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Marca Texto analisa ‘Romanceiro da Inconfidência’, de Cecília Meireles

O professor Paulo de Oliveira, do curso Anglo, analisa a obra que é cobrada no vestibular da Fuvest

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 12 nov 2021, 17h29 - Publicado em 28 jun 2021, 21h30
Resumo - Romanceiro da Inconfidência é uma coletânea de poemas da escritora Cecília Meireles, publicada em 1953. A obra conta a História de Minas dos inícios da colonização no século 17 até a Inconfidência Mineira, revolta ocorrida em fins do século 18.
Romanceiro da Inconfidência é uma coletânea de poemas da escritora Cecília Meireles, publicada em 1953. A obra conta a História de Minas dos inícios da colonização no século 17 até a Inconfidência Mineira, revolta ocorrida em fins do século 18. (Guia do Estudante/Divulgação)
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Inspirada por uma visita a Ouro Preto, Cecília Meireles compôs esse poema de temática social, que evoca a luta pela liberdade no Brasil do século 18 e incorpora elementos dramáticos, épicos e líricos. Ouça o episódio no link abaixo:

Gênero Romanceiro e estrutura da obra

O gênero romanceiro é uma coleção de poesias ou canções de caráter popular. De tradição ibérica, surgiu na Idade Média e é, em geral, uma narrativa com um tema central. Cada parte tem o nome de romance – que não deve ser confundido com a denominação do atual gênero em prosa.

Nessa obra de Cecília Meireles, há 85 romances, além de outros poemas, como os que retratam os cenários. Em sua composição, é utilizada principalmente a medida velha, ou seja, a redondilha menor, verso de cinco sílabas poéticas (pentassílabo) e, predominantemente, a redondilha maior, verso de sete sílabas (heptassílabo), como ocorre na “Fala Inicial”:

Não posso mover meus passos
por esse atroz labirinto
de esquecimento e cegueira
em que amores e ódios vão:
(…)

No entanto, deve-se observar que, por ser uma autora moderna, Cecília não se prende totalmente a esse modelo. Vale-se, também, de versos mais curtos, de quatro sílabas (como em “Fala aos Inconfidentes Mortos”), e os mais longos, como os decassílabos em “Cenário”.

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Quanto às rimas, a autora utiliza as chamadas imperfeitas (terminações de versos semelhantes), como se pode observar no Romance XIII:

Eis que chega ao Serro Frio,
à terra dos diamantes,
o Conde de Valadares,
fidalgo de nome e sangue,
José Luís de Meneses
de Castelo Branco e Abranches.
Ordens traz do grão Ministro
de perseguir João Fernandes.
(…)

A escritora faz uso, ainda, de rimas perfeitas (terminação em sons vocálicos e consonantais idênticos), tal como no Romance VI:

Já se preparam as festas
para os famosos noivados
que entre Portugal e Espanha
breve serão celebrados.
Ai, quantas cartas e acordos
redigidos e assinados!
(…)

Os romances

Fruto de longa pesquisa histórica, Romanceiro da Inconfidência é, para muitos, a principal obra de Cecília Meireles. Nesse livro, por meio de uma hábil síntese entre o dramático, o épico e o lírico, há um retrato da sociedade de Minas Gerais do século XVIII, principalmente dos personagens envolvidos na Inconfidência Mineira, abortada pela traição de Joaquim Silvério dos Reis, o que culminou na execução de Tiradentes.

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Tematicamente, pode-se localizar a ambientação da narrativa nos primeiros 19 romances. A descoberta do ouro, o início de uma nova configuração social com a chegada dos mineradores e toda a estrutura formada para atendê-los, os costumes, os “causos”, como o da donzela morta por uma punhalada desferida pelo próprio pai (Romance IV), ou os cantos dos negros nas catas (VII), o folclore, a história do contratador João Fernandes e de sua amante Chica da Silva e o alerta sobre a traição do Conde de Valadares (XIII a XIX). A ênfase recai na cobiça do ouro, que torna as pessoas inescrupulosas.

Vila Rica é o “país das Arcádias”, numa alusão direta ao neoclassicismo brasileiro, com seus principais poetas e suas pastoras: Glauceste Satúrnio e Nise, Dirceu e Marília. No belo Romance XXI, as primeiras idéias de liberdade começam a circular.

