Nesta manhã (16), a notícia de que Donald Trump consultou seus assessores sobre a possibilidade de comprar a Groenlândia, território autônomo da Dinamarca, gerou indignação das autoridades do país europeu. Alguns deles se referiram às intenções do presidente americano como “uma piada” e até o ex-embaixador dos EUA na Dinamarca, Rufus Gifford, afirmou que a ideia é uma completa catástrofe.
Apesar dos ânimos exaltados, essa não seria a primeira vez que os Estados Unidos comprariam um território dinamarquês. Uma negociação semelhante aconteceu em 1917, quando as Índias Ocidentais Dinamarquesas foram vendidas por US$ 25 milhões para os americanos. Agora elas são território autônomo americano e se chama Ilhas Virgens Americanas.
Hoje, a Groenlândia, que tem a maior parte do seu território congelado e apenas 56 mil habitantes concentrados na costa, se mantém com a ajuda financeira da Dinamarca, que oferece um subsídio anual de cerca de US$ 500 milhões. A ajuda começou a vir a partir de 2014, quando a China também entrou na disputa e ameaçava reivindicar parte da Groenlândia.
Existem hoje mais de cem áreas autônomas no mundo, sejam elas cidades, ilhas ou países inteiros.
Autônomos?
Devido à própria constituição política, Rússia e Espanha são os países com mais territórios autônomos. Quanto mais territórios, mais dor de cabeça. Alguns dos movimentos separatistas mais fortes do mundo, por exemplo, são espanhóis. O ETA, uma organização nacionalista basca armada, realizou diversos atentados em nome da separação do País Basco até 2018, quando se dissolveu.
A Catalunha também é um território em constante conflito político com Madri. Em 2017 o Parlamento Catalão chegou a fazer uma declaração unilateral de independência, que não teve reconhecimento internacional e fez com que o Senado da Espanha suspendesse a autonomia da região.
Já na Rússia, uma das regiões de maior conflito é a Crimeia, que desde a Segunda Guerra Mundial tem seu território em disputa pela Ucrânia. Stálin, em uma tentativa de apagamento de identidade da população, chegou a deportar 200 mil ucranianos para a Ásia Central e para a Sibéria para repovoar a região com russos. Em 1997 parecia que o problema seria solucionado, com um acordo em que a Rússia reconhecia as fronteiras ucranianas. Em 2014, no entanto, os acordos foram anulados e a Rússia anexou a Crimeia. O maior interesse russo na região é a extração de gás natural e sua posição estratégica no Mar Negro, mas a tomada do território à força rendeu diversas sanções internacionais ao país.
Outros conflitos atuais
Outros países do mundo passam ou passaram recentemente por momentos políticos decisivos em relação aos seus territórios. Em maio deste ano, a Escócia propôs pela segunda vez um referendo de independência do Reino Unido, que deve ser lançado até 2021. O último foi realizado em 2014 e o resultado foi pela permanência do vínculo com o país, do qual também fazem parte Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. Nesse momento, uma das principais razões para o desejo de independência é o Brexit, já que a Escócia não quer a saída da União Europeia.
Na China, diversas manifestações estouraram nas últimas semanas em torno da mudança de uma lei que permitiria exportar pessoas de Hong Kong para a China continental, para que elas pudessem ser julgadas lá por possíveis crimes cometidos em outros países. Apesar do estopim para os protestos ter sido esse, a questão de fundo é a autonomia de Hong Kong, que goza atualmente de certa independência política e econômica em relação à China e teme que leis como essa coloquem políticos, jornalistas e ativistas da região sob a mira do Partido Comunista Chinês.