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Enem 2020: análise e destaques de cada disciplina do primeiro dia

Professores comentam as provas de Ciências Humanas e Linguagens, aplicadas no último domingo (17)

Por Juliana Morales, Wender Starlles
Atualizado em 24 jan 2021, 17h46 - Publicado em 18 jan 2021, 10h35
Enem 2020
 (Juliana Vitória/Guia do Estudante)
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O primeiro dia do Enem 2020 teve a maior taxa de abstenção da história, com 51,5% de ausentes, mais que o dobro do ano anterior. Além de pontos de aglomeração, alguns participantes foram barrados por superlotação. Apesar da situação atípica, em relação ao conteúdo, a prova não trouxe novidades ou grandes surpresas. 

De acordo com Daniel Perry, diretor do Curso Anglo, como esperado, o Enem seguiu o padrão consolidado há mais de uma década, com uma prova contextualizada, que dialoga com o cotidiano dos candidatos. “As questões envolviam bastante análise de texto, de imagens, de mapas, uma boa diversidade de fontes, abordagem de temas sociais e temas da contemporaneidade”.

Daniel Cecílio, diretor do Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante, afirma que, em geral, a prova foi de nível médio, com algumas questões eventualmente mais fáceis e outras mais difíceis, semelhante ao ano anterior. Ele destaca que a pandemia não foi cobrada diretamente na prova, mas que, por outro lado, a redação tratou de um tema atual e importante, a saúde mental. “Nossa banca de redação considerou um dos melhores temas e das melhores coletâneas dos últimos anos”, conta. 

Confira a análise e comentários de cada disciplina cobrada no primeiro dia.  

Ciências Humanas

Ciências Humanas foi considerada pelos professores uma prova bem equilibrada, com diversidade de fontes e autores clássicos. Foi analítica e manteve o padrão de anos anteriores.

História 

De acordo com Perry, a prova de História apresentou alternativas claras, com um nível de dificuldade médio. Ele destaca que caiu poucos conteúdos do século 20, fugindo dos padrões de anos anteriores, em que o Enem sempre valorizava bastante temas da contemporaneidade. Ficou de fora, por exemplo, Era Vargas e ditadura, assuntos tradicionais de outras edições.

Outra surpresa foi o predomínio de História Geral, com oito questões. “Não é comum, já que nos últimos dez anos de exame, História do Brasil se destacava”, diz Perry. 

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Rodrigo Miranda, da Oficina do Estudante, chama atenção para “os ‘silêncios’ encontrados na prova”, se referindo aos temas polêmicos de 2020 que ficaram de fora da prova. 

Monty Hinke, professor de História da Plataforma AZ de Aprendizagem, conta que temas importantes como exploração de mão de obra na época do imperialismo, Revolução Francesa e Antiguidade Clássica foram cobrados, mas, assim como Perry, relata a falta do século 20 no exame. 

Geografia

Geografia também teve nível de dificuldade médio, com uma boa diversidade de assuntos. Apareceu espaço agrário (desperdício hídrico, reforma agrária, relação do camponês com o campo) e urbanização no Brasil (periferização das grandes cidades, ausência do Estado no planejamento urbano). Também teve questões sobre geopolítica dos EUA pós 2011, Toyotismo, cartografia, estrutura geológica e poluição do rio Tietê. “Não houve gráficos e tabelas, o que é um pouco dissonante em relação a edições anteriores do exame”, observa Perry

Rodrigo Magalhães, professor da AZ, aponta que o fato de século 20 ficar de fora da prova de História acabou dificultando a aparição de questões com interdisciplinaridade entre História e Geografia. “Esse período tem muitos temas transversais às duas disciplinas, como Guerra Fria e industrialização brasileira”, explica. 

Filosofia

Filosofia foi uma prova considerada mais difícil do que a edição anterior, por conta de alguns temas cobrados que eram inusuais, como Maurice Merleau-Ponty, que nem costuma ser trabalhado no Ensino Médio, Martin Heidegger e Solipsismo”, analisa Perry.

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Sociologia

As questões de Sociologia foram abrangentes: foi cobrado Antropologia, movimentos sociais e questões de gênero, ciência política e economia política. Segundo Perry, “não exigiu dos estudantes detalhes, mas uma boa interpretação de texto”. Ele diz que faltaram  imagens, charges e mapas na prova, que só apresentou textos.

Linguagens 

De modo geral, a prova de Linguagens exigiu do aluno conhecimentos sobre temas sociais da atualidade. Pode-se destacar, por exemplo, questões que abordam a igualdade de gênero. “Não é a primeira vez que esse assunto cai no Enem. Nesse ano, ele apareceu nas seguintes questões: uma que falava sobre o assédio nas ruas, e outra que fazia o comparativo dos salários de Neymar e Marta”, afirma Perry. 

Segundo o diretor do Curso Anglo, a disciplina considerada a mais difícil foi a de inglês. “Ela fugiu um pouco do nível dos outros anos, porque apresentava um vocabulário mais rebuscado”, comenta. 

Inglês

Segundo Chico Fransa, professor de inglês da Oficina do Estudante, a prova não estava complicada. Porém, exigiu dos estudantes um vocabulário mais aprimorado em questões que traziam poemas. “Elas eram um pouco mais desafiadoras para alguns alunos. Não eram palavras difíceis, mas poderiam ser ‘novas’ para eles. Tinha que ter um trabalho maior de interpretação”, observa.  

Nas questões, foram abordados temas atuais como apropriação cultural, estereotipagem de culturas, misoginia, violência contra a mulher e situação dos refugiados na África. “Ela trouxe bastante material externo. Isso permitiu que os alunos pudessem ler e interpretar, usando o inglês como ferramenta”, comenta Fransa.

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Espanhol

A prova chamou atenção pela facilidade dos conteúdos. Mas o professor de espanhol, Hernan Bastidas Veloso, da Oficina do Estudante, alerta que havia uma questão ambígua sobre proprietários de liberdade que poderia confundir os estudantes. “Em relação às outras questões, uma abordava o sentimento do conflito de identidades, outra falava sobre autoconhecimento. A questão que cita ‘Pablo Pueblo’ conta um pouco da exploração dos trabalhadores que têm os seus sonhos e desejos de progredir”, explica.

Português

Em relação à prova do ano passado, a disciplina de português se destacou por abordar temas atuais. “Ela foi menos conservadora. Trouxe questões de gênero e uso de pronomes”, conta Marcelo Maluf, professor de literatura da Oficina do Estudante. Um ponto que chamou bastante a atenção do docente, foi a quantidade de textos com canções e músicas populares. “Tinha menos literatura ‘pura’, mas acredito que isso foi por conta da pandemia”, comenta.  

Para Fábio Blanc, professor de gramática da Oficina do Estudante, a prova soube explorar os diversos gêneros textuais. “Dentro disso, um fator importante que podemos destacar foi a questão que mostrou textos jurídicos, como decreto e petição”, conta. 

Em relação aos temas, ele também concorda que a prova foi “ousada”. “O papel da mulher foi mais explorado, além de outras questões sociais. Mas continuamos vendo a presença das funções da linguagem, análise dos gêneros textuais, questões de arte e literatura focadas no modernismo”, analisa.  

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