Entenda como a agropecuária afeta o meio ambiente
Entenda como o cultivo das monoculturas e a criação de gado para exportação afetam o solo, a água e o clima
De acordo com um levantamento recente do banco BTG Pactual, o Brasil já se tornou o maior exportador mundial de soja, milho, café, açúcar, suco de laranja, carne bovina e carne de frango. Por essas e outras, nosso país carrega o apelido de “celeiro do mundo”: o que é produzido pelo setor agropecuário brasileiro é consumido por nações de todo o planeta. O resultado é que o setor representa uma fatia significativa do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil – 7,1% em 2023. Mas nem tudo nessa conta é lucro. Em boa parte dos casos, o preço que se paga pelo avanço das monoculturas e das áreas de pastagem é a devastação do meio ambiente, com poluição do solo, da água e impactos no clima.
Neste texto, o GUIA DO ESTUDANTE explica os impactos ambientais da agropecuária e o que pode ser feito para reverter o cenário.
Agropecuária, agronegócio e agricultura familiar
Antes de tudo, é importante entender os principais termos deste debate. A agropecuária, que é o cultivo da agricultura combinado com a criação de gado, está incluída no agronegócio, mas não é exatamente ele.
O agronegócio é a agricultura praticada praticada por empresas de grande porte, e envolve também outras etapas do processo que vão além do plantio em si. As empresas que fabricam maquinários, adubos, agrotóxicos também compõem o agronegócio. Assim como aquelas que processam os produtos – transformando laranja em suco, por exemplo – e aquelas que os embalam e transportam.
Mas esse não é único jeito de se plantar e criar animais. A agricultura familiar, que também é responsável pelo cultivo de alimentos e criação de gado, é feita em escala menor, com força de trabalho geralmente manual e para consumo interno. Em 2020, 70% da mesa das casas brasileiras era composta por produtos vindos da agricultura familiar, segundo o IBGE. Este modelo, diferentemente do praticado pelo agronegócio, agride menos o meio ambiente, já que o cultivo segue os frutos da estação e não há o desmatamento desenfreado para abrir novas áreas de cultivo.
+ Qual a diferença entre agropecuária e agronegócio?
O desmatamento como o grande vilão
O maior impacto da agropecuária, quando praticada em grande escala, é o desmatamento e queimadas para expansão do terreno de plantio e criação de gado. Existem queimas que acontecem naturalmente durante o ano, mas a ação humana torna os números alarmantes.
Segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, o desmatamento em janeiro e fevereiro de 2024 atingiu 196 km² só na Amazônia – um recuo de 63% em relação aos mesmos meses em 2023, quando foi detectada a destruição de 523 km². Em outros biomas, há ainda menos motivos para comemorar. O Sistema Deter-B, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) indica que o Cerrado perdeu 7.852km² de vegetação nativa ao longo de 2023, um aumento de 43,73% em relação ao ano anterior. O desmatamento foi especialmente intenso na área conhecida como como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), considerada a “vitrine do agronegócio brasileiro“.
O desflorestamento e as queimadas relacionadas à agricultura causam profundos danos ambientais, ameaçando a flora e fauna, poluindo o ar, o solo e as águas.
Impacto da agropecuária no solo
A agropecuária focada em exportação, como as plantações de soja ou milho, está diretamente associada ao desmatamento, já que, para expandir a área de plantação, produtores avançam sobre vegetações nativas. O fogo, assim como a criação de gado, deixam o campo mais sensível, o que leva a sua degradação com maior facilidade.
Além disso, o solo também sofre com os resíduos fabricados pela agropecuária, como as fezes dos animais, quando descartados incorretamente. Também pode acontecer a acidificação do terreno, que é um processo químico em que a solução do solo tem uma redução do pH. Por fim, também acontece a compactação, devido ao deslocamento dos rebanhos no campo.
