Você sabe quantos dias o navio Ever Given ficou preso no Canal de Suez? Qual foi o recorde de desmatamento da floresta amazônica no último ano? E por quantos anos Vladimir Putin ainda poderá governar a Rússia?
Não? E nem deve. Quando se diz que o vestibulando precisa estar por dentro das notícias, não significa saber detalhes do que acontece pelo mundo.
O que se espera, segundo Wagner Augusto da Silva, professor de Geografia e Geopolítica do Anglo, é que o estudante se prepare para ser um bom cidadão – não alienado! – e saiba fazer pontes entre o que está acontecendo no Brasil e no mundo e as informações “clássicas” que aprendeu na escola.
Recentemente, por exemplo, os Estados Unidos expulsaram diplomatas russos de seu território, ao que a Rússia revidou com igual ação. Saber qual foi o estopim desse episódio específico, porém, tem pouca importância. O que vale mesmo é conseguir resgatar o contexto histórico dessa rusga.
Relembrar a Guerra Fria, a anexação da Crimeia, em 2014, e os movimentos militares da Rússia na fronteira com a Ucrânia. “Nos últimos vestibulares, houve pelo menos quatro questões sobre a relação da Rússia com aquela região”, lembra Silva.
E as notícias estão presentes não só nos vestibulares mais tradicionais, como a Fuvest. De 2009 para cá, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também passou a cobrar mais repertório sociocultural dos alunos – nas questões e na redação – e só aumentou a necessidade dos estudantes de estarem bem informados.
O que pode cair de atualidades?
Como os vestibulares e o Enem começam a ser preparados com muito tempo de antecedência, é comum que não haja menção a fatos mais recentes na prova. A pandemia, por exemplo, passou em branco no Enem 2020 e em outras provas realizadas no início deste ano. Mas é possível que o novo coronavírus e suas implicações para a sociedade e a ciência apareçam neste ano.
Mas, mais importante do que se preocupar em adivinhar que tema pode ou não cair – afinal, ninguém tem bola de cristal! – é estar ligado no que está acontecendo e ser capaz de construir seu próprio raciocínio.
“O que vão perguntar? Não sei. Mas posso trabalhar em cima do que for perguntado”, resume o professor. É aí que entra a importância de uma boa base. “Bons fundamentos teóricos são fundamentais para entender os grandes assuntos atuais”, afirma.
O professor lembra uma história clássica de Garrincha na Copa de 1958. O adversário do Brasil seria a então poderosa União Soviética e o treinador da seleção, Vicente Feola, decidiu traçar a jogada perfeita para o Brasil marcar. Ele foi mostrando quais seriam os passes para chegar até o gol. Ao final, Garrincha, conhecido por sua irreverência dentro de campo, perguntou: “Tá legal, seu Feola… mas o senhor já combinou tudo isso com os russos?”
Ou seja: você não vai poder combinar com a banca quais assuntos serão cobrados. Mas pode garantir que usou a melhor estratégia para o jogo e, mais importante, confiou no seu drible!
Como estudar atualidades?
Como já cantava Caetano: “Quem lê tanta notícia?”
Num ano já lotado de conteúdo para estudar, é compreensível que os alunos não consigam ler um jornal diariamente, muito menos de cabo a rabo. Aliás, isso é difícil até para nós, jornalistas, que temos a informação como ofício. Outro obstáculo é que muitos alunos não têm uma assinatura à disposição – e, com a pandemia, ficou mais difícil ter acesso às bibliotecas, públicas ou das escolas. Como, então, incluir atualidades na rotina?
“A gente nunca foi rodeado por tantos meios de comunicação e, ao mesmo tempo, ficou tão perdido no meio das informações”, diz o professor de Geografia. De fato: há tantas maneiras de se informar que, às vezes, acabamos desinformados.
Por isso, o mais importante, segundo Silva, é saber fazer escolhas inteligentes e que se encaixam na sua rotina. Podem ser 20 ou 30 minutos por dia ou um tempo maior no fim de semana. O que importa é começar a acompanhar e continuar! Pode ser um telejornal ou o noticiário de uma rádio, um podcast ou uma newsletter. Há várias maneiras de ficar por dentro em pouco tempo.
PODCASTS
Para quem gosta de ouvir podcasts, trazemos uma seleção perfeita para se atualizar lavando louça, passeando com o cachorro, caminhando ou indo para o trabalho. Ou quando você quiser. Só não recomendamos ouvir antes de dormir porque ninguém quer ter insônia!
Café da Manhã
Feito pela Folha de S. Paulo, o podcast tem participação de jornalistas e especialistas para analisar temas nacionais e internacionais. De segunda a sexta, episódios com duração de até meia hora.
O Assunto
Apresentado pela jornalista Renata Lo Prete, também escolhe um tema por dia para destrinchar com a ajuda de especialistas e jornalistas e colunistas do Grupo Globo. Cada episódio tem cerca de 30 minutos.