A partir do Romance XXIV, a insatisfação, a revolta contra a corte portuguesa é explicitada com a confecção de uma bandeira (Libertas quae sera tamen). Do XXVII ao XLVII, há a atuação do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que procurava atrair mais gente para a conspiração, em longas cavalgadas pela estrada que levava ao Rio. Contudo, os planos são abortados antes de ser efetivamente colocados em prática por causa dos delatores, principalmente Joaquim Silvério dos Reis (XXVIII).

Segue-se uma devassa completa, prisões, confisco de bens, falsos testemunhos, a morte de Cláudio Manuel da Costa, o Glauceste Satúrnio, sob condições misteriosas (XLIX), a execução de Tiradentes, antecipada na fala do carcereiro (LII) e explicitada nos romances LVI a LXIII.

Após um período como magistrado, Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu, é também preso, julgado e condenado ao exílio em Moçambique (LIV e LV). Lá, longe de sua ex-noiva e agora inconsolada Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília (LXXIII), casa-se com Juliana de Mascarenhas (LXXI).

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Os romances finais falam do poeta Alvarenga Peixoto, sua esposa, Bárbara Eliodora, e sua filha, Maria Ifigênia (LXXV a LXXX); o retrato de Marília idosa; lamentos pela calamidade mineira; e a loucura e morte de D. Maria I (LXXXII e LXXXIII). A obra é concluída com a “Fala aos Inconfidentes Mortos”.

Um dos romances mais significativos, o XXIV, relaciona o ato da confecção da bandeira dos inconfidentes com todo o movimento que eles preparavam em Ouro Preto.

Contexto histórico

“Romanceiro da Inconfidência” caracteriza- se como uma obra lírica, de reflexão, mas com um contexto épico, narrativo, firmemente calcado na história. Em 1789, inspirados pelas ideias iluministas europeias e pela independência dos Estados Unidos, alguns homens tentam organizar um movimento para libertar a colônia brasileira de sua metrópole portuguesa.

Uma pesada carga tributária sobre o ouro extraído das Minas Gerais deixava os que viviam dessa renda cada vez mais descontentes. Assim, donos de minas, profissionais liberais – entre os quais alguns poetas árcades – e outros começaram a conspirar contra Portugal. Contudo, o movimento é delatado e os envolvidos, presos. Alguns são condenados ao exílio, e o único a ser executado, na forca, é Tiradentes, em 21 de abril de 1792.

Gênese em Ouro Preto

Nessa obra, Cecília Meireles utiliza-se, pela primeira vez, da temática social, de interesse histórico e nacional, enfatizando a luta pela liberdade. Sem aprofundadas reflexões filosóficas, mas com muita sensibilidade, a autora dá uma visão mais humana dos protagonistas daquele que foi o primeiro grande movimento de emancipação do Brasil: a Inconfidência Mineira.

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Como se trata de um fato histórico, e dos mais importantes, a autora tem o cuidado de não se limitar a relatá-lo em versos, mas procura recriá-lo por meio da imaginação.

A gênese da obra ocorreu, de acordo com depoimento da escritora, quando foi pela primeira vez à cidade de Ouro Preto (ex-Vila Rica), local onde se organizou o movimento de Tiradentes e seus companheiros.

Cecília afirmou: “Todo o presente emudeceu, como plateia humilde, e os antigos atores tomaram suas posições no palco. Vim com o modesto propósito jornalístico de descrever as comemorações de uma Semana Santa; porém os homens de outrora misturaram-se às figuras eternas dos andores; (…) na procissão dos vivos caminhava uma procissão de fantasmas (…). Era, na verdade, a última Semana Santa dos inconfidentes: a do ano de 1789”.

