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Por que está tudo tão caro no Brasil? 

Entenda as causas do aumento dos preços de alimentos e energia, que têm puxado a inflação para cima 

Por Danilo Thomaz
Atualizado em 26 out 2021, 16h26 - Publicado em 22 set 2021, 20h16

Certamente você tem a sensação que seu carrinho de supermercado está mais vazio – e o seu bolso também. Não é apenas uma impressão. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação para os consumidores brasileiros, chegou a 9,68% no final de agosto. O valor diz respeito aos últimos 12 meses. Trata-se do maior índice em 21 anos. 

Para combater a inflação, o Banco Central do Brasil (BCB) tem aumentado os juros consecutivamente. O objetivo com esta medida, na atual conjuntura, é abaixar o valor do dólar frente ao real, reduzindo o preço dos produtos importados. Em cenários de forte consumo, alta dos salários e baixo desemprego essa medida é utilizada também para encarecer o crédito. Como a taxa Selic baliza os juros bancários, o seu aumento acaba por impactar todo o mercado de crédito brasileiro.  

No entanto, cada conjuntura é uma conjuntura. Nem sempre a inflação é provocada pelo choque entre a oferta – ou seja, os produtos disponíveis no mercado – e a demanda – que seria o consumo das pessoas. Em regra, se você tem muitas pessoas buscando um produto e uma oferta que não é proporcional, os preços aumentam. 

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++ Tire suas dúvidas sobre inflação e deflação

Para explicar por que a inflação está tão alta no Brasil, conversamos com o economista Guilherme Rodrigues, mestre pela Nova School of Business and Economics, em Portugal, e pesquisador da ADA Economics, em Londres, instituição onde analisou a evolução dos preços na Europa emergente (Rússia, Turquia, Polônia, Romênia, Hungria e República Tcheca). A pedido do GUIA, Rodrigues examinou os dados mais recentes do IPCA disponibilizados pelo IBGE

A inflação brasileira no contexto mundial 

– O ano de 2021 tem sido um período de subida geral da inflação, tanto em economias emergentes como desenvolvidas (EUA cerca de 5%), mas a inflação do Brasil é particularmente alta. A inflação alimentar anual está a 13,9% em agosto, e tem sido superior a 10% por um ano consecutivo (a níveis semelhantes ao pico de 2015/16). Este aumento é parcialmente justificado pelo aumento de preços mundiais dos alimentos devido a secas e elevada demanda na China. Contudo, muitos países emergentes têm taxas de inflação alimentar muito inferiores às do Brasil (Rússia 7%, Índia 3%, Peru 6.1%, etc.) apesar da alta nos mercados internacionais. 

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As razões para preços ainda mais altos no Brasil 

– Dois motivos para esta diferença são: nos últimos anos, o Brasil abdicou do estoque de reserva alimentar, que poderia ser usado em períodos de inflação para baixar o preço. A desvalorização do real desde o início da pandemia faz com que as importações de comida sejam muito mais caras em reais. 

A inflação global também está sendo puxada pelos componentes da habitação e transporte estão com taxas de 11.6% e 16.6%, respectivamente. Ambos os casos são explicados pelos mercados energéticos. 

No caso do componente da habitação, a subida não é causada pelo aluguel como o nome sugere (inflação de 4,2%, muito inferior à média) mas devido aos grupos “combustíveis domésticos” e “energia elétrica residencial”, com taxas de inflação anual de 30% e 20%, respetivamente. No transporte, a inflação é consequência da subida de preços da gasolina e outros combustíveis (combustíveis para veículos com taxa anual de inflação de 40%). 

Tal como o mercado alimentar, a energia elétrica e combustíveis são sensíveis aos preços internacionais e também às secas que causam a atual crise hídrica no Brasil. O preço internacional do petróleo está muito superior ao do início da pandemia combinado com a baixa do real frente ao dólar. Esses movimentos são repassados para o preço da gasolina, com a atual política de liberalização de preços pela Petrobras. 

A inflação e a crise econômica 

– Os componentes descritos acima, que estão puxando a inflação, são pouco influenciados pela demanda direta do consumidor brasileiro e da atividade econômica nacional. Quando analisamos componentes que dependem da maioritariamente da atividade econômica doméstica – como “serviços pessoais”, “recreação”, “comunicação” ou “serviços de educação”, as taxas anuais de inflação são muito inferiores, entre os 1,4% e os 5%. Mostrando que não existem pressões inflacionárias vindas da economia local, o que é natural num clima de forte recessão econômica.

Adianta subir os juros nessa conjuntura? 

– Geralmente, a subida de taxas de juro é vista como a solução para controle da inflação porque ajuda a apreciar a moeda (juro alto atrai investidor) e coloca uma trava na atividade econômica doméstica. No atual contexto de economia deprimida e inflação causadas por uma moeda fraca e altos preços internacionais [como é o caso brasileiro], a subida do juro deve ter efeitos muito limitados no controle de preços porque os setores domésticos já estão muito deprimidos. A política do Banco Central não consegue controlar preços que são causados por seca (ex: crise hídrica). Tentar parar a inflação atual com subidas de taxa de juro é um pouco como deixar de beber água para perder peso: teoricamente pode resultar, mas não é saudável e não resolve os principais problemas existentes (alta dos alimentos e energia). 

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