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O que o caso de Manaus diz sobre a volta às aulas no Brasil

Com a retomada das aulas, 342 professores testaram positivo na capital do Amazonas. Veja o plano de outros estados para a reabertura

Por Taís Ilhéu
4 set 2020, 11h05

No último dia 22, a Fiocruz alertou em uma nota elaborada pelo seu Observatório Covid-19 que, definitivamente, ainda não é hora de uma volta às aulas presenciais no Brasil. Utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE, os pesquisadores da fundação estimaram que o retorno às escolas em nível nacional pode contaminar mais de nove milhões de brasileiros do chamado grupo de risco. 

Isso porque o ambiente escolar oferece risco não apenas às crianças e adolescentes, mas também ao corpo de funcionários e aos familiares que convivem com toda a comunidade escolar. Para ter a dimensão do risco, a Fiocruz listou quantos brasileiros com doenças crônicas ou idosos moram com menores entre 3 e 17 anos (ou seja, em idade escolar) em cada estado brasileiro. São Paulo lidera a lista, com 2.085.949 pessoas que se enquadram nesse grupo, seguido por Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. 

O Amazonas aparece na segunda metade do ranking, em 17º lugar, com 161.118 adultos em potencial risco. Mas a experiência em Manaus no início de agosto mostrou que, se a volta às aulas em um estado de menor risco já resultou em alta de contaminações, ainda estamos longe do patamar seguro para retornar às escolas em todo o país.

A contaminação de professores em Manaus 

No dia 10 de agosto,106.294 mil alunos do Ensino Médio da rede estadual de ensino do Amazonas começaram uma experiência de retorno às aulas na capital. Menos de duas semanas depois, o governo resolveu testar 1.064 professores que estavam trabalhando nessas escolas e o resultado fez com que o governador Wilson Lima (PSC) desistisse do plano de retorno do Ensino Fundamental: quase um terço desses professores (342) testaram positivo para o novo coronavírus. 

Os sindicatos de professores do estado já vinham protestando desde que o retorno das aulas foi anunciado, e agora denunciam também o descumprimento de protocolos por parte da Secretaria de Educação ,que não está afastando os professores contaminados pelo tempo recomendado de 14 dias. “Isso é jogar com a vida das pessoas”, afirmou Helma Sampaio, presidente Asprom Sindical, em entrevista ao El País. Além disso, nem todas as escolas contam com os insumos previstos para um retorno seguro às salas de aula, como tapete para higienização e até mesmo papel higiênico nos banheiros. 

Ainda em maio, o Amazonas foi um dos primeiros estados brasileiros a vivenciar o colapso do sistema de saúde por causa da pandemia e imagens de hospitais superlotados e centenas de valas sendo abertas tomaram as redes sociais e os noticiários. A justificativa do governo para reabrir as escolas foi de que o estado já havia passado pelo pico da doença e verificava uma queda no número de casos, informação contestada pelo pesquisador Jersem Orellana, da Fiocruz. Segundo ele, o número de casos na capital Manaus cresceu 73% justamente na semana anterior à de reabertura das escolas. 

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Alerta para o restante do país

Mesmo com o exemplo de Manaus, diversos estados seguem com planos para retornar às aulas –  mesmo aqueles que lideram o ranking elaborado pela Fiocruz. O estado de São Paulo colocou como previsão para o retorno o dia 7 de outubro, mas afirma que a decisão será confirmada até o dia 20 deste mês. O estado ultrapassou, na segunda-feira (1º), o total de mortes registrado na Espanha, um dos primeiros epicentros da pandemia. Por outro lado, também registra nas últimas semanas uma tendência que fica entre a queda e a estabilidade na média diária de mortes – que ainda é alta, acima de 200 por dia. 

Já o Rio de Janeiro, que contabiliza 16.065 óbitos e 223.631 casos confirmados, só registrou tendência de estabilidade na média móvel de óbitos nos últimos dois dias. Antes disso, o estado atravessava 12 dias de aumento de mortes diárias e, mesmo diante desse cenário arriscado, o governo já havia anunciado que manteria a volta às aulas na rede estadual para 5 de outubro. O Sindicato estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) briga na justiça para que os professores não sejam obrigados a retornar às escolas. 

Em Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, que figuram junto com SP e RJ na lista da Fiocruz de estados que mais seriam afetados pela volta às aulas, a tendência nas últimas semanas é de queda (no caso de MG e BA) ou estabilidade (em PE) na média móvel de mortes por Covid-19, mas em nenhum deles há previsão de reabertura das escolas. O governador da Bahia, no entanto, deu uma entrevista ao Correio 24h dizendo que, depois da retomada, os estudantes terão aulas aos sábados e ficarão sem as férias de dezembro, na tentativa de finalizar os conteúdos previstos no calendário letivo. 

Reabertura das escolas no mundo

As últimas semanas marcaram a retomada das aulas na maior parte dos países na Europa, que iniciaram o novo ano letivo. Alguns já haviam feito tentativas de reabertura no semestre passado, como a Dinamarca, que liderou esse movimento já em abril. Por lá, o retorno não significou um aumento no número de casos no longo prazo, que até agora se mantém estável. 

O mesmo, infelizmente, não aconteceu na França. Logo após a reabertura, em 11 de maio, algumas escolas precisaram fechar novamente depois que 70 professores se contaminaram. Ainda assim, uma parte delas manteve-se aberta até as férias escolares. O Reino Unido e a Coreia do Sul também são exemplos de países que tiveram que repensar a abertura no primeiro semestre deste ano depois de casos de contaminação. 

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Agora, a retomada acontece com mais planejamento, mas em um cenário de preocupação com o aumento de uma segunda onda de contaminação nesses países. Na França, por exemplo, o primeiro-ministro Jean Castex chegou a declarar em uma coletiva de imprensa que “a epidemia está voltando a se espalhar por todo país”. No dia 28 de agosto, a França registrou 7.379 novas infecções, um recorde desde 31 de março. O governo afirmou que, nas regiões em que a situação está mais grave, as aulas continuarão suspensas por enquanto. 

Já na Alemanha, que reabriu as escolas no meio do mês passado, Berlim registrou casos de coronavírus em 41 das 825 escolas do Ensino Fundamental e Médio. Em 37 delas, alguns professores e alunos foram afastados. 

Apesar disso, um levantamento divulgado hoje pelo jornal O Estado de S. Paulo trouxe informações de uma outra perspectiva. Realizada pela consultoria Vozes da Educação sob encomenda de fundações ligadas ao setor, como a Lehmann e o Itaú Social, a pesquisa apontou que a reabertura das escolas em alguns desses países em meses anteriores não significou, necessariamente, um aumento nacional na taxa de transmissão do novo coronavírus

Segundo o estudo, a adoção de medidas simples de segurança como uso de máscaras e lavagem frequente das mãos foi crucial. Além disso, países mais bem avaliados no Pisa, avaliação mundial de educação, como Cingapura, Alemanha, Nova Zelândia e China apresentaram melhores resultados na prevenção ao coronavírus nas escolas. 

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A justificativa para retomada das aulas nos países europeus levanta questões que também têm tirado o sono de especialistas e gestores da área de educação no Brasil: o abandono escolar, a discrepância no aprendizado entre ricos e pobres e até mesmo a saúde mental dos estudantes. Representantes do terceiro setor que encomendaram a pesquisa do Vozes da Educação defenderam na reportagem do Estadão uma análise menos polarizada e chegaram a defender a reabertura com as devidas medidas de segurança: “shoppings, restaurantes, bares estão abertos. Por que não as escolas, em lugares em que a contaminação está em declínio?”, pontuou Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.

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