O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) começa neste domingo (3) e, logo no primeiro dia, os candidatos já escrevem uma redação acerca de um tema relevante da sociedade. Não é à toa que as buscas por “repertório” estão a todo vapor no Google e nas redes sociais. Mas você sabe, afinal, o que é isto? A verdade é que este não é um conceito usado apenas na redação, mas que diz respeito à bagagem que carregamos em diferentes áreas da vida. Ter repertório te permite compreender um filme, entender uma obra de arte e engajar em conversas profundas sobre diversos assuntos.
Compreenda abaixo o que é repertório e qual é o papel dele no contexto do Enem! Também separamos exemplos práticos de como fazer um bom uso de citações, filmes, livros e muito mais na redação, com trechos de textos que tiraram nota mil.
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O que é repertório?
A palavra “repertório” vem do latim repertorium, que significa “inventário”. Ele é sempre um conjunto, seja de obras musicais ou até de papéis interpretados por um ator – podemos dizer, por exemplo, que Nicole Kidman tem um amplo repertório de filmes de suspense. De forma subjetiva, o repertório é uma coleção de conhecimentos sobre determinado assunto que uma pessoa possui, seja por vivência ou estudo.
Logo, o repertório pode estar ligado aos acontecimentos ao seu redor, tanto suas experiências, como filmes, livros, séries ou frases de pensadores históricos e contemporâneos que você já estudou.
Uma pessoa com repertório consegue se comunicar com clareza e autenticidade sobre diferentes tópicos por causa dessa bagagem cultural, sendo capaz de exercitar o pensamento crítico e a reflexão sobre diferentes temas, trazendo argumentos únicos para conversas. No caso dos estudantes que irão prestar o Enem, estes raciocínios são testados na redação.
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Repertório na redação do Enem
De acordo com o Inep, o repertório sociocultural “se configura como uma informação, um fato, uma citação ou uma experiência vivida que, de alguma forma, contribua como argumento para a discussão proposta”.
Além de conceitos, são considerados repertório informações, citações, fatos e/ou referências a áreas do conhecimento, como por exemplo:
- fatos ou períodos históricos reconhecidos;
- referência a nomes de autores, filósofos, poetas, livros, obras, peças, filmes, esculturas, músicas etc.;
- referência a Áreas do Conhecimento e/ou seus profissionais, como Sociologia/sociólogos, Filosofia/filósofos, Literatura/escritores/poetas/autores, Educação/educadores, Medicina/médicos, Linguística/linguistas etc.;
- referência a estudos e/ou pesquisas;
- referência a personalidades, celebridades, figuras, personagens, desde que conhecidos;
- referência aos meios de comunicação conhecidos, como redes sociais, mídia e jornais.
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O repertório sociocultural, na redação do Enem, é avaliado na Competência II, que olha para as habilidades integradas de leitura e de escrita. Esta competência vale 200 pontos e o candidato precisa desenvolver o tema por meio de argumentação consistente, a partir de um repertório sociocultural produtivo, além de apresentar domínio do formato de texto exigido pela banca: o dissertativo-argumentativo.
Ele precisa ser legitimado, ou seja:
- de uma fonte confiável;
- ser produtivo (ter alguma utilidade na argumentação) e bem desenvolvido durante toda a redação;
- ter a ver com o tema proposto pela banca.
Não adianta, por exemplo, citar Hannah Arendt em uma redação sobre Inteligência Artificial. Além disso, sua compreensão da proposta de redação também é avaliada a partir do uso do repertório sociocultural, então tenha cuidado.
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Exemplo de usos de repertório em redações nota mil no Enem 2023
Ao todo, 60 candidatos atingiram pontuação máxima na redação em 2023. O tema proposto foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Veja que os repertórios mobilizados por eles foram vastos, e que vale citar desde pensadores contemporâneos até cantores populares!
Trecho de redação de Letícia Vicente da Silva
Nessa perspectiva, é possível citar que a criação de estereótipos agrava a permanência de raízes estruturais, tradicionalmente, discriminatórias, uma vez que a mulher se torna uma figura funcional padronizada. Sob esse viés, como afirma a escritora contemporânea Chimamanda Adiche, grupos minoritários são marginalizados pelo corpo social devido às características pré-estabelecidas sobre eles, de forma que a imagem feminina seja um exemplo dessa situação ao ser relacionada, constantemente, ao trabalho de cuidado com uma conotação social negativa. Nessa conjuntura, é perceptível inferir que, analogamente à teoria de Chimamanda, a associação das mulheres ao cuidado, comunitário ou doméstico, é histórico, cultural e literário, como retratado na obra de Letícia Wischezavi, “A casa das sete mulheres” – que conta os 15 anos da Revolução Farroupilha pela visão de 7 mulheres destinadas a cuidar das feridas -, servindo de exemplo para o reforço de estereótipos femininos nos diversos âmbitos sociais, principalmente, no laboral.
Trecho de redação de Victória da Silva Nascimento
A canção “Se eu largar o freio”, do cantor Péricles, fala sobre a indignação de um homem que não se sente mais amado por sua esposa, já que ela abandonou os afazeres domésticos. Os versos do sambista não se limitam ao âmbito artístico, mas configuram um reflexo da triste realidade enfrentada por muitas mulheres brasileiras, cujo trabalho de cuidado é invisilibizado em razão do machismo e da negligência governamental. Destarte, é primordial combater as origens do revés, a fim de mitigá-lo.
Trecho de redação de Francisco Roney Sousa Suriano
Nessa perspectiva, como afirmou o filósofo Gilberto Dimenstein, em sua obra “Cidadão de Papel”, a legislação brasileira é ineficaz, dado que, embora aparente ser completa na teoria, muitas vezes não se concretiza na prática. Prova disso é a escassez de políticas públicas satisfatórias voltadas para a aplicação do Artigo 23 da “Constituição Cidadã”, que garante, entre tantos direitos, condições dignas e satisfatórias de trabalho. Sob esse viés, evidencia-se que a pouca atuação do Estado no que concerne à garantia de condições laborais dignas para as mulheres possibilita, de certa forma, a existência de várias “cidadãs de papel”, no Brasil, uma vez que embora um ambiente de trabalho satisfatório seja um direito constitucional, muitas mulheres sofrem com a falta de assistência ao realizar trabalhos de cuidado.
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Calendário Enem 2024
- Inscrições: 27 de maio a 14 de junho
- Pagamento taxa de inscrição: 27 de maio a 19 de junho
- Pedido de tratamento pelo nome social: 27 de maio a 14 de junho
- Solicitação de atendimento especializado: 27 de maio a 14 de junho
- Resultado do pedido de atendimento especializado: 17 de junho
- Recurso do pedido de atendimento especializado: 17 a 21 de junho
- Aplicação das provas: 3 e 10 de novembro
- Divulgação do gabarito: 20 de novembro
- Divulgação do resultado: 13 de janeiro
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