Comentário do professor

O professor Gilberto Alves da Rocha (Giba), do Curso Apogeu de Curitiba (PR), comenta que existem dois pontos formais importantes em “Romanceiro da Inconfidência” que devem ser observados pelo estudante. Em primeiro lugar é que a obra é um “romanceiro”, tipo de poema de origem medieval, de caráter narrativo, e que se propõe a narrar fatos heroicos ligados a um determinado povo. Em segundo lugar, a estrutura do texto é composta pelos ROMANCES (as 85 narrativas em versos relacionadas aos fatos ligados à Inconfidência Mineira) pelos ESPAÇOS (as descrições dos cenários onde se desenrolaram os fatos) e pelas FALAS (os comentários feitos pela narradora a respeito dos fatos narrados), explica o prof. Giba.

Pensando na prova do vestibular, as questões de caráter formal tendem a ser exigidos pela banca examinadora, uma vez que trata-se de uma obra poética. Conforme explica o prof. Giba, na maior parte do tempo, Cecília Meireles trabalha com versos heptassílabos (sete sílabas poéticas), também chamados de versos de redondilha maior. Este tipo de verso é típico da poesia popular. Já com relação ao eixo histórico/temático, deve-se pensar em como a figura de Tiradentes aparece dentro da obra, afirma o prof. Giba. Segundo o professor, embora Tiradentes seja mostrado como o herói dos inconfidentes, é também mostrado seu lado humano: sua origem humilde, sua profissão, seu cargo militar, seu sonho de liberdade, através da Inconfidência, a traição de que foi vítima, seu isolamento e, por fim, sua execução.

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Por fim, há o destaque dado a Tomás Antônio Gonzaga, líder dos inconfidentes, poeta, autor de “Marília de Dirceu”. O prof. Giba explica que Gonzaga foi exilado para Moçambique e lá, casou-se com Juliana Mascarenhas. Enquanto isso, sua noiva, Marilia (Maria Doroteia), ficou esperando pela volta do amado no Brasil, o que nunca aconteceu.

Sobre Cecília Meireles

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901. Ficou órfã ainda criança e foi educada pela avó materna. Formou-se professora primária em 1917, dedicando-se então ao magistério. Em 1919 publicou seu primeiro livro de poesias, Espectros, de tendência parnasiana. A partir dos livros “Viagem” (1939) e “Vaga Música” (1942), Cecília alcançou a maturidade literária, inspirando-se principalmente no simbolismo.

Mas seu estilo, extremamente pessoal, não permite classificar a obra da escritora em uma escola literária específica. Lírica, intimista e mística, abordou os temas da precariedade da vida, do amor, da morte e da fugacidade do tempo. Em 1953 lançou Romanceiro da Inconfidência, um dos marcos da literatura social brasileira, no qual recria poeticamente a saga de Tiradentes e dos demais inconfidentes nas Minas Gerais do século XVIII. Morreu no Rio de Janeiro, em 9 de novembro de 1964.

Suas principais obras são: “Espectros” (1919), “Viagem” (1939), “Vaga música” (1942), “Mar absoluto” (1945), “Retrato natural” (1949), “Romanceiro da Inconfidência” (1953), “Metal Rosicler” (1960), “Solombra” (1963) e “Ou isto ou aquilo” (1964).

CRONOGRAMA 2ª TEMPORADA MARCA TEXTO 2021

Estreia 29/06 – Cecília Meireles – Romanceiro da Inconfidência

06/07 – Guimarães Rosa – Campo Geral

13/07 – Bernardo Carvalho  – Nove Noites

20/07 – Racionais Mc’s  – Sobrevivendo no Inferno

27/07 – Luís de Camões – Sonetos escolhidos

03/08 –  Fernando Pessoa – O Marinheiro

10/08 – Júlia Lopes de Almeida  – A Falência

17/08 – Raul Pompeia – O Ateneu

Na primeira temporada, o Marca Texto trabalhou os livros cobrados na Fuvest 2020. Cada obra tem um episódio específico, dividido em blocos de resumo, interpretação, contexto histórico e análise de personagem.

CONFIRA E OUÇA OS EPISÓDIOS DA PRIMEIRA TEMPORADA:

Aluísio Azevedo – O Cortiço

João Guimarães Rosa – Sagarana

Eça de Queirós – A Relíquia

Gregório de Matos – Poemas Escolhidos

Helena Morley – Minha Vida de Menina

Pepetela – Mayombe

Graciliano Ramos – Angústia

Carlos Drummond de Andrade – Claro Enigma

Machado de Assis – Quincas Borba

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