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Por que alimentos ultraprocessados fazem tão mal à saúde?

Eles são práticos, baratos - mas matam 57 mil pessoas ao ano só no Brasil. Entenda o que são os ultraprocessados, por que são tão viciantes e como evitá-los

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 19 jul 2023, 16h51 - Publicado em 19 jul 2023, 12h18

Na correria do dia a dia, quem nunca substitui uma refeição saudável e balanceada por um macarrão instantâneo, por uma pizza congelada ou por um pacote de bolacha? Mesmo sabendo que essa não é a substituição mais nutritiva de todas, muitas pessoas acabam recorrendo a essas opções tentadoras – os chamados ultraprocessados – seja pelo sabor, pelo preço ou pela praticidade. Mas será que os riscos e os malefícios à saúde desse consumo estão realmente claros para a população? 

Para se ter uma ideia, cerca de 57 mil pessoas morrem todos os anos de forma prematura, entre 30 e 69 anos, anualmente no Brasil por conta do consumo de alimentos ultraprocessados, segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de Santiago de Chile. A pesquisa também aponta que uma redução de 10% a 50% no consumo desses alimentos poderia evitar de 5.900 a 29.300 mortes por ano.

Além disso, o consumo desses alimentos já é associado por pesquisadores ao desenvolvimento de doenças, como câncer, diabetes, depressão e declínio cognitivo.

Mas se os ultraprocessados são tão prejudiciais para o organismo, por que são também tão populares? No Brasil, por exemplo, cerca de 20% das calorias consumidas pela população vêm de ultraprocessados, de acordo com um estudo feito pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens-USP) – é um número alarmante.

Entenda aqui, afinal, o que define um alimento ultraprocessado e de que maneira eles impactam na saúde. É possível evitá-los? Quais são as recomendações das autoridades da área? Confira abaixo:

O que são alimentos ultraprocessados?

Pote de cereal matutino
(Guia do Estudante/Canva/Guia do Estudante)

Existem várias formas de definir os alimentos ultraprocessados, mas, de uma forma geral, eles são produtos produzidos industrialmente com base em substâncias derivadas de alimentos (como soro de leite e proteínas isoladas). Em vez de serem feitos com ingredientes naturais, eles passam por uma série de etapas de processamento e sofrem mudanças químicas. 

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Durante o processo, esses alimentos recebem uma grande quantidade de açúcar, sal, gorduras e outras substâncias para torná-los mais atrativos e saborosos, como corantes, aromatizantes, sabores artificiais, adoçantes, emulsificantes e conservantes.

Veja alguns exemplos:

  • bolachas recheadas;
  • cereais matinais;
  • salgadinhos de pacote;
  • iogurtes adoçados/com sabor de frutas;
  • refrigerantes;
  • bolos e pães industrializados;
  • sorvetes;
  • chocolates;
  • macarrão instantâneo;
  • pizza congelada;
  • refeições congeladas prontas para consumo;
  • salsichas;
  • sopas de pacote;
  • bebidas saborizadas artificialmente.

Para conseguir diferenciá-los de maneira mais clara, confira como outros alimentos são classificados por especialistas:  

In natura são os alimentos que não sofrem processamento. Eles chegam ao consumidor da mesma forma que são encontrados na natureza, seja diretamente de plantas ou de animais.
Exemplos: frutas, legumes, ovos e grãos.
Minimamente processados são alimentos in natura que passam por pequenos processos, como limpeza, secagem, congelamento, fermentação, cortes específicos, entre outros. Eles não recebem adição de açúcares, sal, gordura ou outras substâncias.
Exemplos: leite pasteurizado, iogurte sem adição de açúcar, frutas secas, grãos empacotados, carnes, legumes, verduras, frutas resfriados ou congelados.
Processados são alimentos in natura ou minimamente processados que tiveram adição de elementos, como açúcar ou sal, e podem ter passado por alguma etapa adicional, como cozimento.
Exemplos: legumes em conserva, frutas em calda, queijos, atum enlatado.
Ultraprocessados produtos que passam por várias etapas de processamento, contêm muitos ingredientes, vários deles artificiais, e recebem uma quantidade excessiva de açúcar, sal e outros elementos, como espessantes, emulsificantes, aromatizantes e corantes.
Exemplos: macarrão instantâneo, bolachas e refrigerantes.

 

Indústria alimentícia: o que está por trás dos alimentos ultraprocessados?

Os ultraprocessados surgiram em meio à Segunda Guerra Mundial (1939-1945) pois ajudavam a saciar a fome dos soldados de uma maneira prática e fornecendo a quantidade necessária de açúcar, sal e gorduras para que eles sobrevivessem. Também eram práticos para serem transportados e não estragavam tão rapidamente.

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Porém, ao longo dos anos, a indústria alimentícia percebeu como esse mercado poderia ser altamente lucrativo. Os ingredientes são de baixo custo e, por conta da adição de conservantes, têm longa duração. Com isso, as empresas passaram a diversificar e desenvolver inúmeras opções aos consumidores.

Mas por que eles são tão populares?

Segundo um estudo da Unicef no Brasil, publicado em 2021, o sabor é o principal motivo pelo qual as famílias fazem uso desse tipo de alimento, com uma porcentagem de 46%; em seguida as justificativas são o preço (24%) e a praticidade (17%). 

A questão é que esses alimentos são minuciosamente formulados para serem atraentes, saborosos e até viciantes. Os doces, por exemplo, chegam a ativar o sistema de recompensa no cérebro. Ou seja, quando a pessoa se sente estressada ou triste é criada uma sensação de que consumir aquele alimento é algo merecido e trará conforto. Os corantes e aromatizantes também contribuem para chamar a atenção e aumentar o desejo sobre esses produtos.

