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A trajetória da engenheira de produção que fundou o Nubank

Entenda quais aspectos desse curso ajudaram Cristina Junqueira a fundar uma das maiores startups brasileiras

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 13 mar 2020, 14h41 - Publicado em 12 mar 2020, 18h09
 (guia do estudante/Guia do Estudante)
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Se você se interessa pela área de tecnologia ou negócios, provavelmente já ouviu por aí o termo “unicórnio” sendo usado nesse contexto. O nome da figura mitológica envolta de encanto e admiração, não à toa, foi escolhido pela americana Aileen Lee, fundadora da comunidade de empresas de tecnologia Cowboy Ventures, para denominar as startups avaliadas em US$ 1 bilhão. Entre as empresas brasileiras que atingiram a marca, o Nubank é uma das mais famosas (e ele já quadruplicou esse número!)

O Nubank é o maior banco digital do país e opera desde 2013, quando foi fundado pela brasileira Cristina Junqueira, o colombiano David Vélez e o americano Edward Wible. Hoje, sete anos depois, a engenheira de produção Cristina é vice-presidente da empresa, que já conta com mais de 1.500 funcionários.

Calma aí, engenheira de produção? 

Isso mesmo. Cristina Junqueira não é formada em Tecnologia da Informação ou Engenharia da Computação. Se você está se perguntando o que o curso de Engenharia de Produção tem a ver com tecnologia, economia e, principalmente, empreendedorismo, a gente te explica neste segundo texto da série sobre profissões inspiradoras do GE. Quem sabe você não se encontra nessa que é a mais interdisciplinar de todas as engenharias? 🙂

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O curso de Engenharia de Produção

No universo das engenharias, a Engenharia de Produção é a que tem um pezinho nas Ciências Humanas. O que não significa, é claro, que os estudantes que optarem por esse curso não passarão por um belo teste nas disciplinas de exatas durante os primeiros anos da graduação. Geralmente, nos dois anos iniciais estudam-se disciplinas comuns a todas as especialidades da Engenharia, consideradas básicas para exercer a profissão, como Física e Cálculo, por exemplo. 

É a partir do terceiro ano que as disciplinas específicas de Engenharia de Produção começam a aparecer na grade curricular, como explica João Amato Neto, professor da Escola Politécnica da USP e orientador de Cristina Junqueira no mestrado. “A partir daí, o aluno passa a ter contato com o que podemos chamar de ‘núcleo duro’ da Engenharia de Produção, cursando disciplinas das áreas de Economia, Engenharia Financeira, Custos, Qualidade e Produtividade, Pesquisa Operacional, Projeto do Produto e da Fábrica, Estratégia, Sistemas de Informação, Sustentabilidade nos Sistemas de Produção, entre outras”, diz o professor, que leciona as matérias de Introdução à Economia, Sustentabilidade e Produção e Introdução à Administração na graduação. 

Para ele, é justamente a proposta curricular “mais do que interdisciplinar” que permite aos estudantes dessa engenharia desenvolverem uma visão mais abrangente das empresas e organizações em geral. Diferentemente de outros engenheiros, o de produção adquire durante o curso não só conhecimentos técnicos, mas também de gestão de pessoas, administração de empresas e economia. Depois de formado, ele poderá trabalhar analisando a estrutura de uma empresa, gerenciando a área financeira, administrando a mão de obra, implantando processos de produção, antecipando problemas e encontrando  soluções a partir de ferramentas da área, entre muitas outras funções. 

Portanto, de maneira geral, o profissional formado em Engenharia de Produção se torna apto a gerenciar recursos financeiros, materiais ou mesmo humanos para aumentar a produtividade e a rentabilidade de uma empresa. Seja ela uma fábrica de peças para carros ou uma startup no setor financeiro. 

As vantagens de ser um especialista

Apesar de um curso abrangente e um mercado de trabalho variado terem seus pontos positivos como uma grande oferta de empregos e possibilidades de atuação  certamente os profissionais que escolhem se especializar em algo dentro da carreira acabam se destacando. A trajetória de Cristina é um exemplo disso, já que desde a graduação ela se aproximou do ramo da economia, estagiando e posteriormente trabalhando como analista e consultora em empresas como o Itaú, a Booz Allen Hamilton e o Boston Consulting Group. 

