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Conheça a história da Família Real britânica até o reinado de Elizabeth II

A soberana esteve à frente do trono do Reino Unido por sete décadas; agora, Charles III assume o trono. Entenda os principais acontecimentos do período

Por Danilo Thomaz
Atualizado em 5 Maio 2023, 18h06 - Publicado em 8 set 2022, 14h41
A rainha Elizabeth II e o príncipe Philip em cerimônia oficial
 (Divulgação/Reprodução)
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A Rainha Elizabeth II foi a monarca mais longeva da história do Reino Unido. Ela estava desde 1953 à frente da Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte e dos países da Commonwealth, formados por parte das antigas colônias inglesas, como a Austrália e o Canadá. Em seu lugar, assumiu o trono Charles III.

Conheça um pouco da história da família real e, de quebra, do Reino Unido.

O despertar de uma era

A monarquia britânica data de um período anterior à constituição da Inglaterra. Precisamente no Reino de Wessex, unido a partir do século 9 após a derrota para os vikings. Os monarcas que governaram o país durante mais de 4 séculos – exceto por breves períodos de domínio da coroa dinamarquesa – pertenciam à casa (ou família) Saxônica.

A Carta Magna

Em 1215, é publicada a Carta Magna. Trata-se do primeiro texto constitucional do Ocidente. A sua publicação – como, aliás, ocorre até hoje em alguns países – não significou sua efetivação. A Carta foi criada como uma forma de os chamados “barões rebeldes” terem maior controle sobre o poder real, à época nas mãos de João (1199-1216), que sucedeu a Ricardo Coração-de-Leão (1189-1199), cujo legado de guerras havia traumatizado os ingleses.

A carta teve sua versão definitiva publicada somente dez anos depois, em 1225. Todavia, é um documento importante por estabelecer um novo tipo de relação entre o Rei – ainda um poder divino – e a nobreza, que, por sua vez, representava (formalmente) seus vassalos. Mas, sobretudo, por ser um marco do Direito inglês na defesa das garantias individuais dos “homens livres” (os nobres).

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Criação do Parlamento

Um conselho para o rei já existia antes mesmo da formação da Inglaterra. Era o chamado Witan, que perdurou por cerca de 400 anos, até o século 11. Com a Carta Magna, é lançada também a pedra fundamental do que viria a ser o Parlamento inglês, símbolo tão forte da política britânica quanto a própria monarquia. Chamado originalmente de o “Grande Conselho” (Great Council), tinha como objetivo orientar o rei em seu governo.

Conforme sua evolução ainda no século 14, estabeleceu-se a divisão de duas casas, que permanece até hoje. A Casa dos Comuns (House of Commons), composta pela burguesia e representantes dos condados. A Casa dos Lordes (House of Lords), composta por membros da nobreza do clero. Em 1707, o Parlamento da Inglaterra e o Parlamento da Escócia se unem, formalizando a união entre os dois reinos – que eram governados pela mesma Coroa desde 1603, com a ascensão de James 1º (Inglaterra) e James 4º (Escócia) – e criando o Reino da Grã-Bretanha.

Os membros da Casa dos Comuns são eleitos pelo voto direto. O líder do partido mais votado torna-se o primeiro-ministro. Os membros da Casa dos Lordes são eleitos de maneira indireta, além de ter membros permanentes e alguns hereditários remanescentes – até 1999 os assentos eram transmitidos diretamente a sucessores de membros que faleciam.

Independência da Igreja Católica – e da Europa

No reinado de Henrique 8º (1509-47) ocorre um evento determinante para a história da Inglaterra: o rompimento da Coroa britânica com a Igreja Católica e a fundação da Igreja Anglicana, que tem como líder o rei ou a rainha. A reforma – que leva a uma série de conflitos sangrentos no país – marca também a independência da Inglaterra com relação à Europa, o que se tornaria uma característica do país, que nunca se integrou completamente à União Europeia e, em 2016, decidiu deixá-la no referendo do “Brexit”.

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Aquele foi um período de ascensão para o país, marcado pela colonização de outras regiões, o surgimento do idioma inglês moderno e, já no reinado de Elizabeth I (1558-1603), do teatro elisabetano.

Breve período parlamentar

Antes da criação da Grã-Bretanha, a Inglaterra teve um breve período republicano parlamentarista. A burguesia ascendente no reinado de Carlos I (1625-45) já tinha muito poder financeiro e era vista como uma ameaça à coroa e à nobreza, que viviam de renda. Para frear a ascensão dessa nova classe, a coroa e os nobres queriam uma participação em seus negócios, além de aumentar os impostos.

