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Síndrome da gaiola: medo e ansiedade impedem jovens de saírem de casa

Embora o isolamento seja fundamental para conter a pandemia, alguns comportamentos são sinais de alerta para esse quadro que atinge crianças e adolescentes

Por Julia Di Spagna
21 Maio 2021, 11h30

“Queria que tudo voltasse ao normal”, “quero minha vida de volta”, “que saudade da rotina pré-pandemia”. Dificilmente você não ouviu alguém repetindo essas frases no último ano – ou já não falou para si mesmo inúmeras vezes. E esse sentimento é natural, afinal, a covid-19 impôs uma realidade dura que restringe as pessoas. Mas apesar das “regras” serem iguais para todos – isolamento social, uso de máscaras, etc. – cada grupo sentiu as mudanças de uma determinada forma. 

Os mais jovens, por exemplo, tiveram de abrir mão dos encontros com amigos, a rotina da escola, as festas e as viagens. Sem poderem sair de casa, todas as experiências que eram vividas da porta para fora passaram para o ambiente online. O problema é que, hoje, muitos adolescentes ficam extremamente ansiosos com a ideia de voltarem às aulas presenciais por medo de se contaminarem. Eles optam pelo não retorno às escolas, apesar das instituições – principalmente as particulares – terem adotado protocolos rígidos contra a covid-19.

Esse comportamento foi nomeado por especialistas como “síndrome da gaiola”, fazendo uma associação às aves que crescem em cativeiros e quando a gaiola é aberta e têm a oportunidade de voar, continuam lá dentro. 

Alguns deles já apresentam transtornos psicológicos, como depressão ou TOC (transtorno obsessivo compulsivo), que motivam ainda mais a sua permanência em casa. A decisão traduz o sentimento de que estão protegidos lá, seguros, e a percepção é a de que nada vai acontecer com eles ou seus familiares, por ser um ambiente controlado. 

Segundo Priscila Gil Neto, psicóloga e orientadora pedagógica do Colégio Oficina do Estudante, existem relatos de adolescentes que foram a lugares públicos depois de muito tempo em casa e se sentiram mal, tendo crises de pânico. “A grande consequência é no aspecto emocional. O espaço da escola é onde eles se conectam com os grupos. E, adolescente é grupo! Estão numa fase da vida em que exploram suas relações, aprendem a lidar com os conflitos, amadurecem e aumentam seu nível de autonomia”, diz. 

Saúde mental e pandemia

A psicóloga também ressalta que aqueles que já tinham algum problema relacionado a timidez ou ansiedade, mais do que os outros, preferem ficar em casa e não encarar essa “situação de perigo”. E considerando os efeitos da pandemia a longo prazo na saúde mental dos jovens, essa questão fica ainda mais delicada. 

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No Brasil, é cada vez maior o número de adolescentes que estão apresentando transtornos de ansiedade. Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria da USP, realizada com quase 7 mil crianças e adolescentes com idade entre 5 e 17 anos, aponta que 26% deles apresentam sintomas clínicos de ansiedade e depressão.

Papel da escola e da família

A especialista explica que o momento requer extrema parceria da escola com pais e responsáveis. A família deve funcionar como um termômetro, atentando-se a comportamentos que os jovens passaram a ter com o isolamento social. Se identificarem alguma mudança, é preciso procurar auxílio da escola. E, dependendo do caso, de um profissional da área da saúde. 

“Os pais conhecem seus filhos, sabem o que esperar ou não deles, e quais são atitudes passageiras. Porque comportamentos diferentes, que se estendem podem estar associados a algum sofrimento. A escola, em contrapartida, precisa ser parceira, dar apoio e mostrar ao aluno que seu espaço físico pode ser explorado, inclusive motivando seus estudos.” 

A grande questão para as escolas é que, na maioria das vezes, o estudante apresenta um bom desempenho pedagógico com o ensino remoto, não demonstrando grandes problemas. Por isso, a família faz a diferença nesse momento. Além disso, o adolescente precisa estar ciente de que pode ser ajudado, se não estiver bem, de modo a “sair da gaiola”, voltando a praticar atividades que antes lhe davam prazer e ele abriu mão.

Pós-pandemia

Embora o principal papel da escola na vida dos adolescentes seja o pedagógico, ela possui outros, pois é na escola que eles vivenciam as experiências sociais de grupo, conflitos, amadurecem e ficam mais autônomos. Com o isolamento, muitos deixaram de vivenciar essas experiências. Dependendo da personalidade do jovem, o impacto será grande e os resquícios irão além do término da pandemia. 

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“O isolamento gera grandes marcas emocionais. Por isso, é importante trazer o adolescente de volta para atividades cotidianas de forma saudável.”

Como superar o medo?

A psicóloga deu algumas orientações para ajudar quem está enfrentando essa situação. Mas, ela ressalta que cada caso tem suas particularidades e, por isso, é fundamental buscar ajuda de um profissional. 

Não se force a simplesmente voltar a fazer tudo como antes
Respeitar seus limites é o ponto chave. Tente avançar um degrau por dia até conseguir retomar as atividades.

Mantenha contato com os amigos mesmo que virtualmente
A ausência das experiências presenciais já causa um impacto muito grande no cotidiano das pessoas. Afastar-se dos amigos e evitá-los pode complicar ainda mais a situação. Então, escolha a plataforma que te deixa mais à vontade, seja por vídeo, áudio ou texto, e tente manter suas amizades por perto. 

Aceite a ajuda da família e da escola
Muitas vezes, as pessoas próximas são as primeiras a notar as mudanças de comportamento. Por isso, ouvir e confiar na sua rede de apoio, pode fazer a diferença antes do quadro se agravar.

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Embora o isolamento seja fundamental para conter a pandemia, alguns comportamentos são sinais de alerta para esse quadro que atinge crianças e adolescentes

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