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“Balada de Amor ao Vento”: resumo e análise da obra de Paulina Chiziane

Saiba mais sobre o enredo do livro e como ele pode ser cobrado pela Fuvest, vestibular da USP

Por Redação
9 jun 2025, 19h00
Autora Paulina Chiziane ao lado da capa do livro "Balada de Amor ao Vento"
 (Wikimedia Commons/Companhia das Letras/Reprodução)
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Quem se prepara para a Fuvest sabe que apenas entender o enredo das leituras obrigatórias não é o suficiente para garantir um bom resultado no exame. É preciso também conhecer o contexto da história, analisar os principais temas abordados e refletir sobre como a banca pode elaborar as questões. Quando a obra é estreante na lista, como é o caso do livro “Balada de Amor ao Vento”, de Paulina Chiziane, a atenção é redobrada. 

Pensando nisso, o GUIA DO ESTUDANTE conversou com Tatiana Mascarenhas, professora de Literatura do Curso Anglo, e Isabela Araujo Ramos, editora de avaliações do SAS Educação, e reuniu tudo que você precisa saber sobre o livro da autora moçambicana. Confira!

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Resumo de “Balada de Amor ao Vento”

“Balada de amor ao vento” acompanha a trajetória de Sarnau, uma mulher que decide apresentar ao leitor as lembranças de sua juventude em Mambone, local onde ela conheceu o seu grande amor e também onde sofreu com as constantes desilusões amorosas que essa relação lhe traria ao longo da vida. 

“Nesse retorno ao passado, a obra descreve – com muita poesia e subjetividade – o momento em que Sarnau conheceu Mwando e o período em que os dois viveram um avassalador, mas breve romance, descrito por meio de figuras poéticas que associam a beleza estonteante da natureza com o sentimento profundo e intenso da paixão sentida pelos dois”, explica Isabela. 

Contudo, esse período dura pouco e, apesar de Sarnau continuar perdidamente apaixonada, Mwando logo lhe causa a primeira decepção ao revelar que irá se casar com uma moça escolhida por sua família. A partir desse momento, Sarnau segue uma jornada solitária que é muito similar à de outras mulheres de seu povo: ela casa-se com Nguila, um homem adepto da poligamia e que acaba por ser o futuro rei de sua terra. 

Nesse relacionamento, nem todo o luxo e a estabilidade da vida como rainha fazem com que Sarnau sinta-se feliz, pois o dinheiro não aplaca as dificuldades de ser uma mulher em uma sociedade tão desigual e hierarquizada. Essas dores já tinham sido prenunciadas ainda na cerimônia de seu casamento, na qual Sarnau, ao receber seu grandioso lobolo – o preço da noiva – ouviu das mulheres de sua família que a relação dela com Nguila seria complicada, visto o papel difícil exercido pela mulher em uma relação poligâmica.

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Diante dessa profecia, Sarnau se vê pressionada a dar à luz um herdeiro e convive com a inimizade das outras esposas de seu marido, em especial Phati, que está sempre atenta a seus movimentos. É nesse momento de solidão e infelicidade que Sarnau reencontra Mwando e a paixão intensa dos dois faz com que ela fique presa no dilema entre manter sua posição como rainha ou arriscar tudo em nome do grande amor de seu passado. 

Delatada por sua grande rival e acusada de adultério, Sarnau foge com Mwando e deixa para trás seus filhos, herdeiros de Nguila, mas é abandonada novamente pelo rapaz, que teme a retaliação do rei. Sozinha e esperando uma filha de seu grande amor, Sarnau sacrifica e doa tudo de si para pagar a dívida de seu lobolo e para criar a menina.

Após 15 anos, vivendo agora como comerciante, Sarnau reencontra Mwando, que alega ter se arrependido de tê-la deixado e conta a ela as histórias dos anos que passou na Angola nos campos de trabalhos forçados. Pressionada por seus sentimentos e pela influência de Mwando sobre os filhos, Sarnau cede mais uma vez às promessas de amor que escuta desde sua juventude. 

