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Enem na pandemia: voluntários oferecem ajuda nas redes sociais

Seja no Whatsapp, Instagram ou Facebook, as correntes em solidariedade aos estudantes que farão o Enem 2020 se multiplicaram nas últimas semanas

Por Taís Ilhéu
15 Maio 2020, 15h47
Voluntários
 (Getty Images/Reprodução)
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O cronograma de aulas, os simulados, o calendário de provas, as listas de exercícios. Tudo isso que compõe, para muita gente, a rotina de estudos em um ano de vestibular de repente virou de cabeça para baixo. As aulas agora são videochamadas, a mesa de casa virou local de estudos e a internet é o recurso vital para quem quer continuar se preparando para as provas no ano em que enfrentamos uma pandemia. Isso, é claro, para os que têm acesso a todos esses recursos. 

A falta de um lugar adequado para estudar, de equipamentos como um computador e, acima de tudo, a ausência ou má qualidade da internet em muitas casas brasileiras está colocando quem já vinha em pé de desigualdade nos grandes vestibulares ainda mais longe da linha de chegada. Enquanto isso, o Ministério da Educação mantém o calendário do Enem, hoje a maior porta de entrada para o Ensino Superior no país.

É diante desse cenário quase sem alternativas que centenas de mensagens começaram a pipocar na timeline das redes sociais nas últimas semanas. Universitários, educadores ou mesmo quem simplesmente já passou pela experiência do vestibular se oferecem para tirar dúvidas, corrigir uma redação ou mesmo propiciar um lugar de apoio e escuta para quem enfrenta a prova esse ano. 

Heloísa Iaconis, por exemplo, criou um grupo no Whatsapp que no momento conta com 20 estudantes. Lá, ela tira dúvidas sobre Língua Portuguesa, envia exercícios e debate assuntos importantes de atualidades que podem ser tema de redação nas provas. Heloísa é jornalista e passou duas vezes pela peneira de um dos vestibulares mais concorridos do Brasil: uma vez em 2014, quando entrou em Jornalismo, e outra este ano, quando ingressou no curso de Letras da USP

Ela, que já atuou como educadora por seis anos em um projeto de extensão na universidade, decidiu prestar esse auxílio por acreditar que a educação é um meio de diminuir as desigualdades sociais, e que esse é um direito que está sendo negado a muita gente no contexto da pandemia. Segundo ela, “preocupar-se com toda a classe estudantil, em especial a maioria que não tem acesso à educação de qualidade, é o mínimo que você pode fazer em um país como o nosso.”

Por fim, ela ressalta que o objetivo do grupo é também oferecer um espaço de acolhimento e apoio entre pessoas que passam pela mesma situação. Sua dica de ouro para o momento é justamente essa: “criem redes de apoio por quem está passando por isso também, subverta a lógica de competitividade dos vestibulares, porque ninguém aprende e ninguém constrói conhecimento sozinho”.

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“Quero retribuir a ajuda que eu tive”

Assim como Heloísa, Juliano Streb Domingues se diz privilegiado por ter estudado em uma boa escola particular que o preparou para os vestibulares, mas lembra também de todo o suporte que recebeu de grupos e pessoas no Facebook dispostas a compartilhar material e ajudar vestibulandos. Agora, ele quer retribuir a ajuda. Estudante do terceiro ano da licenciatura em Física na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, Juliano resolveu usar a experiência que acumulou dando aula em escolas, cursinhos e projetos de extensão para ajudar a distância quem tem dificuldades em Física e Matemática. 

Já que as condições de acesso à internet são muito diversas, ele primeiro conversa com os estudantes que vão procurá-lo para escolher a melhor forma de ajudar. “Há alunos que conseguem, por exemplo, fazer uma videochamada comigo, mas também há quem use apenas 4G e, para essas pessoas, proponho que usem o WhatsApp para se comunicar”, explica. “Por lá posso responder apenas por mensagem, áudios e fotos, o que não exige uma grande quantidade de dados.” Para aqueles que sequer tem acesso à internet, ele propõe ligações telefônicas. 

O estudante de Física conta ainda ter ficado muito feliz quando começaram a compartilhar sua mensagem e procurá-lo. O principal meio de divulgação da ajuda foram suas redes sociais, e ele chegou a postar a mensagem em grupos de ajuda aos vestibulandos, como o “Grupo onde tiramos dúvidas de alunos do ensino médio público”, criado há uma semana pela estudante Isabela Tavares. O grupo já tem quase 14 mil membros, entre voluntários e estudantes da rede pública.

Aluna de Engenharia Civil da Escola Politécnica da USP, Isabela também estudou em escolas públicas antes de ingressar na universidade. Ela conta que a ideia veio das correntes que estão circulando pelo Facebook oferecendo ajuda aos vestibulandos. “Eu pensei: e se a gente centralizasse isso em um grupo?”. 

A estudante lembra de algumas limitações das correntes publicadas em perfis pessoais que podem ser superadas no grupo, como a possibilidade de um ambiente menos intimidador e expositivo e a chance de atingir gente além de nossa “bolha” nas redes sociais. Isabela contou com o apoio de outros colegas da Escola Politécnica, que são também moderadores do grupo. O objetivo agora é organizar o grupo para que os estudantes se encontrem em meio aos muitos conteúdos que estão sendo publicados. 

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Enem 2020

Mesmo atravessando uma pandemia que exige o isolamento social e que impediu aulas em escolas de todo o país, o Ministério da Educação defende a manutenção do Enem 2020, marcado para os dias 1º e 8 de novembro. Além da imprevisibilidade da evolução da epidemia, que pode dificultar a realização uma prova presencial, que mobiliza milhões de estudantes, a decisão gera críticas por conta da situação de alunos de baixa renda e de escolas públicas, que não conseguem se adequar às aulas a distância. 

Só no estado de São Paulo, por exemplo, menos da metade dos alunos da rede estadual de ensino conseguiu acessar os conteúdos das aulas por meio de um aplicativo lançado pelo governo. Por isso, mesmo se voluntariando a prestar assistência a esses estudantes, tanto Heloísa quanto Juliano acreditam que a melhor alternativa seria o cancelamento da prova.

 “Sou completamente contra o não adiamento do Enem, por acreditar que isso pode gerar agravamento de problemas sociais em meio a uma pandemia”, defende a jornalista. Para Juliano, “mesmo que se alguns tenham condições de estudar, é preciso ter empatia e entender que muitas pessoas não estão conseguindo o mesmo nesse momento, por diversos fatores”. Entretanto, em um cenário de não adiamento, ele sugere que os vestibulandos mantenham a calma e não se cobrem tanto: “é um momento difícil e está tudo bem em não conseguir manter uma rotina de estudos tão rígida ou algo assim”, conclui. 

Juliano e Heloísa se colocam à disposição de estudantes que precisarem de ajuda nesse momento, seja por suas redes sociais ou via e-mail (julianostrebdomingues@gmail.com e helo.costa10@gmail.com). Isabela também ressalta que o grupo está aberto a todos os vestibulandos da rede pública – para acessá-lo clique aqui ou busque pelo nome “Grupo onde tiramos dúvidas de alunos do ensino médio público”.

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