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“Caminho de Pedras”: resumo e análise da obra de Rachel de Queiroz

Alguns livros são reflexos de seu tempo e com este não é diferente! Conheça a obra de Rachel de Queiroz que não é uma biografia, mas poderia ser

Por Ludimila Ferreira
23 jun 2025, 19h00
obra de Rachel de Queiroz
 (Guia do Estudante/Amazon/Canva/Reprodução)
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Leitura obrigatória da Fuvest 2026, o vestibular da USP (Universidade de São Paulo), “Caminho de Pedras” é uma das obras mais políticas da autora Rachel de Queiroz. O livro, repleto de paralelos com sua vida pessoal, não pode ser confundido com uma biografia, mas mostra a dura realidade daqueles que militaram contra a Ditadura Vargas nos anos 1930.

O GUIA DO ESTUDANTE traz abaixo um resumo da obra, além de uma análise dos principais aspectos da narrativa. Para isso, contamos com a ajuda de Mariana Veiga Copertino, Professora de Literatura do Poliedro Curso Online e doutora em Estudos Literários pela Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Confira!

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A história de Caminho de Pedras

Roberto está de volta a Fortaleza, Ceará, depois de passar anos no Rio de Janeiro e começar a ser perseguido pelos “tiras” por lutar contra o governo ditatorial que se instala no Brasil naquele momento. Seu papel é se juntar a outros militantes e organizar um levante em prol de direitos para os trabalhadores, porém ele lida com a rejeição dos operários que o enxergam como um pequeno-burguês por ser jornalista.

Apesar do início no livro parecer ser sobre a jornada de Roberto como militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), a verdadeira personagem principal é Noemi, uma mulher que trabalha na empresa de fotografias da cidade, cujo marido é um ex-militante cansado se lutar tanto sem ver avanços.

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A luta política contra a opressão serve de pano de fundo para o triangulo amoroso que se desenha entre Roberto, Noemi e seu marido João Jacques.

Noemi é convidada por Roberto para se juntar à luta e rompe com os padrões tradicionais de esposa e mãe ao se tornar politicamente atuante, em busca também de realização pessoal.

Além dos conflitos internos de Noemi e Roberto, o livro aborda os impasses que existem dentro do próprio movimento comunista, no qual Roberto enfrenta resistência dos operários que o veem como um “intelectual alheio à causa”, evidenciando o conflito interno entre os chamados “tamancos” (operários) e “gravatas” (intelectuais) dentro do partido, temática de grande importância ao longo da narrativa.

Ao longo da narrativa, Noemi e Roberto se aproximam cada vez mais, até ela pedir a separação de seu marido, que ameaça levar Guri, o filho deles, embora. No fim, acaba desistindo e muda-se de cidade, deixando a esposa para trás. Noemi é julgada por ser uma mulher separada e perde seu emprego.

Perto do fim da narrativa, Guri morre de uma doença misteriosa, Roberto se torna um preso político e Noemi fica grávida. Ela também é presa, mas, devido à gestação, é liberada.

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Então, enquanto sobe uma ladeira de pedras e tropeça, ela pensa que se tivesse insistido em assumir sozinha a distribuição dos panfletos, Roberto não teria sido preso e eles poderiam trilhar esse caminho difícil juntos — no sentido literal e no metafórico.

“Seu arco dramático, envolto em dolorosas perdas, é um símbolo de luta por autonomia e liberdade.”, conclui a professora.

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O narrador de Caminho de Pedras

O livro é narrado em terceira pessoa, com um narrador onisciente neutro – aquele que possui conhecimento total da história e dos personagens, incluindo seus pensamentos, sentimentos, passado, presente e futuro, além de não inserir observações sobre a trama.

Apesar de acompanhar principalmente Roberto durante toda a trama, o narrador sabe o que cada personagem quer e está fazendo, como se vivesse na cabeça de todos eles.