Quais são os principais temas abordados na obra?

Segundo a editora de avaliações do SAS Educação, a obra de Paulina Chiziane é uma fonte riquíssima de temáticas socioculturais. Ao dar voz para as memórias de uma protagonista como Sarnau, Chiziane não apenas narra as dores de um amor mal correspondido e repleto de idas e vindas, mas também abre espaço para uma discussão cultural sobre o impacto da poligamia em Moçambique, retratando a vida de mulheres que precisam provar seu valor diante de relacionamentos em que o poder é incerto e condicionado. 

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“Chiziane, contudo, não se detém apenas na crítica a essa questão cultural, mas também retrata a condição social das mulheres de uma perspectiva global, apresentando a fragilidade da reputação feminina e também a vulnerabilidade vivida por meninas e moças diante da objetificação de seus corpos e de suas funções enquanto esposas e mães”, explica Isabela. Ou seja, a autora mostra que a condição da mulher é degradante não apenas nesta cultura, mas em muitas. 

Ainda nessa temática, a relação entre Sarnau e as outras mulheres de sua família, bem como a interação entre ela e as outras esposas de Nguila revelam a complexidade das relações femininas, colocando em pauta a questão da maternidade e da rivalidade entre mulheres. 

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Um outro tema também discutido pela obra são as marcas da colonização e do imperialismo em países africanos, em especial Moçambique e Angola. 

Além desses elementos mais sutis no enredo, Chiziane dedica os capítulos finais para retratar o contexto de exploração dos trabalhadores forçados e condenados ao degredo, que consistia em uma pena para infratores deportados para regiões diferentes daquela em que viviam e submetidos à exploração.

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No livro, Mwando acaba por receber a condenação após se envolver com a mulher de um soldado e é enviado para a Angola, onde espera-se que ele trabalhe nos canaviais. Nesse momento da obra, Paulina Chiziane se dedica a descrever a condição de insalubridade dos navios que levam os condenados, muitos penalizados por falsas acusações.

A obra também reflete sobre como as dinâmicas de poder impostas pela colonização resultam em ciclos de violência, levantando uma discussão importante sobre exploração sistêmica.

“Os pretos gritavam para outros pretos como se pretos não fossem. O escravo liberto torna-se tirano. O homem alcança as alturas cavalgando nos ombros dos outros”.

Essa mesma reflexão retorna em sua obra por meio do personagem de Mwando, que após conseguir uma boa posição no degredo, também contribui para evitar que seus companheiros se rebelem. 

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Paulina Chiziane: uma pioneira que você precisa conhecer

Paulina Chiziane é uma pioneira, já que foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique. “Trata-se de uma autora que entende seu papel como porta-voz de um grupo de mulheres que foram, e ainda são, constantemente subjugadas”, explica Tatiana. 

Nascida em 1955 e criada em Maputo, a escritora teve uma criação fortemente banhada em princípios anticoloniais, especialmente pela influência de seu pai, que exigia que em casa fosse falada apenas a língua materna de seu povo. Dessa forma, Chiziane teria seu primeiro contato com a língua portuguesa apenas na escola. 

Crescendo em um ambiente em que as discussões políticas estavam em ascensão, Chiziane teve uma juventude política ativa, participando de movimentos pela independência, como a Frente de Libertação de Moçambique.

“Esse compromisso reverbera em sua literatura, que traz uma proposta importantíssima de resgate de uma herança que foi marginalizada durante a colonização. Inclusive vemos ao longo de seus livros a busca por descolonizar a linguagem, mesclando o uso do português com elementos da tradição oral do país. Quando lemos Chiziane, temos a impressão de que somos ouvintes sentados aos pés de uma grande contadora de histórias”, completa a professora do Anglo.

A partir de 1984 ela passa a trabalhar com a publicação de contos, e estreia nos romances em 1990, com “Balada de Amor ao Vento”. 

