A sequência “Fuga das Galinhas: A Ameaça Dos Nuggets” chegou ao catálogo da Netflix no último sábado (15). O lançamento, mais de 20 anos após a estreia do primeiro longa, era aguardado por críticos de cinema e fãs – afinal, a primeira produção foi um sucesso de crítica e público. Para se ter um ideia, a animação em stop motion impulsionou a criação da categoria de “Melhor Animação” no Oscar no início dos anos 2000. Um dos motivos para tanto sucesso é a forma como a obra parte de uma estética infantil para tratar temas sérios, agradando crianças e adultos.
O primeiro longa conta a história de galinhas que são exploradas em uma granja e tentam criar um plano de fuga para conquistarem a liberdade. A líder do grupo é a galinha Ginger, que mantém todas unidas e está sempre em busca de novas ideias para que elas saiam do controle dos Tweedys, donos do galinheiro que tentam lucrar com a produção de ovos. Os planos das galinhas sempre fracassam até que, um dia, um galo chamado Rocky chega à granja e traz esperanças sobre um possível escape.
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Já no segundo filme, podemos ver as mesmas personagens curtindo a vida em uma ilha isolada do mundo dos humanos, onde podem viver livres e em harmonia. A novidade é que Ginger e Rocky têm uma filha, Molly, que se sente presa e sonha em explorar o mundo para além desse local. O problema começa quando a personagem se encanta e decide ir para um espaço que se vende como o paraíso para as galinhas e onde há a produção massiva de nuggets.
Todo esse enredo, em ambos os filmes, acaba esbarrando em questões de relevância social. Seja uma crítica mais direta sobre um problema que a sociedade enfrenta atualmente, uma reflexão sobre algo que impacta o mundo atual ou mesmo conceitos mais complexos explorados pela Sociologia, o filme vai muito além do que contar a história de galinhas revolucionárias.
E por que isso tudo é válido para um estudante? É que as bancas de vestibulares adoram candidatos que demonstram um repertório bem construído e uma bagagem cultural mais ampla na prova de redação. Para se dar bem nessa etapa, não é necessário citar uma teoria complexa do sociólogo Zygmunt Bauman ou algum conceito criado pelo filósofo Michel Foucault. É possível fazer boas relações entre o tema e filmes mais populares – e “Fuga das Galinhas” é um grande exemplo disso.
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Separamos alguns grandes temas presentes nos dois longas e que podem ser explorados como repertório na redação. Confira abaixo:
“Um clássico feminista”
A relevância das personagens femininas tanto na primeira quanto na segunda animação é um dos destaques. Na sequência lançada recentemente, inclusive, essa chegou a ser uma prioridade para a equipe de produção.
Durante uma entrevista na estreia mundial do longa, o roteirista John O’Farrell contou que a ideia inicial era focar em uma história de pai e filho, centrada em Rocky e seu filho. “Todas as mulheres da Aardman [Animations] falaram ‘o que vocês estão fazendo? [A Fuga das Galinhas] é um clássico feminista!’”, disse O’Farrell. “Ginger é uma heroína feminista, um ícone, então dissemos ‘vocês estão certas, vamos fazer da sequência um filme sobre mãe e filha.’”
“O vilão também era um homem – na verdade, era um filme muito mais voltado para personagens masculinos. Trabalhamos nisso por um bom tempo. Havia muitas coisas boas ali, mas não parecia tão forte quanto o que acabou sendo, que é o próximo capítulo da história de Ginger. Como eu disse, queríamos fazer um filme sobre personagens femininas fortes, então essa foi a maior mudança”, disse o diretor Sam Fell.
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Luta de classes
Desde que foi lançado, o primeiro filme é rotulado por muitos como marxista, tornando-se até objeto de análise por estudiosos. Isso porque o enredo traz vários paralelos com as ideias de Karl Marx. Uma delas é a questão da luta de classes.
No caso do longa, as galinhas fariam parte da classe trabalhadora enquanto a burguesia seria composta pelos Tweedy, que as exploram. Essa relação é criticada pelo sociólogo que defende a tomada dos meios de produção pelos proletários, que é o que as galinhas tentam fazer durante a revolução no galinheiro.
Veganismo
Esse tema fica mais evidente em “Fuga das Galinhas: A Ameaça Dos Nuggets”. A obra faz uma clara crítica, por meio do humor, sobre a criação industrial de frangos e as empresas que se vendem com o discurso de que nelas as galinhas são bem tratadas antes de irem para o abate. O longa até explica alguns dos efeitos desse bom tratamento: quando uma ave entra em estado de estresse, os seus músculos tensionam e o tecido conjuntivo forma nós, o que ocasiona uma carne mais dura, seca e sem sabor.
O CEO da Sociedade Vegetariana do Reino Unido, Richard McIlwain, chegou a afirmar em uma entrevista ao jornal britânico The Guardian: “Quer tenham ou não a intenção de fazer uma história de moralidade vegana, a realidade é que isto é o que acontece nas granjas avícolas. Eles não estão inventando.”
O diretor do filme Sam Fell se tornou vegetariano durante as gravações do filme, mas disse que não quis pregar essa ideia nas pessoas. “Queremos que o filme seja envolvente e divertido e, principalmente, um ótimo passeio. Mas, sim, se você sair e pensar um pouco mais como uma galinha no final, então isso não é uma coisa ruim.”
Culto de Personalidade
Esse conceito pode ser definido como uma estratégia política, quando indivíduos em posição de poder são colocados em um pedestal e tem suas virtudes – reais e/ou supostas – exaltadas.
E isso ocorre de certa forma no primeiro filme da franquia, quando Rocky aparece e as galinhas ficam completamente encantadas com suas supostas habilidades e aventuras. Entretanto, ele só estava se aproveitando da ingenuidade e fragilidade delas enquanto as enganava com falsas promessas sobre a possibilidade de fuga da granja.
A substituição dos trabalhadores por máquinas
Ainda dentro da crítica às relações de trabalho, a troca da mão de obra especializada por máquinas em prol do aumento da produtividade e do lucro ganha destaque no primeiro filme.
Afinal, quando novos maquinários chegam à granja, as galinhas descobrem que a função que elas desempenham – botar ovos – já não é tão lucrativa quanto o que está por vir – a produção de recheio para tortas. Elas serão, então, substituídas.
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