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O tempo da obra

Lançado em 1937, “Caminho de Pedras” transporta o leitor para a Fortaleza dos anos 1930, um cenário urbano marcado por mudanças políticas e sociais profundas. A obra integra a segunda fase do Modernismo brasileiro, quando a literatura ganha contornos mais críticos e passa a discutir de forma direta as tensões da sociedade.

O ano de publicação não é coincidência: foi nesse mesmo período que Rachel de Queiroz foi presa, acusada de envolvimento com o movimento comunista, em meio à repressão que antecedeu o Estado Novo. O clima de censura e perseguição política está presente nas entrelinhas do romance.

Além de refletir experiências pessoais da autora, o livro também toca em questões internas do Partido Comunista Brasileiro, como as disputas de poder e os esforços para alinhar o partido às diretrizes soviéticas, o que incluía afastar intelectuais das decisões políticas. Esses conflitos ideológicos aparecem de forma simbólica e crítica na trama, revelando como a literatura também serviu como espaço de resistência.

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Os personagens de Caminho de Pedras

  • Noemi: personagem principal que se interessa por política;
  • João Jaques: marido de Noemi. Desiludido com a política, representa o conformismo e o abandono da luta ideológica;
  • Guri: filho de Noemi e João Jaques;
  • Roberto: jornalista comunista, é um articulador de conflitos narrativos, pois desperta na camarada Noemi um fascínio absoluto ao mesmo tempo em que provoca na célula comunista os atritos internos por representar o elemento intelectual num espaço de luta operária.
  • Filipe: guardador de livros militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB);
  • Vinte-e-um: homem negro operário que se opõe a Roberto;
  • Rufino: operário que tenta equilibrar os ânimos entre Vinte-e-um e Roberto.

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As mensagens do livro

De acordo com a professora Mariana Veiga, o vestibulando que se prepara para a Fuvest precisa observar os seguintes aspectos:

  • A obra se insere na linha do romance de crítica social do Modernismo, vinculada à chamada 2ª Geração Modernista, de teor engajado e político;
  • O livro aborda principalmente a autonomia feminina, tema atual e recorrente em vestibulares, Noemi pode ser comparada a outras figuras femininas da literatura que desafiam papéis impostos. Aqui, a protagonista representa a inserção da mulher na política e a ruptura com os valores patriarcais;
  • Conflito entre razão e emoção, e ideologia e desejo, são elementos que enriquecem análises interpretativas e podem ser exigidos em questões dissertativas;
  • Relações com o contexto histórico e a representação da repressão política, censura e perseguição aos comunistas durante o Estado Novo;
  • Rachel de Queiroz como intelectual e militante. Sua biografia ajuda a entender o embasamento autobiográfico da obra e fornece material para possíveis questões interdisciplinares (literatura + história);
  • A crítica à burocratização e dogmatismo partidário, no qual há um tom crítico ao fechamento e à rigidez do movimento comunista;
  • A oposição entre “tamancos” e “gravatas” evidencia divisões reais e internas do PCB, reflexo da tentativa histórica de “proletarização” do partido nos anos 1930. Os personagens operários personificam a resistência à liderança intelectual dentro do partido, defendendo a autogestão operária.

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A autora

Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1977. Nascida no dia 17 de novembro de 1910 em Fortaleza, Ceará, local em que se passa “Caminho de Pedras”, ainda não tinha completado 20 anos quando publicou “O Quinze”, seu primeiro romance.

Em 1931 se mudou para o Rio de Janeiro, onde se dedicou ao jornalismo, atividade que exerceu enquanto trabalhava também na sua produção editorial. Ela também foi a primeira mulher a receber o Prêmio Camões em 1993, a maior honraria em Língua Portuguesa. Além dos romances, a autora também escreveu peças teatrais e livros infantis.

Rachel faleceu no Rio de Janeiro, aos 92 anos, em 4 de novembro de 2003.

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