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Paralelamente à sua inserção no mercado de trabalho, ela continuou seus estudos na área, ingressando como mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) da USP, na área de Economia e Engenharia Financeira. O professor João Amato explica que esse mestrado, um dos pioneiros do Brasil, mobiliza, entre outros, “aspectos ligados à modelagem econômico-financeira de empreendimentos, à contabilidade, às metodologias de custos, à análise de investimentos de sistemas de operações e aos aspectos econômicos relacionados às cadeias produtivas”. 

Mas esse, é claro, é apenas um dos programas de pós-graduação na área. Os futuros engenheiros de produção poderão encontrar Brasil afora possibilidades de especialização na área de segurança do trabalho, gestão ambiental, qualidade e logística, administração… No site da Universidade Federal de Viçosa, que oferece também o curso de graduação em Engenharia de Produção, é possível encontrar uma lista detalhada de diversas especialidades possíveis dentro do curso. 

Por fim, para aqueles que pretendem se inspirar no exemplo de Cristina e empreender na carreira, uma especialização bastante indicada são os MBA (Master of Business Administration), modalidade que aprofunda os conhecimentos em Administração e permite uma visão mais global do mundo corporativo. No Brasil, as especializações desse tipo costumam ser classificadas como lato sensu, o que significa que são, de fato, mais apropriadas para quem pretende seguir carreira no mercado de trabalho e não como pesquisador em universidades.

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A fundadora do Nubank cursou, em 2007, seu MBA em uma das mais prestigiadas escolas de Administração dos Estados Unidos, a Kellogg School of Management, da Universidade Northwestern. Mas mesmo no Brasil é possível encontrar programas de MBA muito bem avaliados no mercado, como o da Fundação Dom Cabral, o da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o do Insper e o da Fundação Getúlio Vargas, todos eles figurantes no ranking elaborado este ano pela consultoria Ivy Exec, membro do Embac (Conselho Executivo de MBA).

De engenheira para futuras engenheiras

Em 2017, um vídeo produzido por alunas da Escola Politécnica da USP, a mesma onde Cristina se formou, viralizou nas redes sociais. Nele, as futuras engenheiras, que representam apenas 19,6% dos alunos da escola, pintam no rosto e no corpo frases que costumam escutar de homens na universidade, como “você vai desistir” ou “sexo frágil”. 

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Se durante a graduação muitas mulheres precisam lidar com sexismo por parte de colegas e professores, infelizmente o cenário não é muito diferente no mercado de trabalho. Mesmo dentre outras carreiras da área de exatas como Ciência, Tecnologia ou Matemática, a Engenharia ainda é a mais abandonada por mulheres já graduadas, como indica a pesquisa “Razões pelas quais as mulheres abandonam o campo de Engenharia”, publicada em 2017 por pesquisadores da universidade americana Wisconsin-Milwaukee. No estudo, conclui-se que entre as razões estão a dificuldade de conciliar a jornada dupla de cuidar de filhos e trabalhar, as diferenças salariais entre homens e mulheres e diferentes tipos de assédio. 

Ciente dessas dificuldades, a cofundadora do Nubank publicou, em 2018, uma carta aberta no site da  revista Marie Claire às alunas que se formavam no curso de Engenharia. “O mercado de trabalho ainda está repleto de obstáculos que essas formandas terão que superar. De garantir que recebam o crédito por seu próprio trabalho e falar sem ser constantemente interrompidas, até desafiar as premissas de que todas as mulheres querem ser mães e que em algum momento priorizarão filhos e família à carreira. Isso quando tiverem a ‘sorte’ de não estar entre os 42% das brasileiras que já sofreram algum tipo de assédio sexual no trabalho”, escreveu. 

A engenheira e empresária aconselha que suas futuras colegas de profissão tenham coragem de discutir as diferenças de gênero na área, expressando sua insatisfação caso sejam diminuídas por serem mulheres. Além disso, recomenda que as mulheres recusem que outros as definam e, por fim, que estejam dispostas a ajudar umas às outras: “em algum momento vocês vão se deparar com uma situação de poder ajudar uma mulher que esteja sendo interrompida, ignorada ou até mesmo em uma situação de abuso. Não percam a oportunidade de ser a mudança que queremos ver no mundo e ofereçam ajuda”, conclui.

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