Politizar o debate é ruim? Entenda os significados de politizar!
Politize! explica termos políticos de forma didática
Por Luiz Andreassa/Politize!
Em debates mais acalorados sobre temas de interesse público, é comum ouvir alguém dizer, em tom acusatório, que a discussão está sendo “politizada”. A intenção é transmitir a ideia de que politizar o debate é algo ruim.
Como exemplo, podemos lembrar de algum governante afirmando que manifestações que não lhe favorecem são “políticas”. Mas faz sentido esse tipo de acusação? Por que a politização das discussões seria algo negativo? Mais do que isso: o que significa politizar?
Para isso, precisamos começar do básico, lembrando a definição de política.
A política e o politizar
Como já vimos em outro artigo, a palavra política tem origem grega. “Politikos”, na Grécia Antiga, era como se chamavam as pessoas que viviam na “polis”. Já a “polis” se referia à cidade, mas também, em sentido mais abrangente, à sociedade organizada.
Seguindo essa linha, a política é a própria participação na sociedade e nas questões coletivas. É o ato de viver em grupo e de determinar as regras, limites e leis que vão guiar a convivência.
Dessa forma, a política está em todos os aspectos da existência coletiva, em todo o lugar e situação que envolvam mais de um ser humano. Ela está na divisão de tarefas domésticas em casa, nos trabalhos em grupo na escola, nas conversas durante o trabalho.
Por isso, acusar alguém de politizar um debate soa contraditório. Todos os debates são, por definição, politizados, e dizer que um em especial não deve ser politizado já é um posicionamento político.
O que realmente querem dizer com “politizar”
Porém, mesmo partindo da premissa exposta acima, o tema está longe de estar esgotado. Falar em politizar um debate pode ser contraditório, mas, em algumas situações, traz um sentido que precisa ser levado em conta.
Isso acontece porque, muitas vezes, quando se acusa alguém ou algum grupo de politizar um debate, a intenção é alertar para a invasão de interesses particulares onde se deveria discutir de forma coletiva ou técnica.
O exemplo mais próximo da nossa realidade atual é a pandemia causada pelo coronavírus. Como se trata de um tema que afeta todos os cidadãos e os interesses de toda a sociedade, espera-se que as decisões individuais e coletivas sejam tomadas visando o bem-estar geral.
No entanto, pode haver quem queira se aproveitar do momento para promover seus interesses em busca de votos, de visibilidade, de reconhecimento pessoal, de poder, mesmo precisando ir contra o que recomendam os especialistas e a ciência, que têm o conhecimento necessário para nos guiar em determinadas decisões.
Uma pandemia, como outros problemas que enfrentamos, não é algo que se possa tratar de forma simples. Ela não é apenas questão de ciência e de saúde pública: também envolve outros aspectos, como a economia, o direito e, é claro, a política. Inevitavelmente, muitos interesses acabam se colocando em disputa.
Portanto, o que chamamos “politização” seria melhor definido como o ato de tirar espaço e legitimidade da ciência, dos especialistas ou de outros grupos com vistas a interesses particulares. Significa negar o aspecto mais técnico das decisões públicas para beneficiar uma pessoa, um partido, um grupo, um candidato.
No Brasil, por exemplo, há quem defenda determinados medicamentos contra a Covid-19 sem eficácia comprovada pela comunidade científica e pelas autoridades de saúde como a OMS. Entre essas pessoas, existem os equivocados que acreditam sinceramente em tais remédios e acham que eles não são usados por motivos políticos; mas existem, também, aqueles que, mesmo sabendo estar errados, mantêm suas estratégias em busca de benefícios próprios.
Polarização e politização
A polarização reforça essa invasão das discussões públicas por interesses particulares. Este fenômeno, bastante abordado atualmente, é a divisão da sociedade em duas partes a respeito de determinados temas políticos. Essas duas partes se fecham em si mesmas, veem o outro lado como inimigo e evitam o diálogo.
Em um cenário no qual se enxergam as pessoas e grupos com opiniões contrárias como inimigos mortais, existe o incentivo para se colocar em oposição a eles em todos os assuntos. Daí decorrem os casos em que posições pessoais se baseiam muito mais na vontade de se colocar contra o “inimigo” do que em tomar as melhores decisões coletivamente.
E assim acontece também a politização das mais diversas questões. Politização, neste sentido, é transformar diferentes discussões, como a adoção de determinados remédios ou vacinas, em uma disputa política, baseada nos interesses pessoais e nas crenças que as partes já trazem consigo.
Esse fenômeno pode ser chamado de “hiperpolitização”. Ele acontece quando as identidades políticas estão mais ressaltadas do que o normal, de modo a transformar todas as discussões em disputas políticas ou partidárias.
++ o que você tem a ver com a política?
Os modos de fazer política
O principal conceito que trouxemos neste artigo é que a política está em todo lugar e que acusar alguém de “politizar um debate” já é uma forma de se posicionar politicamente. Portanto, é uma acusação contraditória.
Argumentamos, também, que essa acusação pode ser definida de forma mais precisa como a atitude de colocar os interesses individuais acima dos coletivos, acima dos fatos ou mesmo acima do conhecimento científico.
Mas é verdade que, vivendo em coletividade e fazendo política, seja lá qual for o modo, estamos sempre defendendo nossos interesses – ou, no máximo, os interesses de outras pessoas que assumimos como nossos. Portanto, não é errado assumir tal postura.
O problema acontece quando a defesa dos interesses passa por cima dos aspectos técnicos e científicos ou dos direitos de cada parte envolvida na discussão. É preciso buscar o diálogo aberto e honesto, baseado em evidências e no respeito a todas as opiniões.
REFERÊNCIAS
Estadão – Politização da vacina: afinal, o que isso significa?
Jornal da USP – Politização da pandemia serve a fins eleitorais, mas não à ciência
Politize! – O que é polarização e por que ela é prejudicial à democracia?
Toda Matéria – O que é política?
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