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Além disso, os ultraprocessados são extremamente práticos para o consumo. Em vez de passar horas cortando, cozinhando ou preparando uma série de ingredientes e alimentos in natura, é possível apenas colocar esse produto no micro-ondas ou consumi-lo imediatamente depois de abrir a embalagem.

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Outro atrativo é o preço. Por serem produzidos em larga escala e, muitas vezes, por empresas multinacionais, os ultraprocessados costumam ser mais baratos do que alimentos in natura e minimamente processados. Em vez de usarem ingredientes frescos, eles são feitos com substitutos menos saudáveis. Assim, a população fica mais suscetível a trocar uma refeição balanceada por eles. “A substituição aconteceu em todos os grupos da sociedade, independente da renda. Mas tem mais impacto na população vulnerável. O macarrão instantâneo e o biscoito recheado são alimentos-símbolo dessa situação”, disse Eduardo Nilson, pesquisador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens-USP), em entrevista ao Jornal da USP.

Por fim, também é possível citar a intensa publicidade ao redor desses produtos à qual os consumidores são expostos de maneira intensa e frequente, tornando-os um desejo de consumo – principalmente para crianças e adolescentes.

Impactos na saúde

Mesmo com esses atrativos para os consumidores, os riscos atrelados ao consumo de ultraprocessados são cada vez mais explorados por pesquisadores, que reforçam seus malefícios alarmantes. 

Ainda segundo o Nupens, nos últimos dez anos, uma série de estudos epidemiológicos mostraram que o consumo desses produtos causa deterioração generalizada na qualidade da dieta e o aumento sistemático do risco de diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer, depressão, doenças gastrointestinais, doenças renais, entre outras doenças crônicas

Confira alguns exemplos de pesquisas na área: 

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  • A ingestão de ultraprocessados, alimentos com hormônios e alto teor de gordura tem antecipado a puberdade de meninas e meninos nas últimas décadas, segundo uma pesquisa publicada em 2014 pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos.
  • Uma pesquisa desenvolvida pelo Nupens, e publicada na revista The Lancet Planetary Health, mostrou que uma alimentação baseada em ultraprocessados está associada ao maior risco de desenvolvimento de câncer em 25 partes do organismo.
  • Segundo estudo global publicado na revista eClinicalMedicine, o aumento de 10% da taxa de consumo diária de 
  • A queda cognitiva (incapacidade de realizar atividades simples, como lembrar datas, fazer cálculos, planejar e executar tarefas) foi 28% maior entre os participantes que consumiram mais de 20% das calorias diárias derivadas de ultraprocessados, segundo um trabalho realizado por cientistas da USP (Universidade de São Paulo), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e UFBA (Universidade Federal da Bahia). Para se ter uma ideia, isso equivale a comer três pães de forma todos os dias com base em uma dieta de 2.000 kcal.
  • Além disso, a oferta de uma alimentação saudável nas escolas está diretamente relacionada a melhorias no desempenho escolar e na capacidade de concentração dos estudantes, de acordo com uma pesquisa produzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
  • Pesquisadores da Universidade Atlântica da Flórida também apontaram que o consumo desses alimentos pode afetar a saúde mental. Segundo o estudo, pessoas que consomem mais alimentos ultraprocessados ​​tiveram grandes aumentos nos sintomas de depressão, “dias mentalmente insalubres” e “dias ansiosos”. 

Como escapar dos alimentos ultraprocessados?

Cachorro quente na mira da saúde
(Guia do Estudante/Canva/Guia do Estudante)

 

Para começar, é preciso saber identificá-los. Mais importante do que a quantidade de calorias, é fundamental checar rótulo: o primeiro alerta é o excesso de ingredientes – se passar de cinco, é para desconfiar. Deparar-se com nomes estranhos, de substâncias que você não reconhece também não é um bom sinal.

Vale destacar que diversas opções nos mercados parecem opções saudáveis e afirmam em seus rótulos que são “light” ou “diet”. Porém, ao ler a composição, é possível encontrar uma série de aditivos e conservantes. 

Outro ponto importante é considerar que, no rótulo de produtos brasileiros, os ingredientes estão em ordem decrescente de quantidade na composição, ou seja, os que aparecem primeiro estão em maior quantidade.

Mas toda essa interpretação dos rótulos é um grande empecilho para a mudança de hábitos de consumo. Segundo um estudo da Unicef, quase metade das famílias avaliadas relatou que não se considera capaz de avaliar os alimentos a partir dos ingredientes exibidos nas embalagens, e só 34% sequer a lê.

Para além da esfera pessoal, autoridades de saúde, governos e instituições também têm se posicionado em relação ao tema. 

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A recomendação do Guia Alimentar para a População Brasileira, documento oficial do Ministério da Saúde que apresenta diretrizes para uma alimentação adequada e saudável, é:

  • os ingredientes culinários (óleos, gorduras, sal e açúcar) devem ser usados em pequenas quantidades para preparações culinárias;
  • os alimentos processados devem ser consumidos com moderação;
  • enquanto os ultraprocessados devem ser evitados.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) – representação da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas, listou também uma série de ações e políticas públicas que podem ajudar na redução do consumo de ultraprocessados. Veja abaixo:

  • regulações mais efetivas por parte dos países para, por exemplo, determinar que tipo de alimento poderá ser vendido ou servido em escolas;
  • restrições à publicidade infantil de alimentos pouco saudáveis;
  • exigência de rótulos específicos nos produtos industrializados, que alertem para a presença de sal, açúcar ou gordura em excesso;
  • criação de impostos distintos para alimentos processados pouco saudáveis, como refrigerantes à base de açúcar;
  • redistribuição de subsídios para a agricultura, a fim de estimular a produção e o consumo de produtos frescos.

Para se aprofundar

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