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Covid-19: entenda a falsa polêmica sobre o ‘tratamento precoce’

Anvisa afirma que não existe tratamento precoce efetivo contra a covid-19 até o momento

Por Redação
Atualizado em 21 jan 2021, 15h57 - Publicado em 20 jan 2021, 09h12
Pílulas e comprimidos
Pílulas e comprimidos (Pinterest/Reprodução)
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Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), até o momento não há um “tratamento precoce” eficiente para a covid-19.  Mesmo com o início da vacinação no Brasil, as notícias relacionadas ao suposto tratamento precoce” continuam  ganhando espaço em decorrência da defesa pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. Nesta quinta-feira (21), o Conselho Federal de Medicina solicitou ao Ministério da Saúde que retirasse do ar aplicativo TrateCOV.

Segundo o conselho, o app, além de não garantir o sigilo dos dados, ainda valida remédios que não têm reconhecimento científico internacional, incentiva a automedicação e interfere na autonomia dos médicos para definir a conduta clínica. O Ministério respondeu que a plataforma não foi lançada oficialmente e funcionava como um simulador.

“Até o momento, não contamos com alternativa terapêutica aprovada e disponível para prevenir ou tratar a doença causada pelo novo coronavírus”, declarou a diretora da Anvisa e relatora dos processos, Meiruze Freitas

No entanto, o presidente Bolsonaro voltou a defender o suposto tratamento precoce:  “Não desistam do tratamento precoce, não desistam. A vacina é para quem não pegou ainda”, disse para apoiadores na saída do Palácio da Alvorada na segunda-feira (18). O vídeo foi divulgado pelo canal oficial do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) no Telegram. Não fica claro na gravação, contudo, se o presidente diz “desistam” ou “desisto”.

Questionado sobre o assunto, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, negou em coletiva de imprensa que a pasta recomende qualquer remédio para a covid-19. Segundo Pazuello, o ministério orienta os pacientes a buscar “atendimento precoce” e não “tratamento precoce”. 

“Temos divulgado desde junho o atendimento precoce. Não confundam atendimento precoce com que remédio tomar. Não coloquem isso errado. Nós incentivamos e orientamos que a pessoa doente procure imediatamente um médico. Que o médico faça o diagnóstico. Esse é o atendimento precoce. Que remédios vai prescrever, isso é foro íntimo do médico com seu paciente. O ministério não tem protocolos com isso, não é missão do ministério definir protocolo”, disse. “Atendimento é uma coisa, tratamento é outra. Como leigos, às vezes falamos o nome errado, mas temos que saber a diferença”. 

No entanto, uma publicação do dia 12 de janeiro no Twitter do Ministério da Saúde pede que o tratamento precoce seja solicitado por quem apresentar sintomas da doença. Dias depois, segundo o G1, o Twitter colocou uma marca no post apontando que houve “a publicação de informações enganosas e potencialmente prejudiciais relacionadas à covid-19”.

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Na coletiva de segunda-feira, Pazuello negou ainda que o Ministério da Saúde tenha protocolos de remédios contra a covid-19. Desde maio passado, porém, a pasta tem orientações que recomendam o uso de cloroquina e azitromicina, inclusive em casos leves da doença. Um protocolo atualizado de agosto de 2020 mantém a orientação. 

Além disso, segundo o jornal Folha de S. Paulo, o Ministério da Saúde teria pressionado as autoridades de Manaus, por meio de ofício, a adotar cloroquina e ivermectina, em um suposto tratamento precoce contra a doença, em meio à nova onda de covid-19 que tomou a cidade.

Afinal, o que seria esse “tratamento precoce” contra covid-19?

O chamado “tratamento precoce”, ou “kit covid”, é uma combinação de medicamentos que inclui hidroxicloroquina, cloroquina e azitromicina e é disponibilizada pelo Ministério da Saúde para tratar a covid. Atualmente, a cloroquina e a hidroxicloroquina são substâncias usadas para o tratamento de doenças como malária e lúpus.

