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“Uma História de Amor e Fúria”: saiba como utilizar o filme no vestibular

Explore o enredo e enriqueça seu repertório

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 20 mar 2020, 19h55 - Publicado em 10 Maio 2018, 07h00

A ideia desta série de matérias é permitir que você consiga desenvolver um repertório mais amplo e um pensamento crítico mais aguçado com base nas diversas camadas que a sétima arte pode apresentar. As análises dos filmes que faremos aqui buscam mostrar certas relações entre o enredo e temas contemporâneos que podem ser abordados na redação e em outras questões do Enem e dos principais vestibulares do Brasil.

A animação brasileira “Uma História de Amor e Fúria” conta a trajetória de um homem que está vivo há 600 anos. Ele participa de diversas épocas marcantes do Brasil e o enredo foca em 4 grandes momentos: 1500, 1800, 1970 e 2096.

Todo o contexto histórico de cada um deles é pano de fundo para uma história de amor, que sobrevive ao longo dos séculos, entre o herói imortal e Janaína.  

A primeira parte da narrativa mostra o período da colonização do Brasil. Na pele do índio tupinambá Abeguar, o personagem se depara com as dificuldades enfrentadas pelos franceses na região em oposição ao poder de Portugal. O filme destaca a violência que os índios sofreram nesse conflito.

A segunda explora os acontecimentos na época da escravidão. Como Manuel do Balaio, o protagonista é o líder da Balaiada, revolta do período regencial que ocorreu no Maranhão, e vivencia o massacre que a população envolvida no movimento enfrentou.

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Já em 1970, a ideia foi mostrar o personagem durante a ditadura militar. Ao lado de Janaína, lutando contra o regime, ele é preso e torturado. Por fim, o filme apresenta uma intensa disputa pela água em um futuro não muito distante.

É possível explorar “Uma História de Amor e Fúria” a partir de diversos aspectos. Conversamos com Gustavo Furniel, professor de redação do Anglo, para estabelecermos quais os principais e qual a melhor forma de aplicá-los na hora da prova.

História do Brasil e ligação com o passado

“Viver sem conhecer o passado é andar no escuro”. Essa frase, repetida em determinados momentos do enredo, é o grande fio condutor do filme. Entretanto, não se trata apenas de saber o que aconteceu, mas tentar construir relações, observar possíveis padrões e evitar que erros cometidos pelas sociedades se repitam.

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Aproveite o filme para rever alguns conceitos dos contextos abordados. Faça um levantamento da questão indígena durante o período colonial, das principais características das revoltas do período regencial (Balaiada, Sabinada e Cabanagem), que você pode conferir no link, e dos atos institucionais instaurados na ditadura, por exemplo – lembre-se: há exatos 50 anos o AI-5 entrava em vigor, logo, tem grandes chances de ser cobrado nas provas.

Crise hídrica 

A ideia que o enredo explora não é apenas a falta de água doce, mas sua futura distribuição. O recurso se torna um dos produtos mais cobiçados da sociedade e, com um valor elevado, o seu acesso fica restrito à população com melhores condições econômicas.

Disputas pelo controle de rios e bacias hidrográficas transnacionais já são realidade e elevam a tensão em diversas partes do planeta. Veja aqui algumas que podem ser abordadas nos vestibulares.

Relação dúbia com o país

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Os momentos de angústias e revoltas contrastam com os ápices de apatia e indiferença dos brasileiros. Embora o herói esteja sempre na dianteira dos movimentos, em diversas cenas é possível ver a desesperança com a qual ele encara algumas situações.

Ressignificação do herói

“Meus heróis nunca viraram estátua, morreram lutando contra quem virou”. O filme explora o fato de muitos personagens nacionais e suas lutas terem sido apagados da história do Brasil.

Quer um exemplo? Muitas escolas contam que a abolição da escravatura não foi nada além de uma grande concessão da Princesa Isabel e da elite da época. Nesse contexto, a luta dos escravos, todas as revoltas que eles promoveram e conquistas que aos poucos alcançaram são deixadas de lado.

O caso dos Bandeirantes também é interessante de ser analisado. Muitas vezes, a imagem desse grupo é associada à de heróis nacionais, os pioneiros do progresso brasileiro – e o massacre da população indígena promovido por eles não é explorado.

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O próprio Duque de Caxias, mencionado no filme, raramente é retratado pela violência com a qual reprimiu a Balaiada, mas apenas pela posição de vitorioso no final das contas.

Teoria da história cíclica

Ao longo dos séculos, pensadores das mais diversas correntes analisaram a maneira como a história da humanidade se desenrola.