Panorama CBN
Aqui a proposta é ter um resumo do dia em meia hora. Em vez de se aprofundar num tema, o estudante faz um giro pelo que está acontecendo.
Ao Ponto
Produzido pelos jornalistas de O Globo, o podcast explica os principais assuntos do Brasil e do mundo em cerca de 30 minutos.
Durma com essa
Produzida pelo pessoal do Nexo, tem episódios curtos (cerca de 15 minutos) sobre os principais temas do momento. E, toda sexta, um resumo com os destaques da semana.
Foro de Teresina
Os jornalistas Fernando de Barros e Silva, José Roberto de Toledo e Thais Bilenky, da revista piauí, discutem os principais fatos da política brasileira. Episódios semanais de 1 hora de duração, às sextas, 11h. Também é possível acompanhar o Luz no fim da quarentena, episódios especiais mais curtos sobre a pandemia.
Xadrez verbal
Para quem quer ir mais a fundo num tema de política internacional, os episódios desse podcast prometem ser uma boa. Saem toda sexta e podem ter até 5 horas de duração! Mas fica tudo explicadinho.
The Daily
Para quem domina o inglês, vale a pena acompanhar alguns episódios do podcast mais famoso do jornal The New York Times. Assim como os brasileiros, ele escolhe um tema por dia para se aprofundar e mostra a perspectiva dos EUA sobre temas que também estamos vivendo por aqui, como a polarização política e a pandemia.
Dicas para aproveitar melhor os podcasts
- Tente localizar geograficamente os acontecimentos citados nos podcasts. Isso pode ajudar a entender possíveis conflitos e fazer conexões com o conhecimento acadêmico dos lugares;
- Após ouvir o programa, tente contar, em suas próprias palavras, o que escutou, organizando as informações mais importantes: o que aconteceu? Por que aconteceu? Quais são as consequências do fato? Quais são as linhas de pensamento envolvidas?
- Acompanhar só um desses podcasts já vai deixar você super bem informado. Mas, para uma dieta mais rica, procure variar os programas de acordo com os temas e o tempo que você tem disponível.
NEWSLETTERS
Para quem prefere notícias em texto, vale a pena ficar de olho nos boletins por e-mail. Mas elas não são a mesma coisa que ler um jornal? Não exatamente. Várias resumem e analisam o noticiário para uma leitura mais rápida. E, caso um assunto chame mais a atenção, está ali o link para clicar. Um lado negativo delas é que você pode ter que ser assinante para ler o texto completo. Um lado positivo é que você não precisa fazer nada para topar com a newsletter: ela que chega à sua caixa de mensagens. Não abre sua caixa há séculos? Então talvez podcast seja melhor para você.
Meio
A newsletter chega cedinho na sua caixa e promete deixar você bem informado numa leitura de 8 minutos. Reúne links de veículos variados em um resumo direto sobre o Brasil e o mundo.
A_nexo
Feita pela equipe do Nexo, a newsletter, assim como a do Meio, reúne os principais links para entender o dia.
El Pais
A versão brasileira do diário espanhol tem boletins variados, entre eles um com as notícias do dia e histórias que fogem do factual e ajudam a entender melhor algum tema.
O Globo
São várias opções de newsletter, mas a mais indicada para quem está a fim de estudar é a que traz um resumo das notícias no início e no fim do dia, com links para as reportagens e colunas do jornal.
Folha
O jornal tem 14 boletins, vários deles exclusivos para assinantes. Mas o Notícias do Dia é uma opção gratuita com os destaques do Brasil e do mundo.
Veja
A revista semanal tem duas newsletters. Uma para quem quer acompanhar as notícias sobre a pandemia e outra para quem quer entender o que está acontecendo na política brasileira.
The New York Times
Quer treinar o inglês e se informar? O jornal americano tem dezenas de boletins. Sobre notícias em geral e temas específicos, além de entretenimento e bem-estar. Para quem curte um game, tem um quiz semanal sobre notícias.
Dicas para aproveitar melhor
- No começo, você pode curtir e assinar várias newsletters ao mesmo tempo. Isso pode ser interessante para você escolher qual a que mais combina com a sua rotina. Mas evite lotar sua caixa de mensagens (aviso: é um caminho sem volta!);
- Enquanto a maioria dos podcasts se aprofunda mais num único tema, as newsletters dão um panorama do que está acontecendo. Combinar os dois pode ser um mix interessante na sua dieta informativa;
- Uma das vantagens de ler mais é absorver vocabulário e estruturas de texto que podem ajudar você a responder a uma questão dissertativa ou escrever uma redação. É como diz o professor Silva, do Anglo: “Escreve bem quem lê bem. Quem lê com constância e qualidade”.