Essas substâncias, no entanto, já foram testadas em laboratórios e em diversos estudos clínicos, e pesquisadores de diferentes países não comprovaram a eficácia desses medicamentos contra a covid. Um desses estudos foi liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em mais de 30 países e apontou a ineficiência do uso da hidroxicloroquina, remdesivir e outras duas substâncias

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Além de não funcionar contra o coronavírus, a cloroquina e a hidroxicloroquina trazem também riscos à saúde por conta dos seus efeitos colaterais. A ivermectina – usada para o tratamento de infecções por parasitas e sem eficácia comprovada contra a covid – também é defendida por Bolsonaro nesse “tratamento precoce”.

Outro estudo da Universidade de Melbourne, na Austrália, constatou que, para que o medicamento fosse efetivo em um paciente de covid-19, a dose necessária seria 17 vezes maior do que a máxima diária permitida. Na prática, isso tornaria a ivermectina um veneno para o corpo humano

Entidades, como a OMS, a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), portanto, afirmam que, por ora, não há comprovação científica de que uma medicação possa prevenir a covid ou evitar que o quadro do paciente se agrave, caso o remédio seja usado no início dos sintomas.

Pandemia de covid-19
Pandemia de covid-19 se espalhou por todos os continentes. (Twitter/Reprodução)

Quem defende o uso do “tratamento precoce”?

Em março de 2020, a notícia de que a cloroquina parecia ser um tratamento eficaz contra a nova doença se espalhou pelo mundo e foi vista como esperança. Essa conclusão era baseada em um estudo feito por uma equipe francesa, liderada pelo médico Didier Raoult – que logo se tornou figura central entre os que defendem o uso do fármaco. Esse estudo foi usado, inclusive, pelo presidente Donald Trump para promover a substância, ação que depois foi seguida por Jair Bolsonaro e outras autoridades do mundo.

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No entanto, desde a publicação do estudo, vários cientistas começaram a notar falhas graves na pesquisa e alertar sobre os resultados. Mas só agora, depois de quase um ano de pandemia, Raoult admitiu que seu estudo estava equivocado e que seus críticos estavam certos.

De acordo com a Superinteressante, em uma carta publicada no International Journal of Antimicrobial Agents, a equipe consertou os dados e admitiu que não houve comprovação de “100% de cura”, como divulgaram anteriormente. “A necessidade de oxigenoterapia, transferências para UTI e óbitos não teve diferenças significativas entre os pacientes que receberam hidroxicloroquina (HCQ), com ou sem azitromicina (AZ), e nos pacientes do controle, que receberam apenas o tratamento padrão”, escrevem, segundo a revista. 

O infectologista Esper Kallas, em sua coluna na Folha de S. Paulo intitulada Tratamento precoce da Covid-19?, explica que a covid colocou à prova a “medicina baseada em evidências”, que se ancora no princípio de que tomadas de decisão no cuidado ao paciente sejam pautadas em trabalhos éticos e com metodologia rigorosa.

“O início da pandemia foi marcado por incertezas. Médicos testemunharam, em todas as partes do mundo, a agonia dos pacientes. Sem saber como aliviar o sofrimento ou reverter as consequências da infecção, diferentes alternativas foram consideradas e estudadas”, diz. 

Segundo o infectologista, é compreensível que, no início, fossem adotados medicamentos sem benefício comprovado, porque muitos pacientes estavam morrendo. Mas ele destaca que há meses tem-se dados suficientes para abandonar essas medicações e já está mais do que na hora de se ater às recomendações baseadas em evidências. “Qualquer ato contrário deveria ser creditado como irresponsabilidade”, conclui. 

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Por que é difícil achar a cura para um novo vírus?

Essa demora para encontrar uma cura a cada nova pandemia em que um vírus ataca seres humanos pode ser explicada pela estrutura e características dos vírus. 

Diferente das bactérias que são unicelulares e combatidas com antibióticos, os vírus precisam invadir outras células para conseguirem se multiplicar e sobreviverem no corpo humano. “Na grande maioria das vezes os vírus são mais difíceis de serem identificados e a pesquisa laboratorial é mais complexa”, explica Cláudio Gonsalez, infectologista do Hospital Emílio Ribas (SP) ao portal UOL. E também não existe um antídoto certo contra as infecções virais. 

Outro fator importante é que os vírus têm mais facilidade para mutações genéticas, pois guardam informações tanto no seu DNA quanto no RNA. Como a diversidade genética é maior dificulta a criação de um tratamento específico.    

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