O acirramento dos conflitos da Inglaterra com a Escócia levou o rei a restaurar o Parlamento em 1640 e buscar o apoio financeiro da burguesia no combate. Esta novamente se opôs e, liderada por um de seus representantes, Oliver Cromwell (1599-1658), depôs a monarquia após uma guerra civil (que ficaria conhecida como a “Guerra Civil Inglesa”, “Revolução Inglesa” ou “Revolução Puritana”, posto que o puritanismo era a religião da burguesia).

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Os conflitos de Cromwell com o Parlamento e sua morte em 1658 levaram à restauração da coroa pela nobreza. Esse período foi tema da série Wolf Hall, disponível Amazon Prime. Ascendeu ao trono Carlos II (1630-85), que também tentou burlar o Parlamento. O conflito só teve fim com a ascensão de Maria II (1662-94) e seu marido, Guilherme III (1650-1702), ao trono inglês, em 1688. Neste ano, são lançadas as bases da constituição formal da monarquia parlamentar inglesa na Inglaterra.

Revolução Industrial e Era Vitoriana

Pode-se dizer que o século 19 é o período de ascensão e hegemonia da Grã-Bretanha no mundo. Com a primeira revolução industrial, iniciada no final do século 18, o país estabelece um novo modo de produção – o capitalismo. A sua força econômica – feita também às custas de muita exploração dos cidadãos do país e das colônias – dá base ao Império Britânico, que começaria a ruir após a Segunda Guerra, em 1945. Durante quase todo o século 19, a nação foi liderada pela Rainha Victoria, conhecida também por seu puritanismo, que marcou o período.

Os Windsor

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A família Windsor ascende ao trono inglês em 1917, durante a Primeira Guerra (1914-18). Com a abdicação do rei Eduardo 8º (1894-1972), que governou por menos de um ano em 1936, seu irmão, Jorge 6º (1895-1952) assume o trono. Em 1952, Elizabeth ascende, após a morte do pai. Em junho de 2022 a rainha comemorou 70 anos de reinado – que a fizeram superar a longevidade da rainha Victoria no trono. Foram anos marcados tanto pelo reposicionamento da Inglaterra na nova ordem mundial quanto da própria monarquia inglesa.

Com a ascensão dos Estados Unidos no pós-Guerra e o fim das colônias, chega ao fim o Império britânico, que, entretanto, mantém parte de sua influência geopolítica por meio da Commonwealth. O país que chegou a ser a maior economia do mundo perde não só sua liderança global, mas também sua posição no continente, sendo superado pela Alemanha e a França ao longo do século 20.

A partir da década de 1980, com as reformas liberais de Margaret Thatcher (1925-2013), o Estado social inglês começa também a retroceder, ampliando a desigualdade. No século 21, o Reino Unido enfrenta duas grandes crises: o plebiscito de separação da Escócia, em 2014, e o Brexit, dois anos depois.

A monarquia e a mídia

O reinado de Elizabeth II também foi marcado por um reposicionamento midiático da monarquia: a sua coroação é a primeira da História a ser transmitida pela TV. A partir disso e de maneira controlada, os membros da família aproximaram-se aos poucos do mundo midiático ao longo da segunda metade do século 20.

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É verdade que nem sempre com bons resultados. Houve uma série de escândalos – ao menos do ponto de vista da moral da coroa – envolvendo seus familiares. É bom lembrar que a história dos Windsor é marcada, já em seu segundo reinado, pela abdicação do Rei para casar-se com uma divorciada americana. Nos anos 1950, a princesa Margaret, irmã de Elizabeth, apaixona-se por um fotógrafo e dependeu de autorização da rainha para concretizar o casamento – após anos de relação secreta.

Nos anos 1980, tem início a crise que marca a dinastia: os problemas no casamento de Charles e Diane Spencer. Lady Di acabaria morrendo em 1997 – já divorciada do príncipe herdeiro, que agora deverá assumir o trono. A resistência da rainha em colocar a bandeira em meio mastro – sinal de luto – gerou a maior crise da monarquia desde a abdicação de seu tio.

Ao longo do século 21, porém, a monarquia inglesa recuperaria sua popularidade com o casamento de William com Kate Middleton – a primeira não-aristocrata a casar-se com um membro da família real (o primeiro foi o marido da princesa Margaret) – e, depois, de Harry e Meghan. A paz, contudo, não foi duradoura. A saída do casal da família real em 2021 e a revelação do cotidiano palaciano opressivo, o que incluiu episódios de racismo e que foi denunciado por Meghan em uma entrevista à Oprah, renderam novos capítulos (e devem render novas temporadas de The Crown). Em junho de 2022, já muito debilitada, a rainha foi a grande homenageada em decorrência do Jubileu de Platina, evento que celebrou 70 anos de uma vida dedicada à monarquia.

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