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“Dark”: entenda os conceitos de Física e Filosofia da série

Sucesso da Netflix, obra é complexa e reúne diversos elementos científicos para amarrar o enredo

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 3 ago 2020, 16h36 - Publicado em 31 jul 2020, 18h52

Desaparecimentos, viagens no tempo, energia nuclear, árvores genealógicas confusas e intrincadas, suspense e muita ficção científica. Ou simplesmente “aquela série alemã difícil de entender”. 

Dark, lançada em 2017, terminou este mês após três temporadas como uma das séries de língua não inglesa mais vistas e mais bem avaliadas da Netflix. A produção conta a história dos moradores de uma pequena cidade na Alemanha, Winden, que se envolvem em uma série de situações estranhas, recheadas de elementos que podem ser explicados por meio da Física e da Filosofia. Conversamos com Carlos Nehemy Marmo, doutor em Engenharia pela USP e professor de Física, e separamos oito conceitos usados na série para você entender melhor a trama de Dark. Cuidado porque, a partir de agora, são muitos spoilers!

Teoria da Relatividade Geral

“A diferença entre passado, presente e futuro é somente uma persistente ilusão”. Essa frase do físico alemão Albert Einstein que dá início ao primeiro episódio da série já dá uma pista do que encontraremos pelo caminho.

A dilatação do tempo e a contração do espaço fazem parte da Teoria da Relatividade Restrita de Einstein, publicada em 1905. Ela recebe esse nome porque é restrita a referenciais inerciais (em repouso ou MRU – Movimento Retilíneo Uniforme). 

Já a Teoria da Relatividade Geral, de 1915, entende e generaliza os conceitos da Relatividade Restrita aos referenciais acelerados, relacionando-os com a gravidade. É aí que aparecem brechas para as teorias ou especulações sobre buracos de minhoca e dobras espaciais, conceitos muito trabalhados na série.

Ponte de Einstein-Rosen 

(Netflix/Divulgação)

Os personagens de Dark conseguem viajar no tempo ao entrar em uma caverna na floresta. Lá, eles encontram um buraco de minhoca. Também conhecido por Ponte de Einstein-Rosen, é uma dobra no espaço-tempo, que forma um túnel que conecta dois lugares e tempos diferentes, em uma espécie de atalho. A hipótese surgiu após os estudos dos físicos Albert Einstein e Nathan Rosen, em 1935.

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A série se aproveita da base desse conceito para justificar como Jonas e outros personagens conseguem se deslocar para diferentes épocas. 

Eterno retorno 

Outro conceito explorado pela série é o “eterno retorno”, de Friedrich Nietzsche. Segundo o filósofo alemão, o tempo é uma estrutura circular. Dessa forma, os eventos que formam a nossa existência se repetem infinitas vezes em eternos ciclos.

Essa teoria também é lembrada na série pelo uroboros, conceito representado por um símbolo de uma cobra engolindo o próprio rabo, encontrado na caverna.

Seguindo esse raciocínio, é inevitável esbarrar na crítica de Nietzsche ao livre-arbítrio. Afinal, nessa teoria, todos os fatos já estão atrelados em uma causalidade que impede mudanças. Mesmo uma suposta viagem ao passado já estaria prevista e desencadearia os mesmos acontecimentos encarados posteriormente. 

No momento em que Ulrich decide voltar no tempo para salvar seu filho Mikkel e tenta também impedir a morte de seu irmão Mads, ele desencadeia uma série de eventos que culminam exatamente nesses dois problemas.

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Paradoxo de Bootstrap

De todos os conceitos mencionados, o Paradoxo de Bootstrap é o mais explorado por DarkEsse nome é uma referência à expressão pulling yourself up by your bootstraps, que pode ser traduzida por “puxar-se a si mesmo pela alças de suas botas”. A ideia é a de que algo possa dar origem a si mesmo, desencadeando um ciclo sem fim. Em primeiro lugar, é preciso considerar a possibilidade de uma viagem ao passado. A partir disso, algo passa a existir sem nunca ter sido criado.

Um exemplo desse paradoxo na série é o livro Uma Jornada Através do Tempo, de H.G. Tannhaus. O jovem Tannhaus recebe de Claudia Tiedemann uma cópia do seu livro pronto sem tê-lo escrito ainda. Ele decide então publicá-lo e, anos depois, uma outra versão de Claudia recebe uma cópia da obra e volta ao passado para entregá-lo ao relojoeiro mais novo. Nesse ciclo, a existência do livro é um fato, mas não se sabe a origem dele. Ele só consegue publicar a obra porque a recebeu de Claudia, que por sua vez, só tem acesso ao livro porque ele o publicou.

