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Estudo

OS FILÓSOFOS HELENÍSTICOS

A filosofia helenística surgiu da fusão de culturas ricas e distintas e é fortemente marcada pela preocupação com a ética

por Guia do Estudante Atualizado em 18 ago 2017, 16h08 - Publicado em
16 ago 2017
12h30

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O termo “helenístico” é usado para se referir à civilização que utilizava o grego como língua oficial a partir das conquistas de Alexandre, o Grande, em 336 a.C., até o domínio romano sobre a Grécia antiga, em 146 a.C, ou até o domínio romano sobre o Egito, em 30 a.C.

Com a expansão de Felipe II e Alexandre, o Grande, as cidades gregas perderam grande parte da autonomia e passaram a ser parte de um império. Depois da morte de Alexandre, sem herdeiros, o império entrou em decadência e se dividiu em três reinos. Os reinos helenísticos (macedônicos, selêucidas e ptolomaico) concentravam o poder no soberano absoluto, com uma corte vasta e uma poderosa burocracia – algo que, aliás, inexistia na Grécia clássica. As assembleias democráticas desapareceram, e a terra e a manufatura (cerveja, têxteis, papiro ou óleo) tornaram-se monopólio estatal. Uma série de golpes e contragolpes se sucedeu, e esses Estados logo se fragmentaram e foram paulatinamente anexados, nos séculos II e I a.C., pelos romanos.

No mundo helenístico há, no entanto, um fenômeno mais impressionante do que qualquer batalha de Alexandre: gregos, egípcios, persas, hebreus, mesopotâmicos e hindus, culturas tão ricas e distintas, passaram a ter contato. Surgia uma cultura nova, nem grega, nem oriental, mas híbrida, sincrética, sendo, por isso, chamada de cultura helenística. A língua grega tornou-se a “língua comum” em toda a região conquistada por Alexandre. O modelo das cidades gregas era exportado para o Oriente: nos territórios conquistados, Alexandre construiu cerca de 70 cidades, sendo Alexandria, no Egito, a maior cidade da época, eixo econômico e intelectual do Mediterrâneo Oriental.

A filosofia helenística surge nesse contexto histórico. Ela é fortemente marcada por uma preocupação central com a ética, aqui entendida como o estabelecimento de regras do bem viver, da “arte de viver”. É ilustrativo disso o famoso Manual, do romano Epicteto (50-125). Em outras palavras, com o fim da pólis grega e o advento das hegemonias (macedônica, romana ou bizantina), o homem deixou de ser analisado em sua condição de “animal político”, que deveria viver pela sua cidadania. Alijado da política ou desiludido com ela, passou a preocupar-se mais com sua felicidade pessoal. Num mundo pluralista e multicultural, ou seja, cosmopolita, o homem sentia-se desenraizado, e a pólis deixou de ser sua referência básica. A ataraxia (“paz de espírito” ou “tranquilidade”), e não a política, leva os homens à eudaimonia (“felicidade”).

Em vez de valorizar o autor (com exceções notáveis, tal qual Plotino, Zenão de Cítio, Epicuro ou Cícero), o pensamento no mundo helenístico é usualmente associado a uma escola ou tradição. A originalidade, assim, tem menos valor que a vinculação a um grupo. Muitas escolas helenísticas, por isso, foram acusadas de dogmáticas e doutrinárias, por deixar de lado o aspecto polêmico e dialético da filosofia grega. Além do mais, elas são profundamente ecléticas, por sintetizar diferentes doutrinas. As principais escolas helenísticas são a Estoica e a Epicurista.

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Escola Estoica

Busto de Sêneca
Busto de Sêneca (Reprodução/Reprodução)

A Escola Estoica foi fundada em Atenas, em 300 a.C., por Zenão de Cítio (344-262 a.C.), e desenvolvida por Cleantes (330-232 a.C.) e Crisipo (280-206 a.C.). Em Roma, os principais representantes do estoicismo foram Sêneca (4 a.C.-65d.C.), Epicteto (60-138) e o imperador Marco Aurélio (121-180).

