“A Vida Não É Útil”: resumo e análise da obra de Ailton Krenak
Entenda as principais críticas feitas pelo ativista nesse livro que está na lista do vestibular da Unicamp

Há muitas décadas, o ativista e escritor Ailton Krenak é referência quando o assunto são povos indígenas e, sobretudo, meio ambiente. Desde 2022, estudantes de todo o país ganharam a chance de ter contato com o pensamento do autor: um de seus livros, “A Vida Não é Útil“, foi incluído na lista de obras obrigatórias da Unicamp, o vestibular da Universidade Estadual de Campinas.
Pensando nisso, o GUIA DO ESTUDANTE conversou com Rafaela Defendi, professora de Redação do Poliedro Colégio Campinas. para entender as principais temáticas da obra e como ela aparece nas provas. Já adiantamos: não são só os vestibulandos que podem se beneficiar dessa leitura
A estrutura de “A Vida não é Útil”
A obra “A vida não é útil” reúne cinco ensaios:
- “Não se come dinheiro”;
- “Sonhos para adiar o fim do mundo”;
- “A máquina de fazer coisas”;
- “O amanhã não está à venda”;
- e o próprio “A vida não é útil”.
Todos eles foram produzidos a partir de reflexões do escritor em lives e entrevistas realizadas entre 2019 e 2020, nas quais ele refletiu sobre o modo de vida capitalista e ocidental, e também sobre os efeitos da pandemia de Covid-19 na sociedade.
Também é interessante notar que Krenak recorre a diversas referências ao longo dos ensaios, que vão desde autores clássicos como Albert Camus e Michel Foucault até os cantores Gilberto Gil e Caetano Veloso, articulando reflexões a partir de diferentes tipos textuais.
Os temas e críticas do livro
Segundo a professora Rafaela Defendi, o livro propõe reflexões críticas sobre o sistema econômico capitalista, que atrai a sociedade para o consumismo e enxerga o mundo, inclusive a natureza, como mercadoria. Trata, então, dos impactos desse modo de vida: destruição do meio ambiente, limitação dos desejos e sonhos, genocídio dos povos tradicionais.
Além disso, o livro aborda a ideia excludente de humanidade que, além de separar os humanos da natureza, divide-os entre aqueles que promovem o “progresso” destruindo o meio ambiente e intensificando as desigualdades (“a casta da humanidade”) e aqueles que estão fora dessa casta (“sub-humanidade”, “toda vida que deliberadamente largamos à margem do caminho”).
A obra propõe ainda a importância de se “suspender o céu”, ou seja, ampliar os horizontes, ver além. Assim, mostra que, enquanto no pensamento ocidental só se enxerga o capitalismo como organizador da existência, existem outros mundos que estão sendo vividos e fortalecidos pelos integrantes da chamada “sub-humanidade” (povos indígenas, quilombolas e caiçaras), mas que são vistos como inferiores e menos desenvolvidos.
“Nesse sentido, o livro é um convite para ampliarmos nossa visão para esses outros modos de existência”, explica Rafaela.
As noções de progresso e desenvolvimento também são postas em cheque no decorrer do livro, já que para Krenak elas contribuem para “uma visão utilitarista que trata a natureza como recurso a ser explorado e a tecnologia como ferramenta que ajudará nessa exploração”, completa a professora.
Um outro conceito-chave apresentado pelo autor é chamado mito da sustentabilidade, que questiona a ideia de que é possível mudar o mundo individualmente, com atos mais responsáveis sobre o que se consome, e rebate também ideias reformistas que têm pouco efeito prático na missão de salvar o planeta, já que não agem na raiz dos problemas.
O autor lembra que quem comanda e governa a sociedade são as grandes corporações, responsáveis por explorar o meio ambiente, e afirma que “estamos a tal ponto dopados por essa realidade nefasta de consumo e entretenimento que nos desconectamos do organismo vivo da Terra”.
“Se uma parte de nós acha que pode colonizar outro planeta, significa que ainda não aprenderam nada com a experiência aqui na Terra. Eu me pergunto quantas Terras essa gente precisa consumir até entender que está no caminho errado”.
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Por fazer uma análise crítica ao modo de vida ocidental que encara o mundo como uma mercadoria, promovendo o consumismo, a destruição ambiental e a intensificação das desigualdades, a professora de redação do Poliedro afirma que o livro pode ser usado pelos vestibulandos em propostas que, de modo geral, exigem análise crítica desse modo de vida.
“As ideias da obra podem ser usadas não apenas em redações que tratam especificamente de problemas ambientais, como a crise climática, mas também naquelas que exijam análise de características da sociedade ocidental – produtivismo, consumismo, poder político das grandes corporações – assim como suas consequências – intensificação das desigualdades sociais, inferiorização e destruição dos modos de vida dos povos tradicionais, alienação para o modelo de sucesso individual e de progresso social”, explica Rafaela.
Quem é Ailton Krenak?
Ailton Krenak é um escritor indígena e ativista ambiental, que nasceu na região do vale do rio Doce, território Krenak, região muito prejudicada pela mineração em Minas Gerais. Um dos grandes pensadores contemporâneos, ele ingressou recentemente na Academia Brasileira de Letras (ABL), sendo o primeiro indígena eleito.
Também participou ativamente da Constituinte e, com muita luta garantiu na Constituição de 1988 o “Capítulo dos índios”, importante marco no reconhecimento dos povos originários como sujeitos de direitos.
Com suas obras, o escritor tem promovido reflexões relevantes sobre o modo de vida ocidental capitalista em um contexto de intensificação dos eventos climáticos extremos e da pobreza. Apresentando outros modos de vida e de pensamento, como os dos indígenas, o autor promove reflexões críticas importantes sobre o que se entende como “progresso” nas sociedades ocidentais.
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