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Enem: “Via o noticiário e pensava num tema”, diz autor de redação nota mil

Confira as dicas e a redação do carioca Gabriel Lopes, nota 1.000 no Enem 2019

Por Juliana Morales
Atualizado em 9 mar 2021, 16h18 - Publicado em 17 jan 2020, 17h45

Os resultados individuais do Enem foram divulgados na manhã desta sexta-feira (17). Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o exame de 2019 teve 53 notas 1.000 na redação do enem. Na edição anterior, 55 redações contabilizaram a nota máxima. 

O carioca Gabriel Lopes, 20 anos, foi um dos estudantes que comemoraram a excelência na redação. Depois do terminar o Ensino Médio em uma escola estadual na Zona Norte do Rio de Janeiro. “Todo candidato sonha em tirar o 1000, claro, mas eu também sabia da dificuldade, apesar de todo esforço”. Agora, o estudante, aluno do cursinho pH, sonha com uma vaga em Medicina, pelo Sisu, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Gabriel conta que a sua principal estratégia de preparação para a redação foi analisar textos exemplares que receberam nota máxima nas edições anteriores. “É uma boa maneira de conhecer novas palavras e conectivos para usar na dissertação. Eu observava métodos que funcionaram para construir uma boa argumentação e adaptava para criar um texto com a minha identidade de escrita.”

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Sua preparação também incluía montar mapas mentais, selecionando temas possíveis e organizando linhas de argumentação que poderia seguir. “Eu escrevia mais parágrafos soltos do que textos completos”, lembra.

O estudante foi além das aulas de redação e das oficinas de produção textual e passou a ver tudo como um possível tema de redação. Quando assistia a jornais na TV, por exemplo, pensava nos possíveis temas que poderiam ser gerados a partir das notícias. Durante as aulas de História, Filosofia e Sociologia, buscava guardar alusões históricas e pensamentos de teóricos citados para embasar suas argumentações. “Pode parecer meio neurótico, mas é algo que me fazia pensar sobre as possibilidades de propostas para não ser muito surpreendido com o tema e nem ficar sem saber como abordá-lo”.

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No dia da prova

Após ler a proposta “Democratização do acesso ao cinema no Brasil” e os textos de apoio, Gabriel fez o que vinha treinando: antes de começar a colocar no papel, criou o texto inteiro mentalmente. “A primeira coisa que eu pensei foram duas linhas para seguir a minha argumentação, uma para cada parágrafo. Questionei: ‘será que essas linhas são boas?’ ‘será que eu vou conseguir fazer uma proposta de intervenção?’. Quando eu estava satisfeito com as duas linhas, aí pensei em como ia estruturar melhor o texto e então comecei a escrever”, conta.

Para sustentar seus argumentos e depois propor uma intervenção, como sugere o Enem, Gabriel usou o filme Na Quebrada, de Fernando Grostein Andrade, sobre histórias reais de jovens da periferia de São Paulo, que utilizaram aulas de Cinema para alcançar uma nova perspectiva de vida. Além disso, ele citou os teóricos Theodor W. Adorno e Max Horkheim, abordando sobre monetização da arte e indústria cultural, e Vera Maria Candau, para falar sobre o sistema educacional do Brasil e como o aluno se relaciona com a cultura e a Arte na escola.

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Confira a redação nota 1.000 de Gabriel:

Democratização do acesso ao cinema no Brasil

O longa-metragem nacional “Na Quebrada” revela histórias reais de jovens da periferia de São Paulo, os quais, inseridos em um cenário de violência e pobreza, encontram no cinema uma nova perspectiva de vida. Na narrativa, evidencia-se o papel transformador da cultura por intermédio do Instituto Criar, que promove o desenvolvimento pessoal, social e profissional dos alunos por meio da sétima arte. Apresentando-se como um retrato social, tal obra, contudo, ainda representa a história de parte minoritária da população, haja vista o deficitário e excludente acesso ao cinema no Brasil, sobretudo às classes menos favorecidas. Todavia, para que haja uma reversão do quadro, faz-se necessário analisar as causas corporativas e educacionais que contribuem para a continuidade da problemática em território nacional.

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Deve-se destacar, primeiramente, o distanciamento entre as periferias e as áreas de consumo de arte. Acerca disso, os filósofos Adorno e Horkheimer, em seus estudos sobre a “Indústria Cultural”, afirmaram que a arte, na era moderna, tornou-se objeto industrial feito para ser comercializado, tendo finalidades prioritariamente lucrativas. Sob esse prisma, empresas fornecedoras de filmes concentram sua atuação nas grandes metrópoles urbanas, regiões onde prevalece a população de maior poder aquisitivo, que se mostra mais disposta a pagar um maior valor pelas exibições. Essa prática, no entanto, fomenta uma tendência segregatória que afasta o cinema das camadas menos abastadas, contribuindo para a dificuldade na democratização do acesso a essa forma de expressão e de identidade cultural no Brasil.

Ademais, uma análise dos métodos da educação nacional é necessária. Nesse sentido, observa-se uma insuficiência de conteúdos relativos à aproximação do indivíduo com a cultura desde os primeiros anos escolares, fruto de uma educação tecnicista e pouco voltada para a formação cidadã do aluno. Dessa forma, com aulas voltadas para memorização teórica, o sistema educacional vigente pouco estimula o contato do estudante com as diversas formas de expressão cultural e artística, como o cinema, negligenciando, também, o seu potencial didático, notável pela sua inerente natureza estimulante. Tal cenário reforça a ideia da teórica Vera Maria Candau, que afirma que o sistema educacional atual está preso nos moldes do século XIX e não oferece propostas significativas para as inquietudes hodiernas. Assim, com a carência de um ensino que desperte o interesse dos alunos pelo cinema, a escola contribui para um afastamento desses indivíduos em relação ao cinema, o que constitui um entrave para que eles, durante a vida, tornem-se espectadores ativos das produções cinematográficas brasileiras e internacionais.

É evidente, portanto, que a dificuldade na democratização do acesso ao cinema no Brasil é agravada por causas corporativas e educacionais. Logo, é necessário que a Secretaria Especial de Cultura do Ministério da Cidadania torne tais obras mais alcançáveis ao corpo social. Para isso, ela deve estabelecer parcerias público-privadas com empresas exibidoras de filmes, beneficiando com isenções fiscais aquelas que provarem, por meio de relatórios semestrais, a expansão de seus serviços a preços populares para regiões fora dos centros urbanos, de forma que, com maior oferta a um maior número de pessoas, os indivíduos possam efetivar o seu uso para o lazer e para o seu engrandecimento cultural. Paralelamente, o Ministério da Educação deve levar o tema às escolas públicas e privadas. Isso deve ocorrer por meio da substituição de parte da carga teórica da Base Nacional Comum Curricular por projetos interdisciplinares que envolvam exibição de filmes condizentes com a prática pedagógica e visitas aos cinemas da região da escola, para que se desperte o interesse do aluno pelo tema ao mesmo tempo em que se desenvolve sua consciência cultural e cidadã. Nesse contexto, poder-se-á expandir a ação transformadora da sétima arte retratada em “Na Quebrada”, criando um legado duradouro de acesso à cultura e de desenvolvimento social em território nacional.

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Além de todas táticas e estratégias, o estudante fala da importância de trabalhar o psicológico para o dia da prova. “Eu acredito que metade do desempenho em uma prova como o Enem, que é pura pressão, é estar calmo. E isso é uma construção, cuidando da própria mente: terapia e meditação, por exemplo”, aconselha.

 

 

 

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Redação
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