Uma das teorias mais conhecidas é a da história cíclica, desenvolvida por Heródoto na Grécia Antiga. Em resumo, ela defende que a sociedade passa por grandes acontecimentos que se repetem de tempos em tempos.

Mais tarde, Maquiavel também aprova esse pensamento e acrescenta que os ciclos são um resultado da estratégia política dos governantes. Leia mais sobre o pensador no nosso especial.

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Opressão e resistência

Independentemente da veracidade dessa teoria, o filme apresenta uma relação que foi estabelecida em muitos momentos da história mundial: a opressão e a resistência.

No filme, seja entre os índios e colonizadores, populações excluídas da riqueza imperial e o governo, dos jovens contra a ditadura e os militares ou entre os que podem ou não ter acesso à água doce, existe uma imposição – e pessoas que se sentem prejudicadas pelo que foi estabelecido e buscam formas de resistir.

No livro “Desobediência Civil”, Henry David Thoreau trabalha as relações entre um governo opressor e o cumprimento das leis. A obra inspirou figuras como Mahatma Gandhi e Martin Luther King.

Ficou na dúvida de como esse conteúdo poderia ser aplicado na sua redação? Vamos ajudá-lo nessa missão.

É impossível prever qual será a proposta dos vestibulares. Entretanto, seja qual for o tema, se você estiver munido de diversos exemplos e relações relevantes na hora da prova o resultado será muito melhor do que imagina.

No caso do filme “Uma História de Amor e Fúria”, é importante identificar os principais tópicos, como a relação entre resistência e opressão, a imagem dos heróis e a questão hídrica, por exemplo, e memorizar algumas cenas que exemplifiquem as situações.

Você não precisa assistir ao filme com um caderno fazendo várias anotações. O importante é entender o enredo como um todo e refletir sobre determinados acontecimentos que achar adequados. Se quiser, anote alguns tópicos apenas e pesquise mais sobre os temas que achar mais pertinentes ou que tiver alguma dificuldade.  

Como esse é um filme com forte teor histórico, tente analisar se você domina os períodos retratados.

Selecionamos algumas propostas de redações de vestibulares de anos anteriores em que você poderia utilizar seus conhecimentos sobre o filme para desenvolver o tema, tanto em termos de relações estabelecidas quanto em forma de exemplos.

Unesp 2017 – A riqueza de poucos beneficia a sociedade inteira?

A coletânea dessa proposta apresenta três textos de base. O segundo é do sociólogo Zygmunt Bauman e questiona a ideia de que quanto mais os ricos ficarem ricos, maior a probabilidade de os pobres saírem da miséria: um dos dados trazidos pelo excerto aponta para uma maior desigualdade entre esses dois grupos nesses casos.

Já o primeiro texto analisa se fatores como o avanço tecnológico poderiam atenuar diferenças socioeconômicas e a concentração de riquezas.

Nesse contexto, o estudante poderia explorar o período abordado no fim do filme. Afinal, embora a história tenha apresentado, no ano de 2096, diversos dispositivos inovadores e tecnologias muito avançadas, uma parte da população é privada desses recursos e continua à margem da sociedade. Apesar de não ser algo que efetivamente tenha acontecido, refletir sobre essa situação pode ajudá-lo a construir uma possível linha de argumentação.

Enem 2010 – O Trabalho na Construção da Dignidade Humana

Por mais que não seja o foco do momento abordado, a escravidão era o sistema vigente durante a época da Balaiada. O enredo chega a mostrar certos elementos da exploração que ocorria nas plantações de algodão. O estudante poderia utilizá-los na forma de exemplos para a construção da dissertação.

Unesp 2009 – “Homem e meio ambiente”

Por abordar a questão da escassez de água doce, é válido utilizar o filme para refletir sobre a forma como o ser humano faz uso dos recursos naturais e as possíveis consequências de determinadas ações. A coletânea fornecida pela prova fala tanto de críticas ao atual estilo de desenvolvimento quanto da ligação entre o ser humano e a natureza.

Fuvest 2004 – Concepções do tempo

A coletânea apresenta algumas formas de concepção do tempo. Uma delas segue a mesma linha do enredo: “ela (a história) passou a ser mais importante para nosso entendimento de mundo do que anteriormente”.

Essa ligação entre a compreensão do presente por meio de uma análise do passado é um forte elemento de “Uma História de Amor e Fúria” a partir da passagem do tempo e a repetição de certas relações da sociedade. Logo, o filme ajuda o estudante a lembrar de exemplos concretos dessas situações. No caso, a opressão e a resistência foram recorrentes.  

Filme: Uma História de Amor e Fúria
Ano: 2013
Direção: Luiz Bolognesi

 

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