo do Talibã, envolvido na situação de ameaça às juízas, é parte das “estruturas sociais”, bem como as juízas. Pelo mesmo motivo, deve se descartar a opção e. As demais alternativas poderiam deixar o estudante em dúvida. A opção b não parece adequada, sobretudo porque o Talibã é, ele mesmo, um grupo religioso. E, mesmo que as ameaças à vida de juízas possam ser consideradas contrárias a normas morais, o fato de que o impulsionador é o próprio regime, com base em moralidade questionável, afasta a letra c.
A alternativa d é a correta, porque é inquestionável que o cenário expressa o desrespeito à dignidade humana, outra maneira de falar da violação dos direitos humanos.
Ciências da Natureza
A energia nuclear, vantagens e desvantagens
Além de trocas de afagos, os presidentes Lula e Emmanuel Macron firmaram uma série de parcerias durante a visita do líder francês ao Brasil há alguns dias. Entre elas, está a promessa de ampliar os investimentos em energia nuclear e na exploração de minerais voltados às energias limpas. O noivado inclui, ainda, o que será o primeiro submarino movido a propulsão atômica do Brasil, um projeto que faz parte do ProSub, programa liderado pela Marinha brasileira. (…) A retomada de projetos nucleares não é exclusividade brasileira. (…) O renovado interesse se deve sobretudo à busca, nas grandes economias, de meios para cumprir metas de redução de emissões e, assim, combater as mudanças climáticas. Por não emitir gases de efeito estufa, a energia nuclear é uma das opções mais limpas de geração de energia. (…) [A COP 28] Foi também a primeira edição da conferência do clima em que a energia nuclear acabou incluída no documento final como parte da solução para frear o aquecimento global. “Das energias limpas, a nuclear é a única dita firme, porque fornece energia independente se chover, ventar ou fazer sol”, diz Inayá Corrêa, coordenadora do programa de Engenharia Nuclear do Instituto de Pesquisas em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). “Por isso, no combate às mudanças climáticas, todos os tipos de energia terão que ser considerados.”
Camila Barros e Juliana Elias, Veja Negócios, 6 de abril de 2024
Análise e resposta da questão
O tema da produção e consumo de energia está no centro das preocupações das sociedades modernas e é um dos assuntos de atualidade em destaque no Enem e nos vestibulares. O mercado de energia é global, dinâmico e muda com frequência, por fatores como a pressão por energia limpa ou questões geopolíticas, como as guerras na Ucrânia e na Palestina. A produção de energia nuclear chama a atenção por não ser poluente, ser potencialmente perigosa (vide os desastres em Chernobyl e Fukushima) e sofrer um regramento mundial pelo tratado de não proliferação nuclear. Para ser utilizado como fonte energética, o urânio passa por um processo de “enriquecimento” que poucos países dominam. O Brasil é um deles. Por isso, a parceria com a França para projetos nucleares e para a “transição energética” é de grande interesse para o país, como mostra a matéria de Veja Negócios, disponível em seu site.
Analisando as alternativas, podemos excluir mais facilmente a opção b, já que a geração de energia nuclear não usa madeira nem exige a derrubada de matas, a letra c, que fala de “chuva ácida”, bem como a d, pois as chaminés das usinas só emitem vapor d’água. A opção a também está incorreta, já que os resíduos produzidos são radioativos e de difícil destinação. A resposta certa é a letra e: a energia atômica produz calor sem emissões poluentes.
+ Rússia e Ucrânia: entenda a questão energética por trás da guerra
Prepare-se para o Enem sem sair de casa. Assine o Curso GUIA DO ESTUDANTE ENEM e tenha acesso a todas as provas do Enem para fazer online e mais de 180 videoaulas com professores do Poliedro, recordista de aprovação nas universidades mais concorridas do país.