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Anos depois, em 2021, Chiziane se tornou a primeira mulher africana a receber o Prêmio Camões de literatura. 

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Como o livro pode ser cobrado pela Fuvest?

“A obra promove uma série de reflexões sociais e culturais a serem exploradas pela Fuvest. Para além dos temas já citados, é possível que o vestibular peça uma reflexão que relacione o romance a outras obras da lista de leituras obrigatórias. Nesse campo, o livro é um mar cheio de possibilidades”, afirma Isabela.

Uma das conexões mais diretas é a intertextualidade entre “Balada de Amor ao Vento” e “Canção Para Ninar Menino Grande”, de Conceição Evaristo. As duas obras tratam sobre o impacto das relações amorosas na vida das mulheres, mostrando que homens como Mwando, Nguila e Fio Jasmim (da obra de Conceição Evaristo) muitas vezes não entendem o quanto seus comportamentos inconstantes e seus desejos pessoais podem atingir as mulheres à sua volta. 

Desse modo, os dois romances tratam sobre masculinidade, sobre mulheres negras e suas paixões, e a solidão a que muitas são submetidas. Também evidenciam, em contextos distintos mas familiares uns aos outros, como a rivalidade feminina muitas vezes decorre de um mesmo lugar de dor e submissão. 

Outra possibilidade de conexão, segundo a especialista do SAS, é a proximidade estrutural entre a obra de Chiziane e a trama de “Memórias de Martha”, de Júlia Lopes de Almeida. Em ambos, encontramos personagens que recordam seu passado. Enquanto Martha tem uma visão mais melancólica de sua infância no cortiço, Sarnau relembra de sua juventude com ternura e saudosismo. 

As duas obras também dialogam quanto ao tema da maternidade, algo muito central na história de Martha e de sua mãe. Em “Balada de Amor ao Vento”, Sarnau enfrenta o dilema de ter que escolher entre a sua felicidade individual ou a perspectiva de viver em um relacionamento infeliz em nome dos filhos. Ao final da trama, o leitor também descobre o quanto ela sacrificou para criar Phati e João.

Em um determinado ponto da narrativa, é feita uma reflexão sobre o papel das fêmeas no cuidado com os filhotes – “todos tentaram fugir, menos as fêmeas que preferiram morrer calcinadas junto dos seus rebentos. Quem ama de verdade sacrifica-se pelo objeto do seu amor.” – o que evoca a questão da maternidade discutida por Júlia Lopes de Almeida em sua obra. 

Por fim, a trajetória de Sarnau também se aproxima da experiência vivida por Noemi em “Caminho de Pedras”, de Rachel de Queiroz. As duas são protagonistas condenadas socialmente por adultério e em ambas as obras há uma reflexão sobre as dores internas vividas por elas. 

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Por que a obra foi escolhida pela Fuvest?

Embora o vestibular não divulgue os motivos que levaram a escolha de cada obra, há algumas possíveis explicações que podem ter contribuído para a decisão.

Segundo Isabela, essa é uma obra estruturada com poeticidade e dotada de muita simbologia, que trata não apenas sobre a dor do amor e da solidão da mulher, mas também sobre a associação desses sentimentos com uma estrutura social e cultural desigual e instável devido a conjunturas sócio-históricas de exploração. 

Desse modo, a trajetória de Sarnau retrata problemáticas que são comuns a diferentes países africanos, mas que também encontram conexões com a própria trajetória de formação do Brasil, fazendo de seu romance uma fonte inspiradora de reflexões para os leitores. 

“Essas características e o papel da obra e da autora para a literatura africana de língua portuguesa coloca o livro como um chamariz importante na formação educacional dos estudantes e demonstra um possível interesse do vestibular em convidar os estudantes a refletirem sobre a realidade cultural e social de países tão distantes do nosso, mas com tantos traços em comum a nossa própria realidade”, explica a especialista.  

Balada de amor ao vento

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