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O que Shakespeare nos diz sobre a política brasileira?

Várias obras do Bardo falam sobre o exercício do poder; confira como elas podem ser lidas no contexto atual

Por Danilo Thomaz
24 abr 2021, 07h02
O ator Lawrence Olivier em adaptação de Hamlet para o cinema em 1948
 (Divulgação/Reprodução)
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A política é um tema fundamental na obra do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), um dos maiores nomes do teatro e da literatura universal. Nascido em Stratford-upon-Avon, cidade próxima a Londres, Shakespeare viveu e criou sua obra em um momento de transição para a Inglaterra: aquele em que o mundo medieval deixava de existir e o mundo moderno começava a nascer. Foi nesse período também que surgiu o inglês moderno e o país se expandiu pelo mundo, dando as bases do futuro império britânico, o mais poderoso do século 19. 

Vivendo em um mundo bastante diferente do atual – que, todavia, foi o início do tempo em que vivemos –, Shakespeare é, ainda hoje, um autor muito importante quando se quer compreender a política, mas, sobretudo o poder. Suas peças oferecem chaves para entendermos melhor esses temas. Conheça algumas delas, disponíveis em tradução no Brasil.  

 

Capa do livro Hamlet, de Shakespeare, com tradução de Millôr Fernandes
(Divulgação/Reprodução)

Hamlet

A obra é uma das que mais bem ilustra a oposição entre o mundo medieval e o ascendente mundo moderno. O príncipe Hamlet da Dinamarca, estudante da universidade de Wittenberg, recebe a visita do fantasma de seu pai, que lhe dá uma missão: matar seu tio Cláudio, responsável por seu homicídio. O assassinato por vingança e poder era parte do universo de um monarca medieval, como era o Rei Hamlet. Mas não fazia parte dos valores de um jovem que estava na universidade, razão pela qual Hamlet se questiona quanto à missão que lhe foi dada – e levará seu reino a um final trágico. 

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Box com obras clássicas de Shakespeare inclui Macbeth, com tradução de Barbara Heliodora
(Divulgação/Reprodução)
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Macbeth

A ascensão do general que dá título à obra fala dos riscos de um governante ganhar o poder por meio de crimes e também dos problemas decorrentes da ambição desmedida. Militar exemplar, com vários serviços prestados ao país, Macbeth ascende ao trono após matar o Rei Duncan. Para manter-se no poder, comete uma série de outros assassinatos, que, pouco a pouco, levam seu reino, a Escócia, para o caos. 

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Rei Lear, em tradução de Lawrence Flores Pereira, pela Penguin - Companhia das Letras
(Divulgação/Reprodução)

Rei Lear 

A tragédia conta a história de um rei octogenário que divide o reino entre as três filhas – Goneril, Regan e Cordelia –, deserdando a última por não ser adorado por ela, sua preferida. Abrindo mão do dever de governar, Lear mantém seu séquito e pretende desfrutar das benesses do poder sem , mas sem arcar com a responsabilidade doe um governante. Imaginar um rei que tomasse essa atitude era assustador para o público da época de Shakespeare. E, à sua maneira, nos dias de hoje. Já imaginou viver em um país onde o governante quer apenas desfrutar do poder, delegando seus deveres a outros? 

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Ricardo II, em edição para Kindle
(Divulgação/Reprodução)

Ricardo II

A peça, um drama histórico, conta a história do rei que lhe dá título. Tirânico, Ricardo II era, ainda, um rei dos tempos medievais, em que a Coroa se confundia com a divindade. A figura real emulava a figura de Deus. Ao ser deposto, Ricardo II vive um confronto profundo consigo mesmo, obrigado, pela primeira vez, a ver-se como humano. Com a deposição do rei, a peça, uma das mais poéticas de Shakespeare, faz uma crítica à tirania e à irresponsabilidade de governantes que se consideram divinos – o que ocorre ainda hoje, de outras formas. A obra mostra também o surgimento de um novo mundo, aquele dos reis que devem ter responsabilidade para com o povo, base da monarquia constitucional britânica.  

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Observações importantes:  

1 – As leituras que trazemos aqui são apenas uma das leituras possíveis sobre as peças shakesperianas, muito ricas e vastamente estudadas. 

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2 – Não esqueça, antes de ler, de verificar a pessoa responsável pela tradução. Opte por aquelas da crítica teatral Barbara Heliodora (1923-2015), a maior especialista e tradutora de Shakespeare no Brasil. Heliodora, aliás, pediu à mãe, a poeta Ana Amélia Carneiro de Mendonça (1896-1971), uma tradução de Hamlet para usar em sala de aula. Esta tradução é considerada, ainda, hoje, a melhor da obra do príncipe dinamarquês. O escritor Millôr Fernandes (1923-2012) é responsável também por importantes versões em português. As edições recentes da obra do Bardo lançadas no Brasil pela Penguin-Companhia também são muito boas. Boa leitura 😉 

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