O termo “estoicismo” deriva de stoa poikilé (“pórtico pintado”), local em Atenas onde os membros da escola se reuniam. O estoicismo é a primeira ética universal fundada numa igualdade de princípios de todos os homens: cada um deve se pensar como “cidadão do mundo”, isto é, um cosmopolita.

A noção de necessidade, ou destino (heimarmené), é muito forte no estoicismo: o homem deve resignar-se e aceitar os acontecimentos predeterminados. Isso não se traduz pela inação ou pelo fatalismo passivo. Devemos agir de acordo com os preceitos éticos e fazer o que julgarmos devido, mas devemos também aceitar as consequências de nossa ação e o curso inevitável dos acontecimentos. Segundo um exemplo famoso, se vejo alguém se afogando, devo salvá-lo, mas, se não o conseguir, não devo desesperar-me, pois era inevitável. É legítimo, portanto, um amor ao destino (amor fati).

Assim, os estoicos acreditam que, para manter nossa ataraxia, devemos nos preocupar apenas com o que podemos modificar (nossos pensamentos, ações, sentimentos).  O que não está ao nosso alcance, ou seja, o que não conseguimos modificar (morte, velhice, catástrofes naturais, a opinião dos outros) não deve ser alvo de nossas preocupações. O sábio, em vez de buscar mudar a ordem do mundo, deve saber mudar seus desejos. A liberdade é compreendida como adesão à necessidade do ser que sabe reconhecer na lei universal o que é mais apropriado à sua natureza primeira. Como disse Sêneca: “Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer”.

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Escola Epicurista

Busto de Epicuro
Busto de Epicuro (Reprodução/Reprodução)

Epicuro (341-271 a.C.), notabilizado por seu tratado Da Natureza, fundou sua escola em Atenas, em 306 a.C., reunindo-se com seus discípulos no Jardim (Kepos), que ficou conhecido na Antiguidade. O Jardim tornou-se uma comunidade filosófica que põe em prática a ideia de frugalidade, serenidade e amizade, a rejeição das superstições religiosas e as vaidades sociais. Os sábios constroem um pequeno mundo amistoso em que reinam livremente a sabedoria e a amizade, no qual são recebidos abertamente mulheres, crianças, escravos e estrangeiros.

Para Epicuro, o que nos afasta do soberano bem são os quatro grandes medos humanos: medo dos deuses, medo da morte, medo do sofrimento e medo da dor. Os quatro medos não têm razão de ser, pois são alimentados por crenças vãs. De fato, não são as coisas que nos atormentam, mas, sim, as elaborações e os pensamentos que temos delas. A morte, por exemplo, não deve ser temida, pois, se pensarmos, veremos que não há por que ansiar a imortalidade. Além disso, a morte “não é nada em relação ao homem: ou ela existe e ele não existe ou ele existe e ela não existe”. A morte de um amigo não nos deve fazer infelizes, pois não é um mal para ele.

Para os epicuristas, o homem age eticamente na medida em que dá vazão a seus desejos e necessidades naturais de forma equilibrada ou moderada, e é isso que garante a ataraxia, porque “aprender e gozar andam juntos”. A valorização do prazer (hedoné) como algo natural e a concepção de que a realização de nossos desejos naturais e espontâneos é positiva deram origem à imagem, certamente distorcida, de que o epicurista é alguém devotado a uma vida cirenaica de prazeres. Ao contrário, o prazer excessivo joga-nos novamente na dor, que por sua vez nos leva à ação viciosa. Existem três tipos de prazeres: os naturais e necessários, que devemos buscar, pois a não satisfação causaria em nós uma dor real; os nem naturais nem necessários, cuja não satisfação não causaria uma dor verdadeira, e, portanto, artifícios da vaidade devem ser evitados; e os naturais, mas não necessários (como um bom vinho ou o amor), que devem ser evitados.

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