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Quem é Conceição Evaristo, autora que aparece nos maiores vestibulares

Com títulos nas listas de leitura obrigatória da Fuvest e da Unicamp, a autora já apareceu também na prova do Enem

Por Julia Di Spagna
26 jan 2024, 10h00
conceição evaristo
 (Giovanna Querido/Reprodução)
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A Fuvest, porta de entrada para a USP (Universidade de São Paulo), anunciou que, a partir de 2026, vai ter pela primeira vez na história uma lista de leitura obrigatória só com obras escritas por mulheres. Entre as escolhidas pela banca do vestibular, está Conceição Evaristo, que também tem um livro presente na lista da Unicamp e já apareceu na prova do Enem. Mas, afinal, quem é a escritora e por que ela é tão relevante a ponto de ser selecionada para os maiores vestibulares do país?

Homenageada como Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti, em 2019, Conceição Evaristo é uma das maiores personalidades da literatura contemporânea brasileira. Suas obras abordam a ancestralidade e a genealogia afro-brasileira, retratando o cotidiano de mulheres negras e os preconceitos que enfrentam nos âmbitos social, cultural e político. 

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Para te ajudar a entender melhor a história e importância de Conceição, o GUIA DO ESTUDANTE destrinchou a trajetória da escritora, suas principais obras e características de seus livros e personagens. Confira.

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Trajetória

Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em Belo Horizonte (MG), em 1946. Vinda de uma família pobre, ela cresceu na favela de Pindura Saia cercada de mulheres cozinheiras, faxineiras e empregadas domésticas. Segunda filha mais velha de nove irmãos, ela vivia ouvindo histórias da mãe e das tias, incluindo relatos sobre a escravização.

No início da década de 1970, Conceição se mudou para o Rio de Janeiro e se formou em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trabalhou como professora da rede pública de ensino da capital fluminense e, em 1996, tornou-se Mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, com a dissertação Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade (1996). Em 2011, concluiu o doutorado em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense (UFF), com a tese Poemas Malungos – Cânticos Irmãos.

Sua estreia na literatura foi em 1990, quando passou a publicar seus contos e poemas na série “Cadernos Negros”. Desde então, já escreveu uma série de livros e seus textos conquistam um público cada vez maior. Algumas obras já foram traduzidas para outras línguas, como francês e árabe, e ela participa de publicações na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. 

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Além de se dedicar à escrita, Conceição já deu aulas em universidades e instituições no Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Suas obras

“Eu sempre tenho dito que a minha condição de mulher negra marca minha escrita de forma consciente. Faço opção por esses temas por escrever dessa forma. Isso me marca como cidadã e me marca como escritora, também”, disse em entrevista ao jornal O Globo.  

Uma das grandes marcas da escritora é a chamada escrevivência. A partir da aglutinação das palavras “escrever” e “vivência”, o termo foi criado por ela para se referir a uma escrita que explora o relato de suas memórias pessoais e coletivas, tendo a mulher negra como figura central. Assim, suas obras são a tradução de suas experiências pessoais e vem de um local de quem as viveu e ainda vive.

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Em Olhos d’Água – livro vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Contos, em 2015, e presente na lista da Unicamp – é possível, por exemplo, notar como a história da autora impacta diretamente os temas da obra e seu foco de ecoar a voz daqueles que foram historicamente excluídos da vida dos centros socioeconômicos.

Vale lembrar que, por mais que a literatura nacional esteja repleta de personagens negros, a maior parte deles foi escrita por autores brancos. Assim, Conceição Evaristo faz com que as narrativas sejam contadas da perspectiva de quem as vivenciou na prática.

Em seu primeiro romance, Ponciá Vicêncio, ela narra a vida de uma mulher negra, desde sua infância até a idade adulta, em uma população de descendentes de escravizados. Em 2006, seu segundo romance, Becos da Memória, aborda o drama de uma comunidade favelada em processo de remoção. Novamente, o protagonismo é de uma figura feminina lutando contra a pobreza e a discriminação. 

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Ela também publicou poesias que trazem o tom de denúncia da condição social dos afrodescendentes, sem perder a sensibilidade de sua escrita, além de outras obras mais recentes nas quais explora o universo das relações de gênero em um contexto social marcado pelo racismo e pelo sexismo. 

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Importância na literatura

A escrita de Conceição Evaristo tem grande relevância para a formação cultural brasileira e é reconhecida nacional e internacionalmente.

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Em 2018, ela recebeu o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra. Como já mencionado, em 2019, também recebeu o título de Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti e já foi convidada para dar palestras em universidades estrangeiras. 

Um dos motivos para a importância de sua literatura está na postura crítica e sensível que ela assume em relação à história do povo negro no Brasil, aprofundado reflexões sobre discriminação racial e desigualdades de classe e de gênero e trazendo um retrato da realidade de boa parte da população brasileira, por meio de suas próprias experiências.

Assim, Conceição Evaristo desempenha um papel fundamental, reverenciando suas raízes ancestrais e dando protagonismo aos negros na literatura nacional contemporânea, por meio da denúncia e das críticas às dificuldades enfrentadas e ao descaso social em relação aos moradores das “favelas e becos”, além de estimular o autoconhecimento e valorizar a identidade dos afro-brasileiros. 

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