Impacto da agropecuária na água
A água também é afetada pela agropecuária. A poluição gerada pelo agro, seja por meio das queimadas ou resíduos, faz com que a água não seja oxigenada com eficiência, causando a morte de animais e vegetação. Também acontece a contaminação de reservatórios de água e aquíferos, que é uma unidade geológica onde a água penetra. A água que fica armazenada ali pode ser usada como fonte de abastecimento por ter passado por um processo de filtragem natural, porém o processo é impedido devido à presença de agrotóxicos na bacia.
Por fim, vale mencionar que o agronegócio é o maior consumidor de água do país. A partir de dados abertos da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), a Agência Pública levantou, em 2023, que o setor utiliza cerca de 1747 bilhões de litros de água por ano.
+ O que é racismo ambiental e como ele ocorre no Brasil e no mundo
Impacto da agropecuária no clima
Eventos extremos como ondas de calor, secas prolongadas e ventos mais fortes que o comum são consequência do avanço desenfreado da agropecuária sobre o meio ambiente. Em março de 2023, foram registrados focos de queimadas todos os dias – e 2024 vai pelo mesmo caminho, já que o mesmo foi observado nos doze primeiros dias do mês.
Enquanto a perda de vegetação atrapalha o regime de chuvas, especialmente na Amazônia, as queimadas causam emissão de gases de efeito estufa. Essa difusão desenfreada dos gases, por sua vez, resulta em seca nas regiões semiáridas, como o Nordeste e o norte de Minas Gerais, ou em secas prolongadas em regiões com mais pluviosidade.
+ Entenda como a Amazônia afeta o clima do mundo todo
Isso tudo sem mencionar os impactos específicos da pecuária. De acordo com o Observatório do Clima, o agronegócio é responsável por 74% da emissão dos gases do efeito estufa no país, e 80% disso vem da produção de carne bovina – já que o arroto dos animais libera gás metano na atmosfera.
Por tudo isso, não é exagero concluir que a atividade agropecuária tem, hoje, grande responsabilidade no aquecimento global.
Agrotóxicos: o perigo maior
Não é só com a exportação de soja ou frango que a agropecuária brasileira destaca-se no mundo. Nosso país também é líder no mundo em uso de agrotóxicos, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Em 2021, foram aplicadas 719,5 mil toneladas de agrotóxicos nas lavouras nacionais – mais do que aplicaram Estados Unidos e China juntos.
Os impactos destes pesticidas já foram amplamente estudados por cientistas, que alertam para a contaminação dos solos, dos rios e do ar com substâncias nocivas à saúde. A atrazina, por exemplo, é um herbicida usado para controle de ervas daninhas, mas que também causa distúrbios endócrinos, problemas na reprodução e câncer em seres humanos.
Um levantamento da Ong Repórter Brasil feito a partir de dados do Ministério da Saúde indica que 14.549 pessoas foram intoxicadas por agrotóxicos no Brasil durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Dessas, 439 morreram.
Redução do impacto ambiental pela agropecuária: é possível?
Ações para reduzir os danos ambientais precisam ser tomadas pelo próprio agronegócio. É necessário, por exemplo, avaliar com mais afinco as áreas de cultivo, atentar para condições específicas destes terrenos e procurar alternativas de plantio mais sustentável. Algumas opções são plantações na palha, em curvas de nível – que é a produção organizada usando linhas que têm diferentes altitudes de acordo com o terreno –, e até mesmo a rotação de culturas, que consiste em alternar, anualmente, espécies vegetais numa mesma área agrícola, que é o que acontece na agricultura familiar.
O uso de maquinários mais modernos e que consigam medir e reduzir os danos ambientais também é uma saída.
Por fim, é necessário maior fiscalização por parte dos órgãos reguladores no que diz respeito ao desmatamento, queimada e regulamentação do uso de agrotóxicos.
+ Cinco livros para se aprofundar no assunto meio ambiente
Prepare-se para o Enem sem sair de casa. Assine o Curso GUIA DO ESTUDANTE ENEM e tenha acesso a todas as provas do Enem para fazer online e mais de 180 videoaulas com professores do Poliedro, recordista de aprovação nas universidades mais concorridas do país.