Quando se fala em profissões para mudar o mundo, salvar vidas ou simplesmente ajudar outras pessoas logo pensamos em médicos, enfermeiros ou professores. O que muita gente não imagina é que tem muito biotecnólogo, cientista de dados, engenheiro e designer fazendo a diferença por aí!
É o caso de Rafaella de Bona, a estudante de Design de Produtos na Universidade Federal do Paraná (UFPR), que se diz apaixonada pelo Design e sua maneira de solucionar problemas. Antes mesmo de se formar, ela já ganhou no ano passado um dos maiores prêmios internacionais da área, o iF Design Talent Award, pautando um tema desconhecido por muita gente: a pobreza menstrual.
Se você também nunca ouviu falar no assunto, Rafaella tem uma dica. Uma das suas referências de pesquisa foi o documentário Absorvendo o Tabu, disponível na Netflix. O vencedor do Oscar 2019 na categoria de melhor documentário curta-metragem retrata as dificuldades enfrentadas pelas indianas durante o período menstrual. Sem acesso a absorventes e mesmo a banheiros para se higienizarem, muitas meninas deixam de frequentar a escola durante alguns dias todos os meses.
Mas quem pensa que o problema é uma exclusividade indiana se engana: ele é, na verdade, quase universal se considerarmos a imensidão de mulheres em situação de rua em todo o mundo. Foi justamente para atender a essa parcela da população que a estudante idealizou, em seu trabalho de conclusão de um curso livre de design no Centro Europeu, em Curitiba, o projeto “Maria”. Pautada em um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030, o de erradicação da pobreza, ela projetou um tipo de absorvente que atendesse às necessidades dessas mulheres.
O processo por trás de “Maria”
De acordo com seu desenho, os absorventes seriam produzidos em formato de um rolo de papel higiênico, para serem destacados, enrolados e utilizados como absorvente interno – um detalhe importante, já que muitas dessas mulheres não têm sequer calcinha para usar a versão externa dos absorventes. Cada um desses rolos teria capacidade para um ciclo menstrual de sete dias e seria possível destacar mais ou menos papel por vez de acordo com o fluxo menstrual. Além disso, o absorvente seria produzido a partir de fibra de banana, um material sustentável e já usado para esse fim na Índia.
Explicando assim, em poucas linhas, pode até parecer simples, mas a projeção de um produto como esse envolve diversas etapas e ferramentas importantes do Design de Produtos. Segundo Rafaella, os estudos na área estimulam uma nova maneira de pensar os problemas e uma metodologia para resolvê-los.
“Essa lógica de pensamento consiste em ter como centro das atenções o usuário e suas necessidades”, explica. Foi nessa fase de pesquisa e imersão que ela assistiu a vídeos, documentários e levantou informações sobre a situação das mulheres que vivem nas ruas.
“Partimos, então, para a geração de possíveis soluções: prototipamos e validamos as alternativas com o usuário e depois detalhamos e refinamos a solução para que ela possa ser fabricada”, explica. Todo o processo, segundo ela, requer habilidades de análise de dados e pesquisas, conhecimento sobre materiais, sobre ferramentas de criatividade e interações. Por fim, Rafaella destaca ainda a importância de saber trabalhar com uma equipe multidisciplinar – ela mesma teve orientação de um biólogo e um médico para desenvolver o absorvente.
Hoje, Rafaella ainda estuda e aperfeiçoa o projeto no seu curso de graduação, mas conta que pretende colocá-lo em prática até 2022, depois que se formar. Ela pensa em procurar parceiros e empresas dispostas a produzir o material em grande escala, mas sempre tendo como foco as mulheres em situação de rua. “O Projeto Maria é um trabalho que me enche de orgulho e trouxe a confirmação que é esse o caminho que eu quero seguir”.