A história de Charlotte entra na mesma lógica. A personagem não sabe quem são seus pais e tem duas filhas: Franziska e Elisabeth. Quando Elisabeth cresce, tem uma filha chamada Charlotte, que é levada para o passado e cresce sem saber quem são seus pais. A própria existência de ambas é condicionada a esse paradoxo, de forma que Elisabeth é mãe e filha de Charlotte e é impossível saber qual das duas veio primeiro. 

Esse paradoxo elimina a ideia da linearidade do tempo. Os eventos deixam de ser apenas consequências de fatos anteriores, mas se tornam as causas. Em vez de apenas o futuro sofrer a influência do passado, ele passa a influenciá-lo também.

Gato de Schrödinger

O físico austríaco Erwin Schrödinger criou um experimento mental no qual explica o conceito de superposição quântica. No experimento, um gato é preso dentro uma caixa com um contador Geiger, usado para medir níveis de radiação, um martelo e uma cápsula de veneno. Se ocorrer um decaimento radioativo, o contador aciona o martelo, quebrando a cápsula e matando o animal.

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Enquanto a caixa estiver fechada, todos os estados de decaimento são possíveis, ou seja, não sabemos se o veneno foi liberado. Dessa forma, é impossível determinar o que aconteceu com o gato e as possibilidades de ele estar vivo ou morto existem ao mesmo tempo.  

“Seria o equivalente a uma moeda ser lançada dentro da caixa. Enquanto a caixa está fechada, existe 50% de probabilidade de ela ser cara e 50% de ser coroa, ela é cara e coroa ao mesmo tempo”, explica o professor Carlos Nehemy Marmo.

E como isso foi aplicado na série? Para explicar a existência de Adam mesmo com a morte de Jonas. O personagem mais novo é resgatado por Martha segundos antes do Apocalipse, mas alguns episódios depois ele é morto pela versão mais velha da garota. Mas o Jonas que se tornaria Adam era outro: é o que se esconde no sótão depois que Bartosz impede Martha de salvar Jonas. Ou seja, duas versões da mesma pessoa coexistem.

Tábua de Esmeralda

(Reprodução/Reprodução)

Um dos personagens mais misteriosos da série é Noah. Durante boa parte de Dark, é difícil descobrir se ele tem algum parentesco com outros personagens, sua origem e suas verdadeiras intenções. Mas a tatuagem em suas costas dá algumas dicas sobre suas crenças: a Tábua de Esmeralda.

Nela está um texto atribuído a Hermes Trismegisto. Na filosofia do hermetismo, seus defensores afirmam que todos os planos da existência estão interligados. Vale destacar que a Tábua de Esmeralda contém os dizeres na entrada das passagens na caverna: Sic Mundus Creatus Est, que significa “assim o mundo foi criado”. 

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Triquetra

(Divulgação/Divulgação)

Sabe aquele símbolo que relaciona os três anos principais da série em uma figura e aparece em diversos momentos? Ele é conhecido em diferentes culturas e religiões por nomes distintos. Triquetra, nó da trindade, círculos da existência, entre outros. A ideia é a de que três acontecimentos são interdependentes e se completam. As pontas também podem ser relacionadas a vida, morte e renascimento, ou ainda passado, presente e futuro.

No caso da série, os anos de 2019, 1986 e 1953 estão entrelaçados, sendo as causas e consequências deles mesmos. 

Partícula de Deus 

Na segunda temporada da série, conhecemos uma massa escura que é apresentada por Jonas como “Partícula de Deus”. Ela funciona como uma espécie de portal e é mais uma possibilidade para se viajar no tempo. Para isso, é necessário estabilizar as partículas subatômicas da massa.

Essa ideia da série faz referência a uma partícula elementar estudada pelo físico britânico Peter Higgs, na década de 1960. Conhecida como bóson de Higgs, ela consiste em uma partícula subatômica que, segundo os cientistas, fornece massa a partículas elementares, ou seja, aquelas que já não podem ser divididas em unidades menores. 

O nome popular “Partícula de Deus” surgiu apenas por uma mudança no título de um livro sobre o tema. A obra de Lion Lederman se chamaria The Goddamn Particle (“A Partícula Maldita”). O problema é que o editor não gostou da palavra damn (maldita) em destaque e publicou a obra como The God Particle (A Partícula de Deus). Mas vale ressaltar que esse nome é criticado por estudiosos por associá-la a algo divino.

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