A família sempre foi fundamental para cultivar o interesse social, político e racial em Fatou N’Diaye. As discussões sobre acontecimentos internacionais e decisões governamentais de impacto direto na sociedade eram parte das conversas na mesa de jantar desde que a menina era pequena.
Por isso, não foi difícil para a menina elaborar o que aconteceu e se pronunciar sobre o racismo que sofreu de alguns colegas de classe ainda durante o Ensino Médio, depois de mensagens enviadas pelo celular, no ano de 2020. A luta antirracista e outras pautas político-sociais já faziam parte da reflexão cotidiana da menina, que acabou saindo da escola. Os colegas não foram punidos.
O episódio não desanimou Fatou, muito pelo contrário: a jovem de origem senegalesa (ambos os pais são nascidos no país africano) se utilizou da força das redes sociais, principalmente do Instagram, para dar voz à discussões importantes e combater a xenofobia e outras formas de intolerância, sejam elas étnicas ou religiosas.
Ainda em 2020, Fatou recebeu uma bolsa de estudos em um colégio que oferecia o programa IBDP – em inglês, Programa Internacional de Diploma de Bacharelado -, uma iniciativa que prepara alunos para estudar em uma universidade no exterior.
Entre 2020 e 2022, a rotina de Fatou foi árdua: ela conciliava os estudos do ensino médio regular com as matérias da grade internacional (que, juntas, somavam doze horas de empenho). Além disso alimentava seu Instagram com conteúdos político-sociais, com a preocupação de serem os mais completos e embasados possível – sua grande preocupação era não repassar informações falsas ou incompletas.
O poder da leitura
Para dar conta do trabalho, Fatou contou com a ajuda de um velho e grande amigo: o hábito de leitura. A jovem acredita que o costume de ler com frequência “foi fundamental até para começar a gostar de escrever, e foi um ponto de virada dentro do meu entendimento sobre a luta antirracista, e dentro da minha própria capacidade de produção [de conteúdo para as redes sociais”.
Para Fatou, a leitura deve ser incentivada desde o início: “eu acho que apresentando a leitura como algo multifacetado faz com que as pessoas procurem um livro. A informação está principalmente nos livros.”
E Fatou N’Diaye dá a letra para aqueles jovens que, assim como ela, também desejam produzir conteúdos sobre intolerância. O primeiro passo é se informar. “Tem muita informação falsa na internet, então é importante saber onde você está se informando e se embasar, para não propagar conteúdo falso.”
Mas todo o esforço e busca por informações corretas da jovem valeu a pena: Fatou foi aceita com bolsa de estudos integral na Universidade de Gettysburg, nos Estados Unidos, onde estudará Economia Matemática e Políticas Públicas. Arrasou, hein!
Em conversa com o GUIA DO ESTUDANTE, Fatou N’Diaye indicou 5 livros para entender questões contemporâneas e étnico-raciais. Confira aqui:
1. “Entre 4 paredes” – B.A. Paris
Grace é uma mulher e esposa perfeita. Casada com Jack, um belo e charmoso advogado especialista em casos de violência doméstica, Grace dedica seus dias à casa e ao marido. Os dois fazem tudo juntos.
No entanto, algo parece errado: Grace não sai sem Jack. Também não possui celular, e seu único contato com o mundo exterior é um e-mail compartilhado com o esposo. O thriller tem como tema principal as aparências, que muitas vezes não mostram o que realmente está acontecendo por trás dos panos: um sonho que, na verdade, pode ser um grande pesadelo. Quais são os planos de Grace para sair desta situação?
2. “O Mundo Se Despedaça” – Chinua Achebe
Este romance do nigeriano Chinua Achebe narra a história do guerreiro Okonkwo, da etnia Ibo, e de sua cultura.
Chinua Achebe é considerado um dos maiores escritores da Nigéria, e não à toa: sua escrita arremessa o leitor na cultura e sociedade Ibo, a Ibolândia. O livro foca no momento em que missionários britânicos inserem o cristianismo na tribo de Okonkwo – e mostra a sequencial perda de valores da etnia local sob os valores europeus.
3. “No seu Pescoço” – Chimamanda Ngozi Adichie
Este livro de Chimamanda Ngozi Adichie, que compõe a lista de leituras obrigatórias da Unicamp 2024, é uma coletânea de doze contos que têm como tema principal questões étnicas em diferentes contextos e situações.
O título da obra faz menção a um dos contos, que narra a história de uma nigeriana que vai para terras americanas e começa um relacionamento com um homem branco. Assim, acaba lidando com os preconceitos e as problemáticas de um namoro interracial.
4. “Comunidades Imaginadas” – Benedict Anderson
Para entender este livro, primeiro precisamos entender o próprio autor. Benedict Anderson é filho de pais britânicos, nasceu na China, cresceu na Califórnia e hoje mora no Reino Unido. Por ter sido imerso em diversas nações e culturas, Anderson decidiu estudar o sentimento de nacionalismo a fundo, e é sobre isso o tema do livro.
O autor coloca uma lupa no conceito nacionalista, para explica-lo do ponto de vista cultural, e explica que esse sentimento esta mais interligado ao pertencimento do que ao Estado politico como muitas vezes o associamos.
5. “O Santo e a Porca” – Ariano Suassuna
Esta peça, de autoria de um dos maiores nomes do teatro brasileiro, usa a literatura de cordel e a comédia para retratar a miséria da alma humana e as dicotomias entre o sacro e o profano.
Contada em três atos, “O Santo e a Porca” tem como personagem principal Euricão Árabe, um velho avarento extremamente religioso que tem uma porca recheada de